Junte sua coragem para Invocação do Mal
Poucos filmes de terror realmente foram bons desde o início do século XXI, mas vale citar alguns, como O Exorcismo de Emily Rose, O Chamado, Os Outros, Sede de Sangue, O Ritual e Deixa Ela Entrar. Invocação do Mal veio se unir a esse seleto grupo de qualidade, do terror apavorante, e não só de sustos fáceis e pouco sustentados.
Na película, ocorre uma fusão de sucesso com clichês funcionais, aplicados aqui de maneira espetacular e agonizante, e até, porque não, criativa. Das estruturas dos filmes de terror, temos a “casa mal-assombrada”, a “boneca assustadora”, o “exorcismo”, e até mesmo um emulado dos “filmes de câmera na mão”. E esse ajuntamento de elementos, é exemplar e impressionante.
Em momento algum o diretor James Wan perde a mão na condução da trama. Ele nos sufoca com os focos do zoom, ao mesmo tempo que nos joga em turbulências vertiginosas, causando sensação de estranheza, justamente porque antes ele estabelece verossimilhança, com base nos objetos da casa, do cenário como um todo; e da trilha intimista, que não renega o horror, mas jamais interfere na atmosfera, deixando o espectador ouvir os sussurros das entranhas da casa e de sua própria respiração aterrorizada.
Os atores, todos, de crianças a adultos, não só estão inspirados e acima da média, como parecem acreditar no espetáculo. Destaque para Patrick Wilson e Vera Farmiga que vivem o casal de demonologistas Ed e Lorraine Warren (ele, com autorização do Vaticano para praticar pequenos exorcismos; ela médium e clarividente, com um passado recente complexo) levam a sério seus personagens, e passam o sentimento de uma situação acreditável (como a produção alega, já que a obra se baseia realmente num dos casos dos Warren, dentre outros — que envolveram polêmicas, inclusive). Lily Taylor também surpreende, com sua mãe aflita, nesta metáfora da maternidade, com cinco filhas em idades e ciclos diferentes, simbolizando também cinco horrores distintos em perigo.
Os demais personagens funcionam como ferramentas para o andamento da trama e tudo se encaixa, no final. A boneca Annabelle, coqueluche da obra, que inclusive vai gerar uma continuação-spinoff, tem sua importância para a didática no filme, ainda que o foco seja algo bem mais perturbador e profundo. As “assombrações”, por assim dizer sem revelar demais, cumprem bem a tarefa como tais. Tem suas caras feias nas medida e não são reveladas ao todo ou de maneira excessiva, deixando a casa ser um dos protagonistas mais relevantes, construindo com isso um clima necessário para o pavor se sustentar por quase duas horas de filme.
Imaginem que, na receita de sucesso, souberam dosar bruxas com demônios, numa casa com poltergeist e elementos investigativos. E o prato principal é de forrar o estômago. Filmaço.