Hellboy e o B.P.D.P. 1952, de Mike Mignola
Hellboy no Brasil
Contando com a colaboração de John Arcudi nos roteiros (que segue eventos vistos no ainda não lido B.P.D.P. Origens 1946-1947, mas sua importância é explicada logo no início deste álbum), e arte do renomado Alex Maleev, que acima de tudo é um grande fã do Mignolaverso, o criador consegue resgatar o tom mais pulp das histórias do vermelhão, vistas principalmente nas primeiras histórias do personagem, com vilões nazistas e até “monstros de Frankensteins do mal” a rodo.
Curiosidades sobre Hellboy
Na composição de cenários e de cenas estáticas, Maleev brilha com seu traço singular. Mas que ao mesmo tempo orna com o de Mike Mignola, ao respeitar as bases estilísticas que consagraram Hellboy nos quadrinhos. Claro que as cores do sempre formidável Dave Stewart são outros pontos fundamentais para essa familiaridade com a arte, num geral. Por outro lado, o artista peca em sequências de ação, deixando tudo muito rígido e pouco fluído, o que muitas vezes pode gerar confusão no leitor, mas nada que estrague o todo da obra.
Hellboy e o B.P.D.P. 1952
O roteiro é redondinho, com bom começo, meio e fim. Ainda que o início seja engatilhado a partir dos eventos do álbum anterior, 1946-1947 e tenha um desfecho que se volta a uma referência disso. A trama é redonda e autossuficiente, com todos os elementos clássicos das narrativas das HQs do vermelhão.
É claro que eu gostaria muito mais de ter visto Mignola explorando o folclore brasileiro no enredo. Mas não é o que acontece aqui. Fora uma curiosa e interessante participação de duas figuras de nossa mitologia um tanto quanto desconhecidas, que surgem de maneira inesperada em certo momento da trama. Vilões e figuras mais clássicas desse universo meio que voltam à tona, apenas usando um vilarejo amazônico como base. Cenário este pra lá de bem-vindo. Como o Brasil carece de castelos góticos (o que de qualquer maneira soaria forçado por aqui), o autor foi muito inventivo ao aproveitar um presídio colossal abandonado no meio da mata, inspirado em um que realmente existiu, e que fornece todos os ares necessários para algo do gênero, bem satisfatório.
Tem resenha da parte dois também
Os personagens humanos também são eficientes no enredo, a começar por Richie, que faz um papel de tiozão muito parceiro do nosso protagonista. Enquanto que os outros três equilibram bem o ponto de ação durante a missão, com suas personalidades bem verossímeis. E o traidor entre eles nem é um grande mistério da história, já que é revelado logo no início. Colabora assim para uma tensão maior no restante do desenvolvimento narrativo. Os coadjuvantes, um padre, uma velha e um garoto, também servem bem à trama. Em conjunto com as criaturas que os agentes do B.P.D.P tem de enfrentar, culminando num clímax inesperado e muito bem executado.
É interessantíssimo ver essa outra dinâmica do Hellboy entre quadros aqui com 8 anos. Mas lembre-se, ele é um demônio! Portanto, tem um tempo diferente do nosso e já é enorme nessa idade, mas ainda meio adolescente. E sendo esta sua primeira missão (fora a desventura que vive enquanto moleque no divertidíssimo O Circo da Meia-Noite), acaba sendo bem curioso notá-lo reticente em ver corpos desmembrados ou se relegando a ações de estagiário no meio de um caso maior. Ainda que ele prove seu valor (e sua força) no desfecho. Assim, essa outra vertente dele ajuda a aumentar a dimensão do que compreendemos do icônico protagonista. Ao final, faz valer a justificativa de “humano honorário”. Fundamentando assim daqui pra frente em diante e pra sempre, sua aceitação monstruosa entre os humanos sem causar estranhamento.
Hellboy e o B.P.D.P. 1952
Mignola conseguiu expandir o universo de Hellboy voltando 50 anos no passado e revelando suas primeiras missões, quando ainda era jovem. E não poderia ter feito estreia melhor do que usando o Brasil como cenário.