Deixando Neverland, a polêmica sobre Michael Jackson

Deixando Neverland acompanha os relatos de Wade Robson e James Safechuck, hoje homens adultos, que acusam Michael Jackson de abuso sexual.

Pedofilia

Não é de hoje que as acusações de pedofilia acompanham Michael Jackson. A primeira vez que se falou sobre o assunto foi em 1993, quando Jordan Chandler, junto com seu pai, Evan Chandler acusaram o cantor de ter molestado o menino. O caso, no entanto, morreu na praia, já que Jackson fez um acordo de confidencialidade com a família do garoto.

Isso não impediu que Jackson fosse acusado novamente em 2003, por outro garoto, Gavin Arvizo e, posteriormente absolvido por falta de provas.

Michael Jackson e Wade Robson
Michael Jackson e Wade Robson

O assunto nunca ficou completamente claro, então, não é surpresa que ele ressurja em Deixando Neverland. O que o documentário faz é colher depoimentos de duas das supostas vítimas de Jackson: Wade Robson e James Safechuck. O que está causando tanta repercussão, no entanto, é a maneira como os dois contam sobre sua relação com o cantor.

Admiração

Deixando Neverland começa de maneira bem inocente e até bonita. Ficamos conhecendo tanto Safechuck, que conheceu Jackson quando filmou um comercial da Pepsi com o músico, quanto Robson, que ganhou um concurso de dança onde imitava Jackson e, por isso, conheceu seu ídolo.

Jackson e James Safechuck
Jackson e James Safechuck

Também conhecemos suas família, e reparamos que os dois tem características em comum. Eram garotos entre sete e nove anos, bonitinhos, filhos caçulas com grande diferença de idade em relação aos irmãos mais velhos e que se sentiam extremamente sozinhos. A abordagem por parte de Jackson também é bem similar no caso dos dois meninos. Depois que eles se conhecem, o cantor procura a família de cada um as convidando para passar um tempo com ele em Neverland.

Existe mais uma coisa em comum entre Safechuck e Robson, os dois admiravam Michael Jackson. Robson era fã do cantor mesmo antes de conhecê-lo, por isso, acabou aprendendo a dançar como ele. Para o garoto, o fato de seu ídolo demonstrar tanto interesse por ele, era extremamente importante. Safechuck, por sua vez, diz que nunca foi fã de Jackson, mas que sendo um garoto solitário acabou apreciando a amizade e o carinho que o cantor lhe dispensava. Assim como os pais dos garotos, que contam como se sentiram admirados com a casa do cantor e com as dependências de hóspedes que desfrutavam.

Robson, o diretor de Deixando Neverland Dan Reed e Safechuck
Robson, o diretor Dan Reed e Safechuck

Manipulação

No entanto, Deixando Neverland vai tomando um rumo bem mais sinistro conforme vamos assistindo. Quando Safechuck e Robson começam a contar sobre os abusos, com detalhes, já percebemos que esse não é um filme fácil de engolir.

O relato dos dois garotos é relativamente parecido. Segundo eles, primeiro Jackson conquistava a confiança de toda a família. E então, começava a sugerir que o garoto dormisse no mesmo quarto que ele, enquanto seus pais dormiam em quartos separados. Esses quartos separados, com o tempo, iam ficando cada vez mais distantes do quarto de Jackson.

Jackson e o ator Macaulay Culkin
Jackson e o ator Macaulay Culkin

Para os meninos, que mal sabiam o que estava acontecendo, e para os pais que naquela altura confiavam cegamente em Jackson, o comportamento do cantor parecia com o de uma criança inocente. Mas conforme os homens vão contando suas histórias, percebemos que “inocente” é a última palavra que poderia descrever Michael Jackson. O relato de Safechuck e Robson mostra um homem manipulador e que não media esforços para conseguir o que queria.

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A impressão que o espectador tem é que o incrível complexo conhecido como Neverland, com brinquedos exuberantes e milhões de passagens secretas, foi construído apenas com o intuito de atrair crianças e distrair adultos, enquanto Jackson fazia o que queria em algum dos quartos secretos.

Wade Robson é um dos homens que acusa Jackson de abuso sexual em Deixando Neverland
Wade Robson é um dos homens que acusa Jackson de abuso sexual

Safechuck, que em diversos momentos nem fala em “abuso”, mas sim em “relação”, conta sobre um suposto casamento entre ele e Jackson, que teria acontecido no quarto do cantor. Ele até apresenta uma suposta aliança com a qual o cantor o teria presenteado, além de diversas joias que ele ganhava em troca de favores sexuais.

O agora adulto Safechuck ainda parece abalado por isso tudo. Ele assume que de fato se apaixonou pelo cantor. Robson, por sua vez, conta que para ele, os abusos eram como uma relação de namorados e que ele só entendeu o que de fato aconteceu depois que se tornou pai.

