O Crime do Restaurante Chinês, HQ nacional
O roteirista e desenhista Guilherme Fonseca lançou no dia 9 de novembro O Crime do Restaurante Chinês. Inspirado no caso verídico que ocorreu no Carnaval de 1938 em São Paulo, o quadrinista reconta assim a história, subvertendo os fatos reais para conceber uma trama fictícia repleta de mistérios e assassinatos.
Baseando-se em referências fotográficas, Fonseca cria uma graphic novel visualmente arrojada, ágil e cheia de texturas para então construir uma atmosfera sombria, que transmite a sensação de que as páginas foram impressas há muito tempo. Elas estão manchadas de sangue, como se tivessem sido folheadas pelo próprio assassino.
Breve histórico
“Fevereiro de 1938. São Paulo amanhece com chuva intensa.
Corací, um jovem mineiro que acaba de chegar na cidade, está distraído demais para perceber que é perigoso navegar em águas turbulentas. Maria Xiu e Kim Shenzen administram o restaurante típico chinês da família. O lucro é então compartilhado com os primos e tios. Mesmo assim, faturando alto, a família de Maria Xiu quer que o restaurante retorne às origens.
O fiscal da prefeitura está no pé do casal. Os donos dos restaurantes no entorno promovem reuniões secretas. Ameaças anônimas chegam a todo instante. Mesmo quem sempre foi amigo agora os trata como invasores. A cidade grita enquanto os três fazem de conta que está tudo bem. Uma névoa adensa a cidade.”
As impressões deixadas por O Crime do Restaurante Chinês
A história é bem interessante e intrigante. As páginas são devoradas rapidamente, só parando para admirar a arte que ficou sensacional. Certamente é muito legal ver São Paulo desenhada com tantos detalhes. “A cidade é sem dúvida uma protagonista ativa no meu trabalho de quadrinhos. Ela evoca, inspira, corrompe e algumas vezes age como juíza, decretando sua sentença que desaba sobre a vida dos meus personagens, que se lançam em suas desventuras esperando que tudo dê certo”, diz o autor.
A HQ aborda o preconceito e o racismo. Corací é negro vindo do interior de Minas Gerais. Shenzen fugiu da guerra civil que assolava a China. Em São Paulo, eles se encontram ao trabalhar em um restaurante no centro. Esta história real caiu como uma luva para os temas que Guilherme queria abordar. Um crime que envolvia diferentes etnias e que tinha um homem negro como principal suspeito. Só é uma pena que seja tão curta! Quando chega ao fim, a vontade é que a história continue, o que ainda é possível, pois algumas pistas são deixadas pelo caminho.
A pesquisa foi longa e teve também o livro de Boris Fausto como base. A equipe retratou a São Paulo dos anos 30 com clima de filme noir, contemporâneo e misterioso. Os personagens muito bem retratados foram primeiramente fotografados com modelos reais. Um trabalho e tanto!
Game
A aventura do livro também inspirou o autor a desenvolver um game, mas nele, O Crime do Restaurante Chinês ocorre em Hong Kong. O jogo pode ser acessado no Google Play.
No jogo o terrível assassino Capa Amarela vem assolando a cidade de Hong Kong com uma série de crimes que podem estar com os dias contados. O Detetive Joarez descobriu as pistas que levam ao covil desse bandido inescrupuloso. No porto de Hong Kong, o Capa Amarela usa um restaurante tipicamente Chinês como fachada de onde administra sua rede de crimes. Chegar ao restaurante não será uma tarefa nada fácil uma vez que o Capa Amarela já sabe das intenções do detetive e enviou seus capangas armados até os dentes.
Dentro do restaurante chinês o Detetive terá que enfrentar novos desafios além de salvar os reféns e recolher as pistas para conseguir a chave que leva até o porão secreto. Mesmo que o detetive consiga passar por todos esses desafios ele ainda terá que enfrentar Ming-Huá, uma poderosa guerreira disposta a perder a vida para proteger seu chefe. Não esqueça de recolher sua munição no caminho dessa aventura nem de tomar o poderoso chá de ervas que restauram sua vitalidade.
Sobre o autor
Guilherme Fonseca é roteirista, diretor de arte e desenhista. Formado em Letras, tem experiência de 10 anos em criação de animações e histórias para o público infanto-juvenil, além de criar storyboards para o cinema. Seu projeto de história em quadrinhos Estação Luz foi premiado na edição de 2008 do Concurso de Apoio a Projetos de Criação e Publicação de História em Quadrinhos no Estado de São Paulo.
É autor da webserie Espia Aí!, premiada pelo Concurso de Webséries da Prefeitura de São Paulo. É proprietário da Hiperquímica Produções, empresa que atende os mercados cultural e publicitário. O Crime do Restaurante Chinês também foi premiado pelo ProAC em 2017. Esta é sua terceira obra publicada. Antes lançou Estação da Luz e Automatic Lover. Em O Crime do Restaurante Chinês, Lais Dias assina a colorização juntamente com Mauro Salgado.
O Crime do Restaurante Chinês foi um dos projetos selecionados no ProAC – Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo, em 2017. A HQ já está à venda na Amazon.