Duna (1984)
Não consigo dissociar o quanto o Duna (1984) de David Lynch se assemelha a um anime em sua estrutura original — especialmente um anime dos anos 1980. Pois veja bem, ao fazer a estranha escolha de que o público possa ouvir os pensamentos dos personagens, o diretor estabelece aqui uma característica intrínseca da maioria dos animes — onde os personagens refletem o tempo inteiro, inclusive em momentos de tensão.
Fora essa curiosidade, é notável a paixão de Lynch pelos livros de Frank Herbert, a ponto inclusive dele tentar traduzir em tela algumas passagens quase literalmente, o que não culmina em bons resultados. Lynch também não parece ser o diretor apropriado para esse tipo de produção, pois ele não compreende o épico, nem a space opera.
A seara dele sempre foi o estranho, o incompreensível e o inominável. Muitos anos antes, George Lucas já havia provado com seus Star Wars como fazer uma fantasia espacial com parcos recursos, algo que o diretor não pareceu ter aprendido por aqui.
No mais, o elenco é afiado e o esforço de adaptação é notável, com uma ou outra cena marcante (como a dos personagens pelas dunas), mas a narrativa é bizonha, os efeitos são horrendos (mesmo, e inclusive para a época) e o ritmo só contribui para um grande e arrastado bocejo.