Mulher-Hulk: Defensora de Heróis – 1ª temporada
A primeira sitcom do MCU, Mulher-Hulk, acerta em tudo o que se propõe em fazer, justamente pelo efeito descompromissado do roteiro leve, divertido e de humor rápido, ácido e sagaz, à lá Brooklyn Nine-Nine, pegando o melhor do humor de uma série de advogados, com paródias ao próprio universo.
A showrunner Jessica Gao se provou ser uma das criadoras mais autênticas da Marvel no audiovisual nos últimos anos, fazendo bom proveito do material adaptado, tanto em compreender sua base (da cria de Stan Lee e John Buscema), quanto em saber ser inventiva dentro da mídia que opera.
Então, se a Mulher-Hulk quebrava a quarta-parede nos quadrinhos para falar com o leitor, agora ela faz o mesmo para falar com o espectador, como uma Fleabag com anabolizantes, ao mesmo tempo que cutuca tanto o nerdola que não aceita nenhum tipo de versão, quanto o próprio estúdio, que não para de repetir a própria fórmula (a autocrítica é ótima, mas será que vai mudar algo mesmo?).
Mulher-Hulk: Defensora de Heróis – 1ª temporada
Com tom leve, daquele tipo de programação semanal para se assistir na hora do almoço, Mulher-Hulk tem um elenco extremamente engajado e identificável, a começar pela apaixonante e sempre talentosa Tatiana Maslany, mas também com participações divertidíssimas de Ginger Gonzaga, um impagável Tim Roth, o retorno de Benedict Wong e até de Charlie Cox, entre outros, como o núcleo da advocacia, o núcleo familiar, o núcleo de supers, o núcleo dos incels etc. Alguns episódios parecem ir do nada para lugar nenhum, mas Gao é astuta e não faz nada de graça, cumprindo tudo com um propósito por trás, que vai repercutir de maneira completamente improvável no desfecho.
Desfecho esse aliás, que cabe apenas em uma palavra: brilhante. Fazendo excelente uso da metalinguagem, Mulher-Hulk usa de todas as ferramentas intrínsecas a personagem, ao mesmo tempo que cala inúmeras bocas quanto ao uso do CGi (há diversas sequências de encher os olhos, por mais que não seja o foco da narrativa). As participações de Demolidor, Abominável, Hulk e outros, são certeiras e não descaracterizam os figurões, por mais que os adequem no roteiro engraçadalho. E diferentemente da chatice estridente de Deadpool, Jennifer Walters sabe como desestruturar o próprio terreno, com charme e molecagem (a piada com a cobrança de X-Men é sensacional).
Esse é o tipo de série que poderia render 20 ou 30 episódios e passar ao longo de um ano inteiro, que não seria muito. Precisamos de mais leveza entre um épico e outro e Mulher-Hulk se encaixa perfeitamente nesse papel.