O Chalé no Fim do Mundo, de Paul Tremblay

Andrew, Eric e a filha deles, Wen, estão passando um tempo em um chalé isolado. O lugar parece idílico, até que a menina é abordada por um homem chamado Leonard, que se diz seu amigo e que lhe informa que ela não tem culpa de nada do que vai acontecer a seguir. Leonard então, chama mais três pessoas e ruma para a casa onde a família está.

Uma vez lá dentro, Leonard informa Andrew, Eric e Wen que o fim do mundo está próximo e que eles são os únicos que podem impedir a tragédia. Como? Eles precisam escolher alguém da família para sacrificar.

Enquanto Andrew e Eric se negam veemente a fazer isso, Leonard e os outros três invasores tentam provar que falam a verdade.

O fim do mundo

O título sagaz do livro – tanto na versão original, quanto na tradução brasileira – já dá a deixa do que vamos encontrar em O Chalé no Fim do Mundo: ele se refere tanto ao fato do local onde a família estar hospedada ser extremamente deserto e tranquilo, quanto ao fato de que o fim do mundo de verdade, supostamente, se aproxima. O Chalé no Fim do Mundo é um livro sobre o apocalipse, ou pelo menos, é o que Leonard, Adriane, Redmond e Sabrina, os invasores da casa, acreditam.

O livro tem como protagonistas uma família formada por Andrew, Eric, dois homens que tem em torno de 40 anos, e a filha deles, Wen, de sete anos, que passa um tempo em um chalé alugado, longe de tudo, onde eles acreditam que vão relaxar e passar bons momentos juntos. Não poderiam estar mais errados, já que o lugar é invadido por uma espécie de seita que diz que caso a família não escolha um deles para sacrificar, o mundo vai acabar. O grupo diz que teve visões de como será o apocalipse e que mesmo que a família se recuse a matar um deles, eles ainda não vão sobreviver e vão ter que assistir todas as outras pessoas morrerem de maneira terrível.

O suposto apocalipse presente em O Chalé no Fim do Mundo é apresentado de uma maneira bem criativa, aqui existe uma maneira de impedi-lo, mas ela é brutal, é impossível não se questionar se vale a pena salvar o mundo sendo que você vai perder alguém que você ama, e se perguntar se caso seja mesmo necessário fazer esse sacrifício, quem seria o escolhido?

Ao mesmo tempo, não existe uma certeza completa de que o fim do mundo está mesmo próximo, lemos o livro do ponto de vista de todos os personagens e temos acesso a todos esses pensamentos, e embora fique claro que os invasores de fato acreditam no que estão dizendo, eles também soam como malucos histéricos que acreditam em seitas e teorias apocalípticas. Esse é um dos grandes diferenciais do livro, já que quando lemos a trama do ponto de vista de Andrew, que tem certeza que o ataque é motivado por homofobia, temos a tendência a acreditar nele, mas quando lemos o ponto de vista de Eric, que tem uma criação mais religiosa e que aos poucos começa a se convencer do que os invasores contam, passamos a crer que o apocalipse está a caminho. Os invasores também soam extremamente convincentes, mas mais uma vez, que pessoa fervorosa não é?

Homofobia e histeria

Mas um dos pontos mais interessantes é o fato do livro conseguir falar sobre questões sociais, como por exemplo, a homofobia. A escolha de protagonistas que são homossexuais não é à toa, já que é natural, para os personagens e para o leitor, que a invasão, que aos poucos vira um ataque, pareça motivada por homofobia.

Esse é, inclusive, o primeiro pensamento de Andrew, a parte mais prática do casal, que fala abertamente sobre isso e deixa claro em todos os momentos que não acredita na história sobre o fim do mundo, mas tem a certeza de que os intrusos fazem parte de alguma religião intolerante que não aceita a família que ele e Eric construíram. Ainda que Leonard deixe claro o tempo todo que ninguém no grupo é homofóbico e que eles só estão ali porque precisam, a homofobia está presente na história, porque Andrew e Eric são um casal homossexual vivendo em um mundo homofóbico e porque, durante os flashbacks que descrevem a vida do casal antes da estadia no chalé, o leitor é apresentado a vários momentos de preconceito que eles viveram, e até a uma violência terrível e explicitamente homofóbica da qual Andrew foi vítima no passado.

O comportamento de Leonard, Redmond, Sabrina e Adriana, por outro lado, realmente soa histérico e digno de uma grande teoria de conspiração. Não é estranho portanto, que Andrew chegue a conclusão que eles fazem parte de alguma seita maluca, que realmente acredita no fim do mundo, ou de uma religião conservadora que não aceita a orientação sexual dos protagonistas e muito menos, a família “não tradicional” deles. A dúvida contagia o leitor, que não sabe se segue firme e forte na hipótese mais realista ou se também embarca na teoria do fim do mundo.

Adaptação de O Chalé no Fim do Mundo

O Chalé no Fim do Mundo foi adaptado para o cinema recentemente: o filme Batem à Porta, dirigido por M. Night Shyamalan, e estrelado por Dave Bautista, Jonathan Groff e Rupert Grint.

O filme é relativamente fiel ao livro, mas faz pequenas mudanças. A obra original tem um tom um pouco mais pessimista, mas não é um livro totalmente sem esperanças, tanto o livro, quanto o filme, no entanto, tem bastante tensão, é difícil largar a leitura, assim como é difícil tirar os olhos da tela, antes de saber o que exatamente vai acontecer.

O Chalé no Fim do Mundo tem uma perspectiva diferente de um tema muito comum no gênero do terror, e ainda que o horror aqui também seja um tanto quanto fantástico, ele é basicamente de origem humana, provando que o que existe de mais terrível no planeta é o ser humano, inclusive diante de um suposto apocalipse.