Duas Coroas, um docudrama biográfico e religioso
A vida de Maximiliano Maria Kolbe, missionário franciscano que sacrificou a própria vida para salvar a de outro homem, Franciszek Gajowniczek, da execução no campo de concentração de Auschwitz, presumivelmente em agosto de 1941 (a data é incerta), motivou a criação desse “docudrama” Duas Coroas, estrelado pelo veterano ator de teatro, cinema e TV polonês Adam Woronicz (O Batismo). Certamente, entretanto, a proposta de intervenção narrativa sobre a trajetória de São Maximiliano Kolbe não será para todos os públicos.
Explico. O filme, de bela fotografia alongada e ampla (enchendo o écran completamente de cores dos locais por onde Kolbe passou), não se omite de posicionamentos políticos: o conservador frade, que enfrentou a maçonaria e costumava classificar como “maligno” certos tipos de liberalidade (“o cinema não pode ser um veículo do mal”), é retratado como sábio e visionário em todos os instantes nos quais precisou agir.
A direção de Kondrat (Matteo), que também figura no filme como narrador, indica o que está por vir quando seu nome aparece no cartaz: um católico fervoroso, ele imprime um ritmo religioso e contemplativo durante todo o tempo.
Duas Coroas
Num momento político conturbado por aqui, onde se discute a instrumentalização da fé como ferramenta política, um filme dessa estirpe poderá ser lido como reativo; há chance de provocar movimentos como o visto durante sua exibição para a imprensa: pessoas desavisadas da proposta ou com outras convicções, se levantando durante o longa.
Kolbe foi canonizado pelo compatriota João Paulo II em 1982, e entre o Papa e São Maximiliano havia semelhanças nítidas: um ar bondoso, empático e carismático travestindo de humanidade um sentido no
mais das vezes conservador.
Do ponto de vista estético, contudo, o filme é bonito. As interpretações, sobretudo a de Woronicz, são contidas e solenes, arquetipificando a figura de Kolbe. Por outro lado, o roteiro, preocupado em mostrar as partes mais importantes de sua vida (vividas na Polônia, numa missão no Japão e na Itália), saltita aceleradamente e expõe grandes lacunas de tempo, sobretudo na infância do frade. Nesse sentido, aproxima-se da narrativa da própria vida de Cristo nos Evangelhos.
Vá, então, assistir Duas Coroas sabendo-se do que se trata: um filme católico austero, de direção clássica e atuações contidas. Se for essa a sua proposta para a escolha do filme de fim de semana, o documentário vai agradar.