Crítica: O Silêncio do Céu

Com uma produção brasileira, o filme “O Silêncio do Céu” foi inteiramente rodado no Uruguai, utilizando incentivos e equipes de filmagens uruguaios. Para aumentar a “salada” o longa é quase que totalmente falado no idioma castelhano, com atores locais e argentinos – com exceção de Carolina DieckmannPaula Cohen que são brasileiras – e ainda faz parte de um gênero pouquíssimo utilizado na cinematografia nacional, o thriller.

Com esta mistura inusitada, e sob o comando de um condutor relapso, o caldo poderia desandar. Mas o bom diretor Marco Dutra (de “Trabalhar Cansa” e “Quando Eu Era Vivo”) mantém as rédeas de seu projeto, baseado no livro “Era el Cielo” de Sergio Bizzio, e consegue criar logo de cara, uma atmosfera de puro terror, quando na cena de abertura, mostra sua personagem principal sendo violentada por dois homens. O som propositadamente abafado, expressa todo o sofrimento da moça, que mal consegue respirar diante de tanta brutalidade.

Minutos depois, ele volta à mesma cena, agora vista pelo ponto de vista do marido da vítima, que não consegue reagir à situação. A violência, mesmo que filmada sem exibicionismos ou apologias, choca mais uma vez, por realçar a sensação de surpresa e impotência diante de uma situação de extrema opressão.

Apesar do choque inicial, o que o filme quer discutir realmente é o isolamento na relação  do casal, já que nem a esposa Diana (Carolina Dieckmann, muito bem!), nem seu “fobíaco” marido Mario (Leonardo Sbaraglia, melhor ainda!), contam um para o outro o que sofreram e o que presenciaram, respectivamente, na tarde do crime.

O silêncio do casal, que paira como uma pedra gigante – literalmente – no ambiente da casa, não ampara nenhum dos dois e eles buscam a redenção da forma que lhes é apresentada. No caso dela, se embrenhando na rotina. No dele, tentando descobrir quem são os estupradores de sua esposa e puni-los.

Outro ponto a se destacar é a edição de som incrível, que transforma um simples barulho de motor de carro, em uma alegoria macabra. A cada momento que nos deparamos com a caminhonete amarela, é como se estivéssemos diante de uma máquina da morte.

“O Silêncio do Céu”, que poderia ser um filme um tanto bagunçado, por sua mistura de culturas, idiomas e sotaques, acaba por tornar esta combinação em seu trunfo – aliado á sua própria qualidade, já que ele foi premiado como melhor filme do festival de Gramado 2016 – pois torna a história um tanto mais universal e abre as portas do longa para o mundo. Não é a toa que a Netflix já comprou os direitos do filme e terá exclusividade na exibição do mesmo em sua plataforma de streaming em um futuro próximo.

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Leia  a crítica de outro filme que fala de violência contra mulheres: “Vidas Partidas”

*Agradecimento Especial: Vitrine Filmes

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