Cruel Summer (1ª Temporada)
Nada é o que parece
O ano é 1993, e Kate Wallis (Olivia Holt), uma adolescente bonita e popular, desaparece sem deixar vestígios. Um ano depois, Jeanette Turner (Chiara Aurelia), uma garota tímida e insegura, muda completamente de aparência e passa a viver a vida que Kate deixou para trás: começa a namorar Jamie Henson (Froy Gutierrez), que costumava namorava Kate e passa a andar com os amigos de Kate.
Até que Kate retorna e conta que passou todo esse tempo presa na casa de Martin Harris (Blake Lee), seu professor, e que em uma ocasião Jeanette esteve na casa e a viu, mas que não fez nada para ajudá-la.
Jeanette rapidamente vira a pessoa mais odiada nos Estados Unidos, embora continue dizendo que não sabia do que tinha acontecido com Kate e as duas meninas começam a debater suas versões, afetando a vida de todos na cidade.
Jeanette e Kate
Cruel Summer tem duas protagonistas: Jeanette e Kate e a série é narrada do ponto de vista das duas. As adolescentes também são retratadas de maneira oposta no início, e suas personalidades se migram com o tempo.
Kate é a garota mais popular do colégio, ela é bonita, se veste bem, tem o namorado perfeito e está sempre rodeada de amigas. Por outro lado, ela não é maldosa ou cruel e todas as vezes que conversa com Jeanette antes do seu sumiço, ela é simpática, mesmo que não seja calorosa. Já Janette é tímida, quieta e insegura. Em 1993, quando a série começa, ela usa roupas que não a favorecem, está sempre de cabelo preso e ainda está de aparelho.
Mais que isso, Jeanette obviamente inveja Kate e tenta se aproximar da garota ao máximo, e também demonstra interesse por Jamie, o namorado de Kate. Depois de um tempo fica claro que Jeanette quer ter a vida de Kate.
Quando Kate desaparece, Jeanette passa por uma série de mudanças: ela tira o aparelho, começa a usar o cabelo solto e muda completamente o seu estilo, ficando muito parecida com Kate e rapidamente chama a atenção de Jamie, com quem ela começa a namorar, por isso, quando Kate volta acusando a outra adolescente de ter se recusado a ajudá-la, a história parece plausível, uma vez que Jeanette tomou a vida de Kate.
Cruel Summer também trabalha com a ideia de que as duas meninas podem ser mocinhas, mas também vilãs em momentos diferentes, o que dá um ar realista à trama, já que na vida real ninguém é bonzinho ou malvado o tempo todo.
Mentiras, flashbacks e plot twists
A estrutura de Cruel Summer é clara e se repete durante toda a temporada: os episódios são divididos em três períodos diferentes – 1993, 1994, 1995 – e narrados dos pontos de vista tanto de Kate, quanto de Jeanette, dando ao telespectador uma espécie de versão de cada uma das meninas para os mesmos eventos.
A trama é de mistério, como a própria sinopse dá a entender, e por isso se baseia em muitas mentiras e uma série de plot twists. Assim, cabe ao telespectador descobrir quem mentiu quando e sobre o que.
O mistério inicial é o desaparecimento de Kate, que é desvendado logo no primeiro episódio, quando ela não só aparece com vida, como também conta que esteve presa na casa de Martin, mas a série logo nos joga outro mistério quando Kate diz que Jeanette sempre soube onde ela esteve e assim a história segue: sempre que um mistério é resolvido, outro aparece.
Pode parecer que isso deixa a série cansativa e meio óbvia, mas não é o que acontece, já que o suspense vai crescendo e cada segredo revelado prende o telespectador um pouco mais. Cruel Summer começa com o sumiço de Kate e é esse evento que desencadeia todos os outros acontecimentos, mas uma vez que essa parte da trama está resolvida, outras ainda mais interessantes surgem, fazendo com que seja impossível largar antes do último episódio.
Aspectos técnicos de Cruel Summer
A primeira coisa que deve se levar em conta é o fato de que Cruel Summer é uma série voltada para adolescentes e, por isso, aborda questões que dizem respeito a essa faixa etária. Os assuntos secundários da trama circulam ao redor de relacionamentos amorosos e de amizade, popularidade, aceitação, primeiras experiências e descobertas sexuais, mesmo que isso, às vezes, apareça nas tramas de outros personagens que não as duas protagonistas.
Mas o mistério que deve ser desvendado já é mais adulto, mesmo que a série doure a pílula em alguns momentos. Sabemos, por exemplo, que Kate foi sequestrada por um homem mais velho, a conclusão dos motivos dele e do que aconteceu com ela no meio tempo que ficou desaparecida é um tanto óbvia e a trama insinua um interesse de Martin pela adolescente – que é inclusive recíproco, mesmo que isso não queira dizer nada, afinal Kate é menor de idade e, segundo a lei, não pode consentir nenhum tipo de relação romântica ou sexual com um homem adulto -, mas não assistimos a nenhuma cena explícita e Kate não fala sobre isso.
Cruel Summer pega seu telespectador mesmo nas dúvidas que ela implanta na cabeça de quem a assiste e parte dessas dúvidas surgem quando não somos capazes de dizer qual das duas adolescentes fala a verdade. O fato delas, a princípio, se encaixarem em estereótipos muito clássicos de filmes adolescentes, nesse caso, ajuda. Kate é a garota bonita e popular, que, portanto, é cruel e malvada e Jeanette é a nerd tímida e, por isso, é boazinha, mas o que acontece quando assistimos cenas de Jeanette que deixam claro que ela não é tão boazinha assim? Ou cenas de Kate sendo gentil com outras pessoas na escola? E quando Kate aparece dizendo que Jeanette sabia onde ela estava e não a ajudou?
Cruel Summer se passa nos anos 1990, e tem leves referências a década, embora não mergulhe completamente nesse estilo. Os figurinos remetem aos anos 1990, mas ainda conversam com os dias de hoje, como se espelhassem muito mais a moda dos anos 2020, que vê um retorno das tendências da década, do que a década retratada. Funciona, embora algumas vezes a plateia esqueça que acompanha outra década, o que de certa forma, deixa a história atemporal.
A fotografia acompanha as mudanças da história: em 1993 e 1994, quando Kate desaparece e quando Jeanette toma o lugar dela respectivamente, a fotografia é clara e alegre e em 1995, quando Kate já retornou e Jeanette se tornou a garota mais odiada do país, tudo é escuro e deprimido, mais ou menos como as duas garotas se sentem depois de tudo que aconteceu.
A série também ganha muito com as boas interpretações. Olivia Holt e Chiara Aurelia se revezam bem no papel de mocinha e vilã, que é o que segura o interesse do telespectador na série, é quase difícil saber para quem torcer, já que a trama muda o tempo todo e os segredos aparecem a cada minuto. Além delas, o elenco de coadjuvantes também se sai bem, Harley Quinn Smith, que interpreta a melhor amiga de Jeanette, que depois vira melhor amiga de Kate, é quem mais se destaca.
Cruel Summer é uma série adolescente, mas que trata de assuntos um tanto quanto adultos, como machismo, abuso, pedofilia e a culpa de quem não age de frente a uma situação errada. Sua trama cheia de mistérios e reviravoltas é só mais um bônus, que prende o telespectador. Cruel Summer está disponível na Amazon Prime Video.