Abandono

O filme se estende para o período da adolescência dos dois, quando Michael Jackson começa a perder o interesse nos garotos. Tanto eles, quanto suas respectivas famílias contam que de um dia para o outro, o cantor simplesmente parou de procurar os meninos e que eles logo notaram que foram substituídos por garotos mais jovens, que se tornaram os novos “favoritos” do ídolo. Entre esses garotos estão Jordan Chandler e até o ator Macaulay Culkin, que sempre defendeu Jackson.

James Safechuck fala sobre um "casamento" entre ele e Jackson
James Safechuck fala sobre um “casamento” entre ele e Jackson

O sentimento dos dois garotos, que acreditavam que estavam em uma “relação” com Michael, é o mesmo. Quando eles percebem que não há mais nenhum interesse neles, eles se sentem abandonados e insuficientes e por fim, substituídos por um garoto mais jovem.

O documentário ainda vai até 1993, quando Michael Jackson é acusado de pedofilia pela primeira vez. É nesse ponto que o cantor procura tanto Safechuck, quanto Robson para pedir que eles testemunhem a seu favor e os dois o fazem. Essa, que seria uma decisão que assombraria a vida dos dois desde então, faz com que muita gente desmereça seus relatos até hoje, mas para quem está assistindo Deixando Neverland fica claro que para dois adolescentes envolvidos em algo tão grande e tão assustador quanto isso, expostos a uma enorme quantidade de manipulação, é até difícil compreender o que é e o que não é consensual.

O documentário é repleto de imagens que mostram a proximidade do cantor com os meninos
O documentário é repleto de imagens que mostram a proximidade do cantor com os meninos
Veracidade

Não existem provas materiais do que Safechuck e Robson dizem, mas existe a palavra das vítimas. Não só dos dois que testemunham no documentário como também de mais três garotos que foram “favoritos” do cantor: Jordan Chandler, Jason FranciaGavin Arvizo. Safechuck também tem as joias que foram presentes de Jackson e tanto ele quanto Robson apresentam bilhetes escritos por Michael, que se não são explícitos, são pelo menos estranhos.

O filme não dá a voz para outro ponto de vista, e nem para os outros meninos que acusaram Jackson. Ele funciona mais ou menos como um confessionário onde os dois adultos expõem suas histórias. Assim, é impossível ter certeza absoluta do que aconteceu, pelo menos, por enquanto. Mas é inegável que as histórias dos dois meninos, assim como das outras supostas vítimas, são parecidas. Assim como é claro que existem pontos extremamente estranhos e suspeitos nessa história. A começar na motivação de um homem adulto para brincar e dormir na mesma cama que meninos de menos de dez anos.

Deixando Neverland não poupa o espectador de detalhes
Deixando Neverland não poupa o espectador de detalhes

Deixando Neverland impressiona porque seus relatos soam extremamente realistas e nos dão uma visão completamente diferente de um ídolo da música, reverenciado no mundo inteiro.

Aspectos técnicos de Deixando Neverland

A produção é simples, a câmera pouco se move e os cenários não mudam. Acompanhamos Safechuck e Robson dando entrevistas nos mesmos lugares e sempre no mesmo ângulo. Igualmente com seus familiares e posteriormente, esposas que também dão seus depoimentos. Às vezes, vemos fotos de quando eles eram crianças, com Michael Jackson, assim como de Neverland e dos bilhetes que eles recebiam do cantor.

Jackson e Safechuck em um quarto de hotel
Jackson e Safechuck em um quarto de hotel

Toda essa simplicidade técnica faz um enorme contraste com o tema do documentário. Por si só, a pedofilia já é um assunto terrível. Quando um dos maiores ídolos do pop está, supostamente envolvido nisso, então a coisa toma uma proporção ainda maior.

É bom ressaltar que os relatos são extremamente detalhados. Especialmente o de Robson. Ele admite que quer falar sobre isso sem poupar nenhum detalhe. A descrição de como eram, não só os abusos, mas também o mundo distorcido que Michael criou para convencer os meninos e para mantê-los em silêncio, é extremamente perturbadora.

Considerações finais

É impossível sair de Deixando Neverland da mesma maneira que você entrou, pois o documentário não fala só de pedofilia e abuso sexual. Ele nos mostra a consequência disso na vida desses meninos, que hoje são adultos. Safechuck relata uma vida de depressão e consumo de drogas, na tentativa de esquecer o que lhe aconteceu. Robson relata insônias e comportamentos violentos, que ele mesmo não conseguia explicar.

Safechuck hoje em dia
Safechuck hoje em dia

O documentário vai mais longe e nos mostra as consequências desses abusos na vida das famílias dos meninos. Ou seja, pais que se culpam, irmãos que não conseguem entender como os pais permitiram isso e esposas que não entendem o comportamento de seus maridos.

Deixando Neverland quer denunciar Michael Jackson, mas acaba falando sobre abuso no geral. E pela primeira vez, dando voz às vítimas. O filme, que é dividido em duas partes, pode ser assistido na HBO.

Deixando Neverland

Nome Original: Leaving Neverland
Direção: Dan Reed
Elenco: Michael Jackson, Jimmy Safechuck, Wade Robson
Gênero: Documentário, Biografia
Produtora: Amos Pictures
Distribuidora: HBO
Ano de Lançamento: 2019
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