Golias
Filme atual, mas lento
France (Emmanuelle Bercot) se tornou uma ativista contra os pesticidas depois que seu marido foi diagnosticado com câncer; Patrick (Gilles Lellouche) é um dedicado advogado especializado em direito ambiental; já Mathias (Pierre Niney) é um lobista que defende os interesses de um gigante agroquímico.
Os destinos dos três se intercalam depois de um protesto radical.
Feito para os dias de hoje
É impossível assistir Golias e não fazer uma óbvia relação com os tempos atuais e a luta de alguns ativistas a favor do meio ambiente e contra pessoas que simplesmente parecem não se importar com o que acontece com o planeta ou a natureza, a referência é muito clara e, naturalmente, transforma o longa em um filme bem atual. As tramas apresentadas aqui são uma maneira do roteiro conversar com o mundo real e com as mudanças que assistimos.
Aqui o assunto principal são os pesticidas, que causam doenças terríveis e mortais, mas que continuam a ser usados na comida. Golias tem muitos personagens e passeia pelos pontos de vista de todos eles, o que é interessante e nos dá uma visão de cada vida, mas ele se foca mais em três personagens: France, uma professora que virou ativista depois da doença de seu marido, que ela acredita que foi causada pelos pesticidas, Patrick, um advogado idealista que luta pelo meio ambiente e o lobista Mathias, que parece muito mais preocupado com a sua carreira do que com qualquer coisa que aconteça no mundo.
Essas três vidas são ligadas apenas pelo ativismo – ou falta de – ambiental, nenhum desses personagens se conhece nas suas vidas pessoais, mas as vontades e os desejos de France, Patrick e Mathias não poderiam estar mais conectados, ainda que nem sempre em concordância.
Vida pessoal e ativismo
Golias mergulha profundamente na vida desses personagens e não se contenta em mostrar apenas o ativismo de cada um deles, o filme também se aprofunda na vida pessoal deles e usa isso para também falar da causa ambiental.
Não tem como, por exemplo, distanciar a vida pessoal de France de seu ativismo, uma vez que ela só se envolve com a causa depois que seu marido fica doente. Isso já é diferente para Patrick, o advogado, que é um idealista, mas que não tem nenhuma questão pessoal – para além de viver no planeta Terra e se preocupar com ele – para defender o que defende. Já Mathias não está envolvido em nenhuma causa, sua única preocupação é sua carreira e ele está disposto a passar por cima de tudo.
Quando conhecemos esses personagens na intimidade, vemos diferenças gritantes entre seus estilos de vida e a maneira com que se comportam. Enquanto France e Patrick estão completamente consumidos pelas questões ambientais e pelas causas que defendem, Mathias vive uma vida sem muita preocupação, com festas e luxos, como se realmente não ligasse para nada. Essa é uma forma do filme mostrar quem é o “vilão”, ainda que na vida real seja difícil apontar pessoas totalmente boas ou totalmente más.
Aspectos técnicos de Golias
Não existe qualquer dúvida de que Golias trata de um tema importante, atual e que merecia ser discutido com mais frequência. Embora o filme não possa falar de todos os problemas ambientais do mundo, ele usa de alguns deles para conversar com a realidade.
O passeio pelas vidas pessoais dos ativistas e do lobista ajudam a plateia a ver os personagens mais como pessoas, para além de seus ideais ou seus trabalhos, o que ajuda, por exemplo, a visualizar Mathias não só como uma pessoa terrível e gananciosa, mas também alguém preocupado com a família, ainda que não esteja muito preocupado com pessoas fora do seu próprio círculo.
Mas Golias é um filme longo e lento, ele tem pouca ação, se concentra mais no que os personagens falam e claro, fica um pouco monótono com o tempo. Os personagens são profundos, mas é difícil criar vínculos com eles, já que passamos por todas essas vidas, ainda que o longa se saia muito bem deixando claro que retrata pessoas reais e não vilões e mocinhos.
As atuações de Golias são consistentes e os três personagens principais chamam muita atenção, Pierre Niney especialmente chega a causar raiva na audiência.
Golias é um filme com boas intenções e que se faz muito necessário, a duração e a pouca movimentação do longa, no entanto, prejudicam o resultado final e deixam a plateia cansada com o tempo. O filme chega aos cinemas no dia 24 de novembro.