Memórias da Dor, visão de Marguerite Duras sobre guerra
Memórias da Dor é inspirado na obra da romancista Marguerite Duras. Marguerite Duras (Mélanie Thierry) busca o marido, preso político durante a segunda guerra mundial. Enquanto isso, ela se aproxima de um oficial (Benjamin Biolay), que é seu fã e pode lhe dar notícias do marido, ao mesmo tempo em que se afasta cada vez mais dos amigos e conhecidos e se vê presa na tristeza.
Autobiográfico
Adaptações das obras de Marguerite Duras para o cinema não são exatamente novidades. Os livros da autora já ganharam diversas adaptações, mas Memórias da Dor, de alguma maneira, parece a mais pessoal delas.
Mesmo O Amante, filme também inspirado no livro de Duras, que supostamente narra a relação da autora com um homem 12 anos mais velho quando ela era adolescente, e que, portanto trata de um tema extremamente pessoal, não soa tão perto de Duras quanto Memórias da Dor.
No filme, a protagonista leva o nome de sua criadora, o que coloca a obra muito próxima de Duras. Por isso, é óbvio que Memórias da Dor tem o seu valor. O filme conta ao espectador como Marguerite Duras se sentiu, não só em relação à prisão de seu marido, mas também à guerra de uma maneira geral.
A guerra de outro ponto de vista
Memórias da Dor também é um retrato da segunda guerra mundial, mas de um ponto de vista diferente do que estamos acostumados. Primeiramente, o filme se passa na França e não na Alemanha, como é comumente retratado no cinema.
O marido de Duras não é judeu, ou seja, ele está preso por motivos políticos. Embora o motivo exato não fique claro em nenhum momento do filme. A própria Duras tem uma posição privilegiada sendo uma escritora relativamente famosa. Tanto que ela fica próxima de um dos oficiais da polícia porque ele admira seu trabalho.
Este é um filme que nos mostra a segunda guerra mundial de um ponto de vista diferente do que estamos acostumados e que nos ensina que houve mais vítimas.
Aspectos técnicos de Memórias da Dor
A obra é bem contextualizada, fica claro desde o começo que se trata de um filme de época. Com um pouco mais de atenção é possível concluir mais ou menos em que época ele se passa ao certo. A produção é cuidadosa em relação a cenários, objetos e figurinos. O filme também é narrado por Duras o tempo todo, um aspecto que o aproxima da literatura e que ajuda o público a entender o que se passa na cabeça da personagem.
Por outro lado, o roteiro joga muitos assuntos, mas não se aprofunda em nenhum deles. Assim, fala-se sobre a segunda guerra mundial, embora seja mais como pano de fundo, sobre a prisão do marido de Duras, sobre a relação da escritora com seus amigos em comum, e sobre a aproximação de Duras com o oficial da polícia. Além de tudo isso, estamos dentro da cabeça dela enquanto ela se revolve na tristeza.
Talvez a obra original abarque todos esses tópicos, mas um livro geralmente tem mais tempo do que um filme. Memórias da Dor nos dá todos esses temas, que são interessantes, mas não desenvolve nenhum deles completamente. Por isso, em determinado momento, o filme acaba se tornando cansativo, uma vez que nenhum dos conflitos expostos se resolvem. O espectador se vê acompanhando o sofrimento de Duras o tempo todo. Nesse aspecto, o filme se alonga demais e acaba perdendo a atenção da plateia.
Leia aqui sobre outro filme francês
Certamente o longa tem seus méritos, como o ponto de vista exclusivo de Marguerite Duras sobre a guerra, mas se perde no meio do caminho. Memórias da Dor entra em cartaz no dia 6 de junho.