HAPPY! Uma série fora da caixinha
Baseada na graphic novel de Grant Morrison e Darick Robertson, a trama de Happy! mostra um ex-policial bêbado e corrupto que se torna assassino de aluguel – que está à deriva em um mundo de assassinato casual, sexo sem alma e traição. Depois de um trabalho que dá errado, sua vida inebriada muda para sempre por um pequeno, implacavelmente positivo, imaginário unicórnio chamado Happy. A série ainda coloca uma garotinha sendo sequestrada por um Papai Noel sinistro, o chefe da máfia italiana local desesperado atrás de um código que poderá mudar sua vida, uma figura travestida de besouro, um rapaz que volta dos mortos graças ao sangue menstruado de sua bisa e duas mulheres fortes que precisam se unir mesmo depois da merda atirada contra o ventilador.
Christopher Meloni, que desde sua saída de Law&Order: SVU, nunca mais se encontrou nos cinemas, volta a se encaixar nas telinhas neste que é o papel da sua vida. Irreverente e casca-grossa, o ex-detetive ainda é um protagonista totalmente carismático, justamente por não ser imbatível nem ter qualquer técnica de luta. Ligado no foda-se em tempo integral e incapaz de morrer mesmo nas piores adversidades, seu Nick Sax acha que não tem nada a perder, por isso leva a vida – e seus casos – sem medo dos riscos pelo caminho, e eles são muitos. Como parceiro da aventura alucinante, temos Patton Oswalt fazendo o unicórnio Happy. Comediante norte-americano, mais conhecido por ter feito a voz de Remy em Ratatouille, o dublador cria um contraponto interessantíssimo com o humano, já que o amigo imaginário vê tudo positivamente, sempre tem uma canção pra alegrar o dia e ajuda mais do que atrapalha na busca da graciosa menininha Hailey Hansen. Em vários momentos, a dinâmica de ambos remete a de Roger Rabbit e Eddie Valiant (ainda que aqui a figura animada não seja tão idiota, nem o humano tão impaciente). Sax simplesmente assume o unicórnio como real, afinal existem outros absurdos rolando ao seu redor que também não precisam ser justificados.
Praticamente todos os demais personagens tem um arco bem desenvolvido, com um elenco inspirado vestindo a camisa de maneira divertida. Dessa forma, temos a Detetive Meredith “Merry” McCarthy e seus problemas com a mãe doente; Amanda Hansen, ex de Nick e mãe de Hailey, que assume as rédeas da investigação da filha quando vê ineficiência na polícia; Blue, um rico chefe da máfia, que busca ansiosamente uma senha que lhe dará ainda mais poder, a medida que se envolve com o enigmático Sr. Inseto, numa trama maior que amarra as demais, que abarca ainda a real figura por trás do Papel Noel sinistro e uma rede de tráfico de crianças complemente inacreditável. E não vamos esquecer do sociopata Smoothie, de longe um dos melhores personagens da produção.
Cada episódio se desenvolve de maneira singular, com situações improváveis e distantes de qualquer clichê, com sequências de ação vertiginosas e brutais, com crueza de detalhes violentos e gore, a medida que o figurino estabelece a sujeira e o suor na fotografia da série, em contraste com as cenas dos infantes e dos amigos imaginários (em um CG digno de Pixar), com cores mais saturadas e limpeza impecável.
Happy!
HAPPY! é uma série obrigatória para qualquer espectador de bom gosto, que busca histórias fora da caixinha e quer entretenimento bom, ainda que ele seja acompanhado de tiros, ação, mistério e uma certa viagem de ácido.