DC Liga dos Superpets
Ousadia e alegria!
Qualquer nerd que acompanha o mundo do cinema nos últimos anos deve revirar os olhos para qualquer tentativa da DC de trazer de volta a Liga da Justiça em algum filme. O trabalho da “Distinta Concorrência” fracassou tão miseravelmente no longa de 2017 de Zack Snyder que vários atores deixaram seus papéis e o Ezra Miller ficou completamente lelé e saiu quebrando tudo depois de interpretar o Flash. Por isso que “DC Liga dos Superpets” não deixa de ser ousado, mesmo sendo uma animação infantil despretensiosa.
E a ousadia deu certo: a animação de animaizinhos fofos é uma melhor retratação do grupo de super-heróis do que o filme live-action de seres humanos contestáveis.
Ousadia animada
A DC realmente tem uma tradição notável de boas animações. Curioso que no cinema a empresa parece mais tímida e acaba sempre recorrendo a um público alvo mais infantil – mas sem esquecer das piadas e dos enredos bem adultos. É uma combinação que deu muito certo no excelente Lego-Batman, um filme que é não-ironicamente uma das melhores representações do homem-morcego nos cinemas.
DC Liga dos Superpets traz o cachorro Krypto, um personagem que existe de verdade nos quadrinhos. E também tem Ace, o bat-cão, que já aparece em uma edição ou outra mas é um cachorro mais discreto, ninguém consegue mesmo imaginar o Bruce Wayne colocando comida na tigelinha de um bichinho, fazendo um afago, atirando gravetos para o cão pegar, ele não parece muito um dog-person, tá mais para bat-person mesmo.
Não só o filme usa de personagens tirados do quadrinho, mas também é uma história de “origem”, então eles se conhecem, se desencontram e se unem para deter um vilão maior em um único filme, de forma natural, muito melhor do que a DC jamais fez em qualquer outro filme de grupo de heróis. São muitos personagens do reino animal, mas eles não são desperdiçados e cada um tem seu momento e seu arco próprio de crescimento.
Alegrias da Meta-comédia
Sim, o roteiro é bem legal e bem redondinho. Acontece muita coisa, mas nunca fica cansativo. E ele é recheado de piadocas: são muitas mesmo; o que é bom, afinal nem todas funcionam. Talvez porque é um filme família que atira pra todos os públicos-alvos, com a difícil missão de agradar a criança mais nova, o adolescente revoltado, a irmãzinha, a mãe e o pai. Aos nerds que forem atraídos ao cinema pela perspectiva de só ver bonequinho voador dando soquinho, há diversas meta-piadas, tantas que até transbordam pelo balde da DC espirrando nos heróis da Marvel. Bota mais ousadia aí: tem piadas sobre heróis que perdem os tios repetidamente e outros que só precisam de um martelo para se tornarem imbatíveis.
Ainda bem que o roteiro e o humor são bem feitinhos, porque o filme não apresenta muita coisa além disso: o visual é aquele padrãozinho de 3D, sem muita inovação. Não é mal feito, mas não tem nada que inove ou salte aos olhos.
A versão dublada, que foi exibida à imprensa, é bem decente como qualquer dublagem nacional e tem os méritos de não recorrer à voz de nenhuma celebridade randômica só para atrair público. A versão original tem as vozes de Kevin Hart e The Rock, mas esse é o tipo de filme que dá pra assistir tranquilo com uma dublagem nacional que as piadas foram muito bem localizadas e o time de vozes faz um trabalho excelente – contando, inclusive com Guilherme Briggs.
Ousadia e Alegria em DC Liga dos Superpets
Com muito para se elogiar e poucos defeitos para apontar, Super-Pets tem tudo para agradar aquele público família. É um filme que faz muito bem o que se propõe e não tenta ser algo a mais do que ele é. É uma incursão levemente ousada e extremamente competente para que a Warner tente abocanhar mais um pedaço dessa torta imensa de dinheiro que os fãs de heróis têm para oferecer e que não parece acabar nunca.
Na verdade, Super-Pets faz tudo tão bem feito que uma continuação é quase inevitável. Vai vender bonequinho demais. Tem até cena pós-créditos – tentando empurrar mais filmes duvidosos da DC, talvez, mas quem sou eu para julgar?