Johnny Vai à Guerra, livro de Dalton Trumbo

Que absurdos levam uma civilização à guerra? Essa talvez seja a questão mais provocativa que perpassa Johnny vai à guerra, clássico cult do norte-americano Dalton Trumbo sobre os destroços da Primeira Guerra Mundial. A mais provocativa, mas não a única, neste livro que se transformou numa bandeira contra a luta armada e a violência assim que foi lançado, em 1939. Narrado por Johnny, um sobrevivente de guerra gravemente mutilado, o livro é uma correnteza de pensamentos ora desesperados ora contemplativos que acometem esse homem imóvel num leito de hospital. Ainda que seus sentidos estejam comprometidos, o que o deixa incapaz de se comunicar, Johnny está consciente. Sem saber em que país está ou se sua identidade foi reconhecida ou não, ele transborda os limites do corpo para chegar a um fluxo de consciência que transita entre as memórias e o medo de um futuro sem perspectiva. A brutalidade perturbadora do depoimento, ao relembrar as experiências bélicas, é pontuada pelo instigante desenvolvimento de habilidades mentais e sensoriais pelo qual Johnny se obriga a passar para tentar se comunicar e distinguir realidade de imaginação. Escrita sem nenhuma vírgula, a narrativa é acelerada como um sonho em que lembranças, desejos e traumas se juntam para formar um roteiro cinematográfico – certamente uma influência que Trumbo recebeu de seu premiado trabalho como roteirista em Hollywood. A capacidade narrativa e o tema tão atual desde o momento em que veio a público fizeram deste livro uma leitura urgente e um protesto atemporal, tanto que ressurgiu na geração da Guerra do Vietnã e chega até o nosso tempo, tão assombrado pelas questões de violência e lutas armadas em nome da liberdade.
Fonte: https://www.saraiva.com.br/johnny-vai-a-guerra-9514603.html

Escrito em 1939, Johnny Vai à Guerra é um livro muito diferente. O protagonista é Johnny, um jovem que acabou de retornar da primeira guerra mundial e “acorda” em um hospital. O único porém é que Johnny já não é mais o mesmo, ele está consciente e tem lembranças, mas ele não pode se comunicar ou se mexer, já que agora o seu corpo se resume ao torso e a cabeça, Johnny perdeu os membros e o rosto em uma explosão.

É obvio desde que se lê a sinopse que o livro é um manifesto contra a guerra. O autor, Dalton Trumbo, imagina a possibilidade mais absurda e mais cruel de retorno da guerra, para mostrar o quão monstruosa essa prática pode ser.

O livro é narrado pelo próprio Johnny, que tem pensamentos coerentes e nos descreve o que aconteceu com ele na guerra e algumas lembranças de antes de ele partir para a guerra. É muito interessante e ao mesmo tempo muito assustador estar dentro da cabeça de Johnny e automaticamente dentro do seu corpo mutilado e se colocar no lugar dele.

Os médicos observam Johnny

A história toda se passa no hospital e nós vemos a movimentação dos médicos e das enfermeiras. Também somos testemunhas da aflição de Johnny para se comunicar com qualquer pessoa, uma vez que ele não consegue nem fazer expressões faciais, a maioria das pessoas entende que Johnny também perdeu sua habilidade de raciocinar.

Não existe coisa mais assustadora do que estar preso dentro do seu próprio corpo, sem qualquer comunicação. Johnny Vai à Guerra não é de maneira nenhuma um livro de terror, mas é mais assustador do que qualquer livro do gênero, uma vez que poderia ser real.

O livro traz outros questionamentos importantes, como a ideia da eutanásia: Johnny está vivo, mas é como se ele não existisse, como se ele já tivesse voltado morto da guerra; e a humanização da medicina: já que Johnny é mantido vivo apenas para ser um objeto de estudo, para os médicos ele é um soldado mutilado, que não tem mais qualquer atividade cerebral e o único interesse que se tem no rapaz é saber quanto tempo ele sobrevive a completa privação dos sentidos e ao isolamento a que é submetido.

Enquanto acompanhamos a história de Johnny, acompanhamos também como todos os seus sonhos, amores, amizades e futuro foram destruídos em função de uma guerra muito maior do que ele sequer poderia dimensionar, como aconteceu com milhares de jovens ao longo dos anos. Muitos dos soldados não sobrevivem à guerra e muitos retornam à suas casas completamente traumatizados, completamente mudados, como Johnny. Nesse aspecto, suas mutilações físicas podem ser só uma metáfora para a mutilação interna que atinge qualquer sobrevivente de uma guerra.

Cena do filme de 1971.

Johnny Vai à Guerra fala especificamente sobre a primeira guerra mundial, mas como o livro pode facilmente descrever qualquer conflito mundial, ele voltou à moda novamente nos anos 60, com a Guerra do Vietnã e com a recusa dos jovens em se alistarem em um conflito que muitos consideravam sem sentido. O livro continua atual até hoje, já que o mundo ainda pratica guerras, como se não tivesse aprendido com o passado.

O livro foi adaptado para o cinema pelo próprio autor em 1971. Trumbo também dirigiu o filme e o resultado disso foi impressionante. Ninguém melhor que o próprio autor para saber o que é indispensável no filme. Dalton Trumbo, aliás, foi um roteirista muito famoso, que entrou para a lista negra de Hollywood depois que se recusou a testemunhar sobre a suposta infiltração comunista na indústria do cinema.

O filme é extremamente fiel ao livro e embora tenha sido gravado nos anos 70, não envelheceu mal, uma vez que nos mostra pouco e se mantém basicamente nas memórias de Johnny.

Johnny Vai à Guerra é um livro que fala dos horrores da guerra e como ela é capaz de destruir a juventude e o futuro.

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