Let It Be – A derrocada dos Beatles

Let It Be é um documentário musical que apresenta os Beatles no seu último ano juntos, acompanhando o dia a dia da banda, assim como os conflitos e as gravações do disco de mesmo nome.

Logo depois da gravação do White Album, em 1968, Paul McCartney chegou à conclusão de que os Beatles deveriam voltar às suas raízes e compor músicas mais parecidas com as do começo de carreira. O projeto também incluía uma volta aos palcos, com shows um pouco mais intimistas.

A ideia de voltar a fazer shows foi rapidamente cortada pelos outros integrantes da banda. Então, surgiu a intenção de produzir um filme documental que acompanhasse a gravação de um disco dos Beatles para a TV. No final, o documentário mudou de foco e acabou se tornando Let It Be, sendo até lançado no cinema.

O último show dos Beatles em Let It Be
O último show dos Beatles

Let It Be

Este é o quinto e último filme dos Beatles, e é bem diferente dos outros projetos da banda. Diferentemente dos outros filmes, que tinham uma trama que, mesmo fraca, pautava o longa, Let It Be é um documentário onde os Beatles não estão interpretando nenhum papel.

A ideia por trás do longa era acompanhar a gravação do disco de mesmo nome e é isso que o filme faz. O telespectador se sente como uma mosca dentro do estúdio da banda. O filme está bem longe da ideia que fazemos de documentário nos dias de hoje. Aqui não há um ponto de vista e nem ambição em provar nada, estamos literalmente acompanhando o dia a dia da banda.

Os Beatles durante as gravações do disco Let It Be
Os Beatles durante as gravações do disco

Acompanhando The Beatles

Assistimos então, os quatro chegando no estúdio, dentro do estúdio, gravando, conversando, pensando sobre as músicas e sobre as gravações e, naturalmente, discutindo e brigando. É interessante notar que o diretor Michael Lindsay-Hogg não faz nenhuma interferência no que sua câmera capta. Assim, ele se coloca no filme mais ou menos como um voyeur.

Assim como também não assistimos nenhuma entrevista de nenhum dos integrantes, nem da equipe técnica que acompanhava a banda, ou sequer das esposas dos integrantes, que nessa época estavam rondando pelo estúdio.

Let It Be é interessante na medida que registra os processos de gravação de uma das maiores bandas de todos os tempos e, mais ainda, a derrocada da banda.

O filme mostra os momentos finais da banda
O filme mostra os momentos finais da banda

A separação

No entanto, outra questão muito presente no doc é a iminente separação da banda. Diferentemente dos outros filmes estrelados pela banda, não acompanhamos piadas, diversão e companheirismo, e sim brigas constantes. Claro que é natural que isso aconteça porque estamos assistindo a um documentário, e os outros filmes eram todos atuados. Assim como também é natural que exista atrito entre integrantes de uma banda que passaram todos os dias juntos por dez anos, mas as cenas de Let It Be gritam um desconforto e um cansaço óbvio.

Em uma das cenas mais famosas do filme, assistimos uma discussão entre Paul McCartney e George Harrison, que insiste que vai tocar sua guitarra como McCartney quiser e caso o parceiro não queira, ele nem precisa tocar. Não se sabe o contexto da briga, porque acompanhamos só esse pedaço, mas sabemos por meio de entrevistas concedidas depois da separação da banda que Harrison se sentia constantemente diminuído pelos companheiros de banda e mais especificamente por McCartney e que McCartney era uma pessoa difícil de se trabalhar.

Let It Be então, retrata uma banda que já não tem mais para onde ir. Fica claro para qualquer pessoa que assiste ao filme que aqueles são os últimos suspiros de algo que já foi muito bom, mas que não é mais. O filme também acompanha o famoso último show dos Beatles, realizado sem aviso prévio em cima do telhado da Apple.

O documentário acompanha brigas e discussões
O documentário acompanha brigas e discussões
Aspectos técnicos de Let It Be

Este é um documentário relativamente comum, embora não se encaixe tão bem no tipo de documentário que é feito nos dias de hoje. Ele não apresenta entrevistas e nem explicações, mostra as gravações do disco e deixa que o telespectador decida por si mesmo o que acontece ali.

Também é um pouco parado, uma vez que apresenta sempre os mesmos ângulos e quase as mesmas cenas, que se modificam apenas pelo que os integrantes da banda conversam ou discutem. Para quem não é fã da banda, o filme pode ser bem cansativo, mas quem gosta de Beatles, certamente vai amar.

John Lennon e Paul McCartney em cena do filme Let It Be
John Lennon e Paul McCartney em cena do filme

Outro ponto interessante é que outros personagens que circundam a história da banda também aparecem no filme, como Mal Evans, assistente dos Beatles, Yoko Ono e Heather McCartney, filha do primeiro casamento de Linda McCartney, que mais tarde foi adotada por PaulLet It Be, no entanto, tem o seu valor, na medida em que acompanha um momento chave não só dos Beatles, mas também do rock e da música em geral.

As músicas

Naturalmente que as músicas que tocam em Let It Be são músicas dos Beatles e boa parte delas está presente no disco Let It Be, lançado em 1970. Mas, além disso, o filme também mostra a banda gravando outras músicas que não estão no disco. Entre as que fazem parte da trilha sonora estão Don’t Let Me Down, Maxwell’s Silver Hammer, I’ve Got a Feeling, Oh! Darling, Across The Universe, One After 909, Octopus’s Garden, The Long and Winding Road, e claro, Let It Be. Além de versões de Bésame mucho e You’ve Really Got a Hold on Me.

George Harrison
George Harrison

Let It Be é um documentário musical e por isso é bem diferente de musicais mais clássicos, que dependem das músicas para contar sua história. As músicas do filme não são acompanhadas de números musicais e nem empurram a história para a frente. Na maior parte dos momentos, nem existe relação entre as cenas que estamos assistindo e as músicas que estamos ouvindo. Embora seja natural que as músicas compostas pelos quatro integrantes da banda refletissem seus sentimentos e, portanto, possam ser relacionadas com a sensação de frustração, cansaço e esgotamento que os acompanhava no estúdio nos últimos anos de banda.

Let It Be é um retrato triste e melancólico dos últimos anos de uma das maiores bandas de todos os tempos e é curioso que no meio de tantas brigas e discussões, eles nos deixem justamente com essa mensagem: Deixe estar.

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