Eu Matei Adolf Hitler, de Jason, Editora Mino (2019)
Uma honesta e improvável história de amor
Com seus personagens antropomórficos, inexpressivos e de olhares arregalados, o quadrinista Jason realiza em Eu Matei Adolf Hitler mais uma HQ marcante e singular, situando a história na Berlim contemporânea, em um mundo onde ser um assassino de aluguel é tão comum quanto ser açougueiro ou advogado, o que também não deixa de ser uma crítica, ainda que extremamente sutil, sobre a normatização cada vez maior da violência e do uso das armas de fogo por qualquer um. E Jason gosta de colocar sua crítica e deixá-la ali, se desenvolvendo sozinha. Se o leitor pegar, pegou. Senão, segue-se adiante.
O mote da trama é o de um velho cientista que, um dia, chega no escritório do assassino protagonista e o contrata para viajar no tempo e matar Adolf Hitler, antes de sua terrível ascensão ao poder. De poucas palavras e sem fazer perguntas, o cara volta sorrateiramente ao Século 21. Entretanto, algumas coisas não saem como o planejado e então o enredo envereda por um lance que alterna entre a rotina e a espionagem. Isso sustenta muito bem as mais de 48 páginas do quadrinho até seu derradeiro final, afinal Jason não é um autor comum e, no miolo do seu tema, ele sempre guarda algo especial.
Eu Matei Adolf Hitler
Portanto, se o leitor atento deixar a missão de lado por algumas páginas, notará e apreciará que o que realmente importa aqui é a história de um homem e de uma mulher, de um casal comum que não deu lá muito certo, teve brigas no caminho e se reencontra em diferentes momentos do tempo, para então depois se valer de um tipo de sacrifício para tornarem a talvez ficarem juntos.
É sucinto, como tudo em sua quadrinização e, por isso mesmo, funciona tão bem. É cínico e repleto de um humor negro que somente Jason é capaz de realizar, algo que as figuras nas páginas tão bem sabem representar. História alternativa e drama pessoal, embalados em uma edição simples, sem penduricalhos, como deve ser uma boa HQ. Jason encontrou uma boa casa no Brasil com a Mino e sempre esperamos por um novo gibi seu.
Minimalista, melancólico e divertido de um jeito ímpar, Eu Matei Adolf Hitler é um quadrinho para se ler num fôlego só e ser arrebatado, seja no tempo, seja por dentro.