Dom – Série inspirada por uma história real

Atuações fortes e dramáticas pontuam essa produção nacional bastante interessante, inspirada em eventos reais ocorridos no início dos anos 2000, com o cunhado “Bandido Gato” Pedro Dom, criminoso conhecido no Rio de Janeiro por furtar edifícios de luxo e virar manchete no jornalismo do período.

Gabriel Leone está completamente entregue ao personagem do título, conseguindo equilibrar carisma, delírio e motivação nesse cara viciado em cocaína e adrenalina (e que pelo background, fica bem difícil de se gostar, mas o ator consegue).

Flávio Tolezani também é outro nome forte do elenco, fazendo o pai do rapaz, um ex-policial civil que está no outro espectro da lei, nessa ironia do destino. A relação conturbada e intensa de ambos é o foco da narrativa. Fábio Lago mais uma vez dá um show e ainda vale atenção para a graciosa Raquel Villar.

Dom

Breno Silveira (diretor de 2 Filhos de Francisco) resolveu humanizar a terrível figura do retratado (a quem foi atribuído ser o mais violento da gangue que comandava, a ponto de colocar granada na cabeça de uma criança para forçar as vítimas a contar onde guardavam as joias), após receber o pai do mesmo no final da década passada e que lhe vendeu um outro ponto de vista da história, essa qual é narrada na nova série do Prime Video.

História essa que, dentre os 8 episódios de uma hora cada, tem a decisão de ser dividida em algumas linhas do tempo, não só da infância e adolescência de Dom nos anos 1990, mas principalmente do pai dele quando jovem nos anos 1970, em plena ditadura — o que acaba por encorpar legal o enredo, mas conforme avança perde a força e a relevância.

Demais aspectos

Muito enervante, dedicada e com alto valor de produção (os cenários do subúrbio e do morro são belamente retratados, com fotografias certeiras), DOM é uma série que consegue prender o público do começo ao fim, até mesmo pela imprevisibilidade dos eventos e de seu protagonista (talvez nem tanto para quem conhecia detalhadamente os eventos reais, o que não devem ser muitos, dado o público-alvo), com muita violência, sexo e interpretações incrivelmente naturalistas (fora um ou outro global, que não consegue desapegar de seus estereótipos novelescos, sim, me refiro a você, André Mattos). Outros temas, como a dependência química e várias formas de tratamento, também são fortemente abordados por aqui.

Acredito eu que a produção teria ainda mais força se fosse uma minissérie e tivesse se encerrado no oitavo episódio, sem a necessidade de uma segunda temporada. Mas, visto que Pedro Dom ainda aprontou muito mais pelos anos seguintes, é natural essa continuação, agora tão aguardada.