Depois a Louca Sou Eu – Comédia dramática bem atual

Um breve manual da vida moderna

Depois a Louca Sou Eu nasceu como livro, escrito pela contista, romancista, cronista e roteirista Tati Bernardi, e lançado em 2016. Uma compilação de crônicas divertidas sobre o transtorno da ansiedade e o que é viver com o pânico sempre à espreita. No dia antes do lançamento do livro, a diretora Julia Rezende já tinha decidido que aquela obra tinha que virar filme.

E no filme, Tati vira Dani, afinal, como a própria autora declara, muito do que está presente nas histórias verdadeiras é exagerado quando se escreve comédia, vira uma hipérbole da vida, o que faz com que seja necessária a criação de uma personagem e não somente dar vida a uma pessoa existente.

Depois a Louca Sou Eu
Dani criança (Duda Batista) e Dani adolescente (Beatriz Oblasser)

Depois a Louca Sou Eu

Jovem, intensa e autêntica, Dani (Débora Falabella) só queria levar uma vida normal. Mas, desde criança, ela vive em descompasso com seu próprio mundo. Enquanto encanta a todos com o talento que a torna uma brilhante escritora, ela tenta de todas as formas controlar seus medos e constantes crises de ansiedade.

Acompanhamos assim, a trajetória de Dani pela vida através de memórias de infância, adolescência e da vida atual da mulher adulta que ela se tornou. Quando criança, sua mãe (que também sofre de ansiedade) manda benzer a menina, na esperança que ela melhore. Mas melhore o quê, criança tem medo de tudo, não tem? Mas o medo de tudo e a dó de tudo nunca saíram de Dani, que mesmo adolescente continuava com medo.

Vemos a representação das mais hilárias memórias de “primeira vez que tive uma crise de pânico” e “primeira vez que tentei transar”, sempre com muito bom humor. Além de casos amorosos, psicanálises mal feitas, constelações familiares, dança com árvores, yoga e drogarias delivery.

A estética pop e as cores verdes e vermelhas estão presentes no filme

Amo demais, sinto demais, sofro demais

A comédia dramática tem classificação 16 anos, certamente por conter várias cenas de sexo, intensas e bem feitas, mas não necessariamente indispensáveis. Além de mencionar remédios pelo nome real, o que, infelizmente, pode dar ideias erradas a algumas pessoas.

Quem nunca pensou que “algum dia todos nós vamos morrer”? Este pensamento recorrente faz Dani ter medo de avião, medo de trânsito, medo de não conseguir ir embora, medo de ir. Ir para qualquer lugar. A ansiedade pesada herdada da família a faz pensar “quem mandou eu nascer?”

Mesmo tratando de um assunto sério e muito real, Depois a Louca Sou Eu consegue trazer leveza ao tema e o humor daqueles que têm propriedade para contar as mais bizarras histórias vividas em meio às crises de ansiedade.

Depois a Louca Sou Eu
Dani e Gilberto (Gustavo Vaz), a representação de uma série de namorados da moça

A 1ª vez com Rivotril é perfeita – pena que o efeito passa

Dani é uma personagem forte, capaz de criar situações além do roteiro adaptado do livro. Sendo assim, com o adiamento do lançamento do filme por conta do Corona Vírus, a equipe teve a brilhante ideia de gravar episódios em casa através de um diário da pandemia.

Assim, conforme os meses em isolamento iam se arrastando, Débora Falabella e a equipe, incluindo a autora Tati Bernardi e o roteirista Gustavo Lipstzein deram um jeito de criar, escrever e roteirizar uma web série, disponível nas redes sociais da Paris Filmes, que atiçaria a curiosidade do público com o filme a ser lançado.

Depois a Louca Sou Eu é, com toda certeza, um produto transmidiático. Uma vida agitada que vira livro, que vira filme, que vira web série, que vira… se depender da produtora Mariza Leão, uma série maior vem por aí. E assunto pra falar é o que não falta. Nessa geração com pressa e que vira e mexe está toda medicada com Rivotril, Efexor, Dramin com Cibalena e Dorflex, o que se tem de sobra são situações e reflexões.

Yara de Novaes é a mãe de Dani

Uma mulher tentando sobreviver a si mesma

O livro de Tati não se encaixa numa narrativa linear, são histórias de vários momentos da vida, sem ordem cronológica ou tema a ser seguido. Dessa forma, foi um desafio e tanto transformar e adaptar o texto para um roteiro com começo, meio e fim.

Depois a Louca Sou Eu é um livro que eu gosto muito e inclusive me identifico em algumas situações (aí a gente ri de nervoso, né). Já indiquei para amigas e lá em casa quase todo mundo leu. Posso dizer que a adaptação cinematográfica ficou muito legal e que o desafio foi cumprido com maestria.

Temos aqui uma verdadeira “dramédia”, uma trama divertida e instigante sobre como é viver com ansiedade, que pode gerar grande identificação e pertencimento por parte do público. O filme entra em cartaz nos cinemas hoje, dia 25 de fevereiro, e em breve estará disponível nas plataformas de streaming.

Depois a Louca Sou Eu

Nome Original: Depois a Louca Sou Eu
Direção: Julia Rezende
Elenco: Débora Falabella, Gustavo Vaz, Yara de Novaes, Débora Lamm, Duda Batista
Gênero: Comédia, Drama
Produtora: Morena Filmes
Distribuidora: Paris Filmes
Ano de Lançamento: 2019
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