Fora de Série, o amadurecimento de duas adolescentes
Molly (Beanie Feldstein) e Amy (Kaitlyn Dever) são duas alunas exemplares que estão prestes a terminar o colegial. Então, antes da formatura, as duas resolvem que vão aproveitar em uma noite o que não aproveitaram todos os anos de escola. É assim que Molly e Amy acabam participando de todas as festas que acontecem na noite anterior à formatura. Portanto, uma experiência Fora de Série.
Protagonistas femininas
Fora de Série é um filme que aborda um assunto relativamente comum: o fim do ensino médio e o começo da vida adulta. Mas este longa certamente tem os seus diferenciais. O principal deles é o fato de ser protagonizado por duas meninas. Diversos filmes abordam o mesmo período, como American Pie – A Primeira Vez é Inesquecível e Superbard – É Hoje, mas tem garotos como protagonistas.
Fora de Série então, nos dá um ponto de vista completamente diferente da situação. Acompanhamos a trama através da visão de duas garotas prestes a se formar. Junto a isso, o filme se propõe a debater outros temas que circulam a adolescência, mas no que diz respeito às garotas.
Também é importante lembrar que o longa não é focado apenas em relacionamentos amorosos, como acontece com bastante frequência em filmes adolescentes com protagonistas femininas. Até fala-se sobre as relações amorosas de Molly e Amy, mas há mais preocupação em falar sobre sua amizade e seu amadurecimento.
Representatividade
Outro ponto interessante de Fora de Série é que ele tem muita representatividade. Não é só em relação ao fato de dar protagonismo às mulheres, mas também porque Amy é abertamente homossexual, e isso é tratado de maneira natural. A impressão é que todos sabem da sexualidade de Amy, inclusive seus pais (Will Forte e Lisa Kudrow). Embora eles sejam religiosos, aceitam a filha, e isso não é um problema. A única diferença que vemos entre ela e Molly é o fato de que Molly gosta de algum garoto, e Amy tem uma queda por uma garota, Ryan (Victoria Ruesga). Mas as duas se comportam como todos os adolescentes quando o assunto é esse.
Por outro lado, se Amy é extremamente bem retratada, sem recorrer a estereótipos e sem cair na mesmice, os personagens masculinos que são gays (Noah Galvin e Austin Crute) não tem a mesma sorte. Os dois aparecem como os únicos gays do colégio, que, claro, gostam de teatro musical, moda, fazem comentários maldosos e soltam gírias de RuPaul’s Drag Race a qualquer momento.
Isso, por si só, não estraga Fora de Série. Mas é uma pena que um filme que seja tão bem sucedido em representar vários tipos de mulheres, já que nos apresenta não só Molly e Amy, mas também Hope (Diana Silvers), Gigi (Billie Lourd), Triple A (Molly Gordon), e todas com personalidades bem diferentes uma da outra, não tenha tido mais cuidado nesse aspecto também.
Crescer e amadurecer
O assunto principal de Fora de Série é o amadurecimento e suas dificuldades. Molly e Amy se encontram em uma fase em que, pelo menos simbolicamente, torna-se adulto. Claro que esse é um conceito que funciona melhor nos Estados Unidos. Já que lá, os jovens, depois do colegial, em sua maioria, vão morar sozinhos e eventualmente, em outras cidades. Isso é mais ou menos o que se apresenta no filme.
Mas mesmo que esse seja comum no país, é natural que adolescentes se sintam assustados diante da possibilidade de morar sozinho e ir para a faculdade. Molly e Amy ainda tem que lidar com a separação iminente. E, um assunto que paira no ar do começo ao fim do filme é, como manter essa amizade estando em lados opostos do mundo. Afinal, Amy vai para a África.
Algumas vezes, crescer e amadurecer também é deixar para trás amizades que já não fazem mais sentido e que foram superadas e esse é o questionamento que fica.
Aspectos técnicos de Fora de Série
O filme pode tratar de um assunto relativamente comum e que já foi tratado antes. Por isso, quem lê a sinopse pode ter a impressão de se tratar de mais um besteirol americano, mas não é bem o caso. Fora de Série fica ali, bem no meio termo do que seria um besteirol, (afinal, as festas, o sexo e a bebida estão presentes) e do que seria um filme de formação, onde acompanhamos jovens protagonistas se tornando os adultos que serão no futuro (já que os questionamentos em relação ao futuro e as mudanças de comportamento também estão presentes).
O filme também é bem realista, embora em alguns momentos apresente situações que soam absurdas, causando reconhecimento do público. Isso não impede que o filme seja divertido. Fora de Série é repleto de momentos que fazem a plateia gargalhar. Além disso, não recorre a piadas escatológicas com tanta frequência.
Claro que boa parte da graça do filme se deve ao elenco, que funciona muito bem, e é muito engraçado. Todos parecem muito dentro de seus personagens e as atuações são muito boas, sejam os adolescentes, sejam os adultos. O destaque fica, é claro, para as duas protagonistas, Beanie Feldstein e Kaitlyn Dever, que carregam o filme nas costas.
Vale a pena assistir
O mais interessante em Fora de Série é que ele retrata uma situação que é comum a todos nós. Mesmo que não estejamos dentro da mesma cultura. Ou com os mesmos costumes. Por isso, é fácil de se reconhecer nas histórias e nos questionamentos das garotas. O fato do filme ter protagonistas femininas é um bônus que coloca a plateia dentro da mente das meninas.
“Este não é um filme sobre duas garotas nerds que querem se vestir como as populares e fazer de tudo para conquistar o carinha descolado”, conta a diretora Olivia Wilde. “É uma história sobre a amizade entre duas meninas”. Com uma equipe majoritariamente feminina, Fora de Série traz novos ares para a comédia, um gênero normalmente dominado por homens. O filme entra em cartaz no dia 13 de junho.