Crítica: O Chamado 3
Quando as filmagens de O Chamado 3 foram confirmadas, lembro de pensar que pior que o segundo título não poderia ser. Ledo engano. O novo filme chegou provando que, sim, uma situação ruim sempre pode ficar pior. Não há absolutamente nenhum elemento neste terceiro longa que justifique sua produção ou associação com a refilmagem americana de Ring: O Chamado (do Japão), comandada por Gore Verbinski, em 2002.
Na trama, a jovem Julia (Matilda Lutz) fica intrigada quando seu namorado Holt (Ales Roe) se interessa em explorar uma história que envolve uma fita de vídeo amaldiçoada, que faz a pessoa que a assiste morrer em sete dias. Ela se sacrifica para salvar a vida dele e, ao fazer isso, tem uma descoberta terrível: há um “filme dentro do filme” que ninguém jamais viu antes.
É difícil dizer o que mais incomoda no conjunto da obra, mas vamos começar pela história. Assinado por David Loucka, Jacob Estes e Akiva Goldsman (vejam bem, foram necessários três profissionais), o roteiro decide abrir o longa com uma cena frenética em um avião que mais lembra os filmes Premonição que qualquer outro da franquia O Chamado. É como se os roteiristas tivessem ignorado completamente as características que fizeram do filme original um sucesso e tivessem decidido fazer algo totalmente diferente, o que, particularmente, considero um desrespeito aos fãs e ao original.
É irônico também que o roteiro escolha introduzir o casal de protagonistas com um diálogo em que Julia questiona o namorado sobre o porquê de a mulher ser sempre aquela que precisa de salvação nas grandes histórias. Digo isto porque o que vemos nos 90 minutos seguintes é justamente aquilo com o que ela parece muito se incomodar.
Enquanto busca entender as visões que têm, Julia frequentemente se apresenta como uma figura vulnerável e em situações de perigo, como a cena em que quase é atropelada por um caminhão e é puxada rapidamente pelo par romântico. Ou naquela em que se vê debaixo de um poste de energia prestes a cair, mas novamente é resgatada por Holt, cuja função na trama é claramente de servir de protetor e salvador da amada. Neste ponto, o roteiro é escrachado em sua contradição.
Mas o erro mais grave que o filme comete é subestimar seus espectadores. À medida que a história avança e Julia faz suas descobertas, ela diz em voz alta com todas as letras suas conclusões (até em cenas em que está sozinha), o que, além de desnecessário, indica que o roteiro não está preocupado em nos fazer pensar sobre o mistério que nos é apresentado.
Como se não bastasse o que já foi citado, o filme falha, também, naquilo que deveria ter de melhor: as características que compõem o gênero. A construção do suspense pelo diretor F. Javier Gutiérrez é tão previsível que a produção precisa apelar para sustos em momentos inapropriados, como no abrir de uma sombrinha e o latido de um cachorro.
Acompanhado de uma trilha sonora desconexa e que parece ter sido composta para um filme de aventura, o filme chega ao fim com um desfecho risível, gerando, por exemplo, gargalhadas na minha sessão de cinema, em cenas que certamente não pretendiam ser engraçadas.
A premissa de trazer Samara de volta em um contexto altamente digitalizado, com sua aparição se dando agora em telas de celular e outros aparelhos eletrônicos, era interessante. É uma pena que, além de não ter feito jus à sua proposta, o longa tenha também desconstruído a ambientação fria e crua do original, fazendo uso excessivo de uma paleta de cores que parecia ter sido retirada da fotografia de um filme de alien.
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Hoje vi um comentário sobre o pessoal que mimimi e blablabla do filme, O Chamado sempre dá dessas. Na dúvida do que realmente aconteceu, sua crítica me salvou. Principalmente porque não assisto esse gênero de filmes mas é nunca rsrs.
Hoje vi um comentário sobre o pessoal que mimimi e blablabla do filme, O Chamado sempre dá dessas. Na dúvida do que realmente aconteceu, sua crítica me salvou. Principalmente porque não assisto esse gênero de filmes mas é nunca rsrs.