Me Chama de Bruna (2ª Temporada)
Entre Bruna e Raquel
Depois de começar a postar vídeos na internet, Bruna (Maria Bopp) ficou famosa e conseguiu sair do bordel onde trabalhava. Agora ela vive em um flat e cuida da sua própria carreira, mas quando conhece a boate Paradise, ela resolve que vai fazer de tudo para estar entre as garotas de programa que atuam lá.
Já na boate Cancun, Samira (Simone Mazzer) e Lukas (Ariclenes Barroso), mãe e irmão de Jéssica (Nash Laila), tentam cuidar da filha dela depois que Jéssica desapareceu, ao mesmo tempo que administram o bar.
Enquanto isso, Bruna cresce e ganha cada vez mais dinheiro, mas também se questiona sobre quem ela é.
A nova Bruna
Existe um salto bem grande entre a Bruna da primeira temporada, que ainda era uma amadora insegura, e a Bruna dessa temporada, que mudou completamente de vida e já controla a própria carreira. A nova Bruna já vive em um flat sofisticado onde ela recebe seus clientes, determina seus preços e decide o que ela faz ou não. A mudança está presente, inclusive, na aparência de Bruna, que agora tem um cabelo visivelmente mais bem tratado e usa roupas mais bonitas e mais elegantes.
Bruna Surfistinha começou a ficar famosa através de uma série de vídeos, ainda na temporada anterior. Nessa sequência, Bruna está, pela primeira vez, usufruindo os frutos de seu trabalho e se tornando cada vez mais famosa.
Mas logo no começo da temporada, depois de uma visita a uma boate de prostituição chamada Paradise, ela decide que quer fazer parte do time de garotas de programa que sempre trabalham ali e pretende fazer de tudo para conseguir isso. Ela também almeja ficar cada vez mais famosa e começa a se aproximar de Miranda (Maitê Proença), uma apresentadora de TV que não só está interessada em entrevistar Bruna, como também se sente atraída por ela.
Bruna e Raquel
Mas a segunda temporada também marca um dilema na vida de Bruna, que antes era Raquel. É justamente a sua vida pregressa que começa a pesar na cabeça da protagonista e ela passa a se questionar quem ela é.
Raquel e Bruna, embora sejam a mesma pessoa, são muito diferentes. Raquel é a adolescente tímida – afinal, Bruna tem apenas dezenove anos nessa temporada -, que tenta lidar com os seus traumas e com os seus problemas de família, enquanto Bruna é a garota de programa que parece disposta a tudo e que é extremamente segura de si. A personagem, no entanto, não sabe qual das duas ela realmente é.
Fica claro para o telespectador que Bruna Surfistinha é uma personagem até para a própria Raquel, que separa seu trabalho da pessoa que ela é, como acontece com frequência com mulheres que se prostituem. A diferença aqui é que Bruna está na profissão, na teoria, porque quer, mas ainda sente que precisa separar Bruna de Raquel.
O glamour e o abuso
Me Chama de Bruna também trafega entre outros dois extremos. Bruna é uma garota de programa e não existe qualquer dúvida de que essa é uma vida difícil, repleta de abusos, para qual muitas mulheres recorrem quando não tem outra opção, mas esse não é o caso de Bruna, que vem de uma família de classe média alta, e que diz com todas as letras que está na profissão porque quer e gosta, mas naturalmente nem tudo são flores.
Nessa segunda temporada, Bruna vive uma vida que é, aparentemente, mais glamourosa, e a audiência é apresentada a boate Paradise, que é bonita e bem cuidada, completamente diferente do bordel em que Bruna trabalhava na primeira temporada. Bruna se vê atendendo homens mais ricos, mas isso não a impede de sofrer uma série de abusos, desde agressões sexuais, até violências físicas. A série deixa claro que a profissão é difícil e perigosa, mesmo que se trabalhe em um lugar chique.
O Cancun, bar de Samira, que serve de fachada para outra casa de prostituição, é o oposto do Paradise, tudo é precário, sujo e descuidado. O ambiente não tem glamour, mas também tem público e as meninas sofrem os mesmos abusos que Bruna sofre, no seu flat ou na Paradise.
Aspectos técnicos de Me Chama de Bruna (2ª temporada)
A segunda temporada de Me Chama de Bruna não é completamente fiel à história da verdadeira Raquel Pacheco, mas segue caminhos interessantes. Aqui, Bruna já é uma mulher relativamente conhecida que posta vídeos sensuais na internet que lhe atraem clientes. Bruna, no entanto, é ambiciosa e quer mais, a temporada é marcada pelas tentativas da protagonista de crescer na carreira, buscando um lugar melhor para trabalhar e uma série de entrevistas em que pode ganhar ainda mais visibilidade.
A série ainda se preocupa com os personagens secundários, que são muito bem escritos. Samira e Lukas tentam manter o Cancun e a filha de Jéssica, que sumiu, sem deixar rastros; Georgette (Stella Rabello) se vê em problemas no seu próprio casamento, quando seu marido (Marcelo Menezes) descobre que ela é prostituta. A temporada tem ainda a adição de Michele (Wallace Ruy), mulher trans que se prostitui porque não encontra espaço em nenhum outro lugar.
Me Chama de Bruna brinca muito bem com a dicotomia, seja a que existe entre Bruna e Raquel, seja a que existe entre a glamourização da prostituição, através de Bruna, jovem de classe média que está na prostituição porque quer, seja no lado terrível da profissão, representado pelas outras meninas, que não têm escolha.
A série prende o telespectador rapidamente, é impossível largar antes de saber que caminhos Bruna vai tomar. A temporada não é tão interessante quanto a primeira, mas ainda é muito boa. A qualidade técnica é inegável: a fotografia é linda, cheia de luzes neon que lembram as boates onde Bruna trabalha, e o figurino dela se tornou mais sofisticado e mais cuidadoso, porque agora ela tem mais dinheiro. Tudo isso, no entanto, faz contraste com o Cancun e as meninas que trabalham lá, menos bem vestidas e menos bem cuidadas.
Maria Bopp se sai muito bem, sua atuação, aliás, parece ter evoluído junto com a série e automaticamente junto com Bruna. A série tem ainda outros destaques como Simone Mazzer, cuja personagem se divide entre mãe zelosa e mãe aproveitadora, Ariclenes Barroso, que apresenta um personagem divertido, mas complexo, Wallace Ruy, que se sai muito bem como Michele e Stella Rabello, ótima mais uma vez como Georgette.
A segunda temporada de Me Chama de Bruna mantém a qualidade da anterior, enquanto transforma sua protagonista em uma personagem profunda, cada vez mais distante das ideias pré-concebidas que se fazem não só das garotas de programa, mas também da própria Raquel Pacheco.