O Caminho para El Dorado, animação Dreamworks
O Caminho para El Dorado é uma animação de visual impecável, com ritmo inconstante e tom episódico. Sendo este o terceiro filme da DreamWorks, é visível que ainda buscavam certa identidade. Por isso, dado o período, não é de se estranhar a escolha por intercalar a trama com trechos musicais (que são legais nas mãos de Elton John e ajudam a empurrar a narrativa adiante) e uma escolha mais jovem-adulto para o público-alvo, com cenas de quase nudez, sangue e extrema sensualidade. Sim, Chel, estamos falando de você. Além do fato da dupla protagonista ser formada por dois caras extremamente gananciosos e trapaceiros.
Os diretores Bibo Bergeron e Don Paul não parecem saber ao certo qual caminho seguir na história. Por isso ela varia tanto com sensações distintas. Ora com ritmo acelerado, ora truncado. Mas é certo que pelo menos o primeiro ato se sai bem ao apresentar seus personagens e o que os leva até a mítica El Dorado. Mas esta não é uma história de redenção. Então, por mais que Túlio e Miguel se encantem pelo cenário, o local não os muda.
O Caminho para El Dorado
Mesmo com o roteiro indo do ponto A ao ponto B, quando chegamos ao final, parece não ter existido uma transformação. Vejam, por exemplo, a interessante promessa de ameaça na figura de Cortez, que como comandante da frota e típico colono espanhol, teria tudo para ser um dos vilões mais memoráveis das animações. Porém, ele é relegado a duas ou três cenas, não representando nada do que prometia.
Com isso, relega-se o papel de antagonista a Tzekel-Kan, que se figura mais como um tipo de fanático religioso e que em sua virada bizarra, torna-se vingativo. O que evidencia as escolhas criativas por aqui. Afinal, diretores e roteiristas nunca quiseram mostrar a chacina ou a deturpação cultural representada pela chegada dos espanhóis à América Central, e sim apenas se ater ao mundinho fechado de um povo utópico, preso aos seus costumes e que se encerram na história da maneira como começaram. Ignorantes do universo lá fora e ainda acreditando que dois meros homens brancos poderiam ser seus deuses.
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A química da dupla funciona bem, assim como já visto em outras produções com trapaceiros. Mas Túlio é um personagem chato e mesquinho, que só faz um único sacrifício (relacionado a ouro, aliás) no clímax, não o suficiente para torná-lo mais interessante. Miguel, por outro lado, compra a ideia do local, mas não por amar o povo nem se encantar por sua cultura, mas sim por gostar de ser tratado como divindade. Então meio que dá na mesma no final.
E Chel, que rivaliza com Jessica Rabbit como uma das personagens animadas mais sexys de todos os tempos, com aquela sua seminudez querendo aparecer de minuto em minuto, o corpo absurdamente voluptuoso e a linguagem corporal planejada para agradar masturbadores juvenis (que em parte se encaixa no público-alvo também) surge como a personagem mais contraditória. Ela é parte daquele povo, mas interessada em fugir com as riquezas de lá. Seu argumento de que quer conhecer o mundo, não se fundamenta em nenhum momento. Altivo, por outro lado, é o típico mascote disneyano, que se encaixa bem no enredo.
Com uma qualidade técnica incrível, O Caminho para El Dorado é de encher os olhos, mesclando em alguns momentos um uso estranho de CGi, em outros com uma fluidez impressionante de expressões. Mas talvez por temer tomar mais liberdades poéticas, a história se encerra de uma maneira muito aberta, deixando o trio solto num cenário desconhecido, enquanto o véu de El Dorado se fecha para o mundo novamente, como se nada tivesse acontecido. Como sempre deveria ter sido, afinal.