O Homem Perfeito, comédia nacional

Diana, aos 42 anos, é uma mulher bem-sucedida, com uma carreira estruturada, culta e que mantém um casamento feliz com seu marido. Ao menos, é o que ela achava – até descobrir que ele está lhe traindo com uma jovem aspirante a bailarina, de 23 anos. Por causa disso, ela cria o “homem perfeito” virtual para seduzir a garota e estragar o romance dos dois.

O Homem Perfeito é uma comédia romântica em que Luana Piovani não é o objeto de desejo da vez. Até a própria Piovani achou o fato uma novidade. Ela gostou de encarar o desafio de interpretar uma mulher supostamente chata e que leva um pé na bunda do marido. Eu particularmente não achei Diana chata, afinal, pedir pra alguém não pisar no banco do carro é ser chata?

A profissão de Diana é a de Ghost Writer, aqueles escritores que não levam o crédito pelos livros escritos, principalmente aquelas biografias supostamente escritas por sub-celebridades afora. Ela é uma mulher madura, confiante, segura de si mesma e com um emprego que lhe traz estabilidade financeira. Porém, seu marido Rodrigo, interpretado por Marco Luque, é um marmanjo sem emprego fixo que escreve tirinhas mensalmente para um jornal, recebe mesada dos pais e anda de bicicleta.

O Homem Perfeito

O casamento de Diana e Rodrigo desmorona quando eles estão discutindo sobre a vagabundagem de Rodrigo e ele confessa que conheceu outra pessoa. Diana o expulsa de casa. No dia seguinte ela é apresentada a mais nova celebridade que deve biografar: Caique, um astro do rock interpretado por Sergio Guizé. Ele estava terminando de gravar a novela “Êta mundo bão” e acabou deixando um pouco do sotaque mineiro escapar na gravação do filme. Nada grave.

Enquanto Rodrigo namora Mel (Juliana Paiva), uma bailarina de 23 anos que aparentemente não se importa com o fato do namorado não ter onde cair morto, Diana vai se aproximando relutantemente de Caique até que tem uma grande ideia: criar um homem perfeito para seduzir Mel e acabar com o relacionamento dela com seu ex. O Homem Perfeito é Carlos, um rapaz muito bonito, que luta pela causa animal, é ativista, viajador e gosta de comidas saudáveis. Ele se aproxima de Mel através das redes sociais, onde é muito fácil de se criar um perfil de mentira e seguir pessoas com os mais diversos interesses.

Evolução pessoal?

Por mais bobo que pareça, todas as confusões que acontecem pareciam necessárias na vida de cada um dos personagens, para que eles pudessem evoluir e entender suas próprias escolhas. Diana precisava passar por momentos de loucura e insensatez para perceber o que queria de verdade; Caíque precisava conhecer Diana, abrir seu coração para ela e tirar um pouco o manto do ídolo do rock inabalável; Mel precisava balançar as estruturas do relacionamento para entender que um homem perfeito não existe, que não se deve acreditar em tudo que está na internet e que ela poderia ser quem ela quisesse.

O único que não evolui nessa história toda é Rodrigo, que continua sendo um desenhista reconhecido, mas que não explora muito bem a sua arte e não está nem aí pra nada.

O elenco

Luana está ótima como a mulher enfurecida traída pelo marido e Guizé até convence como um rock star, uma mistura de Russell Brand com a criança interior que há dentro de Sergio, que mesmo fazendo piadas machistas não esconde seu lado mais angelical e inocente. Juliana Paiva está fofa como sempre, mas, Marco Luque parece estar interpretando a si mesmo.

É possível encontrar identificação com os personagens, pois a história é plausível. Diana é regrada, elegante e trabalhadora; Rodrigo prefere jogar videogame a ter que fazer social com os amigos da namorada; Mel ama viajar, dançar e faz a própria pasta de dente; e Caíque é um filhinho de papai.

A comédia é dirigida por Marcus Baldini (de Uma Quase Dupla e Bruna Surfistinha) e tem roteiro de Tati Bernardi e Patricia Corso. O elenco ainda conta com Eduardo Sterblitch como o chefe de Diana e Dani Calabresa numa participação especial como uma celebridade que lança uma “auto” biografia.

Pelo que conheço das crônicas da Tati Bernardi, eu imaginaria um final diferente para O Homem Perfeito, assim como muitos dos outros jornalistas presentes na cabine e coletiva de imprensa a que fomos convidados. Provavelmente eles decidiram seguir com a fórmula de um final feliz padrão, mas com certeza perderam uma oportunidade de reforçar a independência das mulheres. Mesmo com piadinhas machistas ao longo do filme, o longa diverte e traz mensagens relevantes para os tempos atuais de perfis fakes nas redes sociais.

O Homem Perfeito estreia nos cinemas no dia 27 de setembro.