Maya, da palavra à imagem, filme de Mia Hansen-Løve
Maya é o filme da premiada diretora Mia Hansen-Løve, que também escreveu o roteiro. Prática, aliás, que tem se tornado marca do seu trabalho que vai deste a criação até a direção. Sempre tratando de relacionamentos familiares e suas consequências, tema que lhe rendeu em 2016 o prêmio Urso de Prata de melhor direção do Festival de Berlim com o filme O que está por Vir (L’Avenir), no qual dirigiu Roman Kolinda que também atua neste trabalho. Maya teve sua estreia na última edição do Festival Internacional de Cinema de Toronto.
À deriva
Gabriel (Roman Kolinka), um repórter de guerra francês, sequestrado e mantido em cativeiro por meses na Síria, é enfim libertado junto com seu amigo Frédéric (Alex Descas) depois de grande consternação e campanha na França. Sem saber o que fazer de sua vida a partir deste momento, com várias relações partidas ou deixadas de lado (pais e ex-namorada), sente-se à deriva.
Ele decide então voltar a Goa, Estado onde passou parte da sua infância, para se reencontrar e traçar um recomeço.
Maya
A principal personagem feminina da trama é Maya (Aarshi Banerjee). Filha de Monty (Pathy Aiyar), padrinho de Gabriel. A princípio ela mostra-se determinada a manter os negócios do pai, que a quer longe da Índia para progredir nos seus estudos. Mas há um evidente interesse entre Gabriel e Maya.
Índia
O filme enfatiza bastante a diversidade do país, mostrando aspectos de sua arquitetura e cultura, fruto de forte influências ocidentais e orientais dos diversos povos que participaram da sua colonização. Há uma interessante cena de Gabriel participando de uma cerimônia católica em Goa. As viagens de Gabriel são mostradas na forma de uma espécie de mosaico intercalando imagens do povo, edificações e muita natureza.
Atravessando o país de trem, Gabriel vai tentando encontrar-se buscando as palavras que podem reconstruir a sua trajetória, para poder continuar. Assim, é mostrada, através da competente fotografia de Hélène Louvart, uma Índia ainda exuberante, mas se transformando, infelizmente, para se enquadrar nos padrões exigidos pela indústria do turismo.
A globalização da crônica
Mia Hansen-Løve opta por contar histórias que fazem lembrar as antigas crônicas que tratam do dia a dia de pessoas, não há grandes rupturas, há um andar linear dos acontecimentos. Muda-se o cenário, pois o que antes era bem local, hoje abrange o mundo. Portanto, a globalização aproxima culturas diferentes e permite aos personagens transitar em diferentes países e realidades.
Por Jorge Xavier Franco de Castro
https://www.youtube.com/watch?v=xf8iynKConw