Maternal – A maternidade em todas as suas formas
Em Maternal, Luciana (Agustina Malale) e Fátima (Denise Carrizo) são duas jovens mães que vivem em um refúgio feminino, administrado por freiras. Fati, mãe de um menino (Alan Rivas) e grávida de uma menina é responsável e tímida, enquanto Lu, mãe de uma menina (Isabella Cilia) passa boa parte do seu tempo tentando escapar do local para se encontrar com um namorado.
A chegada da jovem freira, irmã Paola (Lidiya Liberman) muda a vida no refúgio e mais ainda quando Lu foge do local, deixando a filha Nina para trás, para viver com seu namorado.
A vida no refúgio de Maternal
O começo de Maternal é dedicado a demonstrar como é a vida das jovens no refúgio, através de duas meninas: Luciana, apelidada de Lu e Fátima, apelidada de Fati. Lu é mãe de Nina e Fati é mãe de Michael e está grávida de mais um filho e os quatro dividem um quarto, o que, naturalmente, aproximou tanto as duas jovens mulheres, quanto as crianças.
O refúgio é habitado por várias mulheres jovens, muito possivelmente menores de idade, que têm filhos ou estão grávidas e que vivem no lugar quase como prisioneiras. Ali elas comem, dormem, educam seus filhos, que vão para um jardim de infância comandado pelas freiras e também forjam relacionamentos que muito se assemelham à família, que parece ser uma questão fora da vida dessas meninas, abandonadas em uma espécie de internato.
Lu e Fati são melhores amigas, embora sejam muito diferentes e muitas vezes se comportem como irmãs. Em outros momentos, Fati não só atua como mãe de Nina, como também como mãe da própria Lu, que se porta muito mais como uma adolescente do que como uma mãe.
O instinto materno
O grande tema de Maternal, no entanto, é o instinto materno e a relação que se dá entre as mães e seus filhos e entre as mães e as outras mães e mulheres. O filme tem uma quantidade enorme de mulheres que são mães e uma série de mulheres que não tem filhos e, pela lógica, nem os terão, porque escolheram ser freiras. O universo de todas essas mulheres e de suas crianças circunda ao redor delas mesmas.
Lu e Fati são jovens mães que mal sabem cuidar de seus filhos. Lu não tem paciência para Nina e, muitas vezes, se comporta mais como uma opressora do que como mãe da menina. No entanto, seu instinto materno grita quando ela percebe que irmã Paola está tomando seu lugar no coração de Nina.
Fati cuida de seu filho e, muitas vezes, da filha de Lu, mas não consegue demonstrar amor pelo menino. A explicação não está só no fato dela ter sido mãe muito jovem e quando ainda não queria ser, mas também nas duras implicações de que suas duas gestações são frutos de um abuso ocorrido dentro de casa. Ela também faz o papel de mãe de Lu, que se comporta como uma adolescente e se mete em problemas e ciladas o tempo todo.
As freiras do local que, supostamente, deveriam cuidar das meninas que vivem no refúgio, são rígidas e muitas vezes, maldosas, até a chegada da irmã Paola, que é jovem, bonita, agradável e terna. Paola serve como mãe para Fati, cuja mãe real não acreditou nas alegações da filha sobre o abuso, e passa bastante tempo com ela, e mais tarde, vira em tudo, menos no papel, mãe de Nina, que passa a dormir no quarto da freira e, mais tarde, a reconhece como mãe. Maternal, então, é um filme com muitas mães, sejam biológicas ou não.
Aspectos técnicos de Maternal
O filme é bem simples, com um elenco pequeno e poucos cenários. Aqui tudo acontece no refúgio. Lu foge de vez em quando para encontrar um namorado, mas nunca assistimos essas cenas e só sabemos o que ela conta para Fati depois. O mesmo acontece quando ela foge definitivamente do refúgio, é como se Lu já não existisse mais na história. O sentido é claro: aquelas mulheres vivem em um mundo próprio, situado apenas naquele refúgio, e composto por aquelas mulheres e aquelas crianças.
Também é por isso que não existe nenhum homem no elenco de Maternal, eles são apenas citados, mas nunca aparecem: o namorado de Lu, o padrasto de Fati, os pais das crianças, os príncipes encantados que elas esperam. Maternal é um filme completamente feminino, na sua direção, no seu elenco, nos seus temas e nas suas tramas.
O longa esmiúça a maternidade e tudo que diz respeito a ela, já que aqui acompanhamos mulheres que não querem ter filhos ou não queriam ter naquele momento, mas os tem, e mulheres que não tem filhos, mas agem como mães. Além da questão materna, a trama também fala de outras questões que, invariavelmente, afetam muito mais as mulheres do os homens, como abuso sexual, violência doméstica e, em maiores medidas, violência de gênero.
E o que mais?
O filme faz um grande contraste entre as mães, que são jovens, descuidadas e desbocadas, e as freiras, que são mais velhas, estão sempre arrumadas e raramente se excedem. A distância está presente, inclusive, nas roupas dessas personagens: as jovens usam roupas curtas e coloridas, enquanto as freiras usam saias compridas e completamente brancas. A ideia é distanciar umas das outras, para depois aproximá-las na figura da irmã Paola, que é uma freira, mas é jovem e se comporta como uma mãe.
O filme tem ainda boas atuações, como as de Lidiya Liberman e Denise Carrizo.
Maternal é um filme que joga suas informações duras de maneira delicada, enquanto dá todos os protagonismos às personagens mulheres e usa dessas mulheres, em estado frágil, para falar sobre todas e com todas. O filme está disponível no Belas Artes À La Carte a partir do dia 01 de julho.