O Rebanho – Filme sobre fanatismo e abuso

Selah (Raffey Cassidy) é uma adolescente que nasceu em um culto chamado O Rebanho, composto só por mulheres e um homem, que é o líder, conhecido como o Pastor (Michiel Huisman).

A menina frequentemente se pergunta sobre sua mãe, que morreu durante o parto e, conforme ela vai crescendo, vai notando pequenas falhas no que o Pastor fala, e começa a se questionar sobre o culto, o líder e sobre as supostas verdades pregadas.

O culto de O Rebanho

O filme coloca o telespectador dentro de um culto conhecido como O Rebanho. Ele é composto de várias mulheres que se dividem entre “esposas” e “filhas”. As esposas, que são as mulheres mais velhas, usam roupas vermelhas e mantém relações sexuais com o líder do culto; e as filhas, que são as mais jovens, usam roupas azuis e se comportam como adolescentes. Todas essas mulheres obedecem a regra de um único homem: o Pastor. Nenhum outro homem é permitido no Rebanho e eles vivem em casas abandonadas e tendas em uma floresta.

Nada no filme é muito explícito, mas a trama dá a entender que boa parte das filhas são realmente filhas biológicas do Pastor que, conforme se tornam adultas, passam a ser esposas do mesmo homem. Pouco sabemos também quais são os preceitos daquele culto e o que o Pastor prega, mas é claro que aquelas mulheres o seguem fielmente e o que o fanatismo quase as leva à histeria.

Existe, inclusive, uma competição entre as esposas mais velhas, que se sentem preteridas pelas mais jovens. A sensação que se tem é quase claustrofóbica pois, mesmo esses personagens vivendo ao ar livre, eles estão presos a esse culto repressivo que é, no mínimo, sinistro. As ideias do Pastor são questionáveis, especialmente se vistas de fora, mas fazem sentido para essas mulheres que acreditam cegamente no que ele diz.

Selah

A protagonista de O Rebanho é Selah, uma das filhas do Pastor que está entrando na adolescência. Selah nasceu no culto e, por isso, não conhece o mundo para além disso. A palavra do Pastor é, em sua concepção, soberana.

Mas, diferentemente das outras esposas e filhas, Selah não é tão crédula e é muito observadora e, aos poucos, ela vai pegando pequenas mentiras do Pastor que a fazem questionar o que ele diz. Quando ela tem sua primeira menstruação e, portanto, se torna apta a ser uma esposa, ela precisa ser afastada das outras mulheres e entra em contato com Sarah (Denise Gough), uma integrante do culto que foi proscrita.

Sarah tem ainda menos convicção no que o Pastor fala e começa a esclarecer ainda mais a mente de Selah. Acompanhamos o crescimento de Selah, que se vê em uma situação fora do comum, ela não conhece nada fora do culto, mas ainda se questiona se aquele é o melhor lugar para ela.

É interessante assistir a mudança no comportamento de Selah, conforme ela se torna adolescente e, ao mesmo tempo, vai deixando de ser tão ingênua e tão crédula, começando não só a notar as mentiras do Pastor, como também os abusos aos quais as mulheres do culto são submetidas.

Aspectos técnicos de O Rebanho

O filme escolhe falar sobre um assunto bem instigante e que sempre desperta curiosidade: um culto. A ideia já foi explorada em muitas produções e, em muitos casos, ganha um tom sinistro e assustador. Aqui esse tom está presente, mas o longa não é exatamente um filme de terror. É certo que O Rebanho é um culto um tanto quanto perturbador e, embora o filme não explique detalhadamente todas as práticas do Pastor, fica meio subentendido que o incesto e o estupro são questões comuns e aceitas.

O longa, no entanto, flerta com o gênero do terror, mas deixa o telespectador um pouco confuso. Embora tenha momentos assustadores e cenas incômodas, ele não apresenta, de fato, nenhuma trama assombrosa.

A ideia é bem interessante e o culto criado soa, inclusive, realista, no entanto, o filme demora muito para engrenar. Até boa parte da projeção é difícil entender exatamente o que o filme quer dizer. Isso somado aos cortes lentos, a história que não anima e os tons frios, acabam deixando o filme um pouco maçante.

Vale a pena?

Por outro lado, O Rebanho tem boas atuações, como a de Michiel Huisman, que nos apresenta um personagem sinistro, mas ainda assim, carismático e Raffey Cassidy, que é a protagonista e nos faz acreditar nas suas dúvidas e questionamentos. O resto do elenco também se sai bem e somos apresentados a verdadeiras cenas de fanatismo, que vão do bizarro ao assustador em segundos e que deixam a plateia bem nervosa.

As questões mais técnicas do filme também são bem cuidadas, existe uma fotografia bonita, repleta de paisagens naturais que não são acolhedoras, e repelem o público. Os figurinos reforçam esse sentimento, porque são, em sua maioria, em cores frias, como se deixasse claro que o telespectador não pertence ao Rebanho. O longa também deixa claro o tempo todo que as integrantes do grupo, de fato, são um rebanho, as ovelhas estão presentes em várias cenas, seja o animal, seja alguns brinquedos das meninas, seja a coberta que adorna as camas dos personagens.

O cabelo rebelde de Selah, que aparentemente se recusa a se manter preso em tranças como o das outras mulheres do culto, dá a sensação de que ela é, de fato, diferente e que mesmo nascida ali, ela não pertence a esse lugar. O público então, rapidamente entende que se existe alguma esperança para que o círculo de histeria e abuso seja quebrado, ela está quase que unicamente nas costas de Selah.

O Rebanho é um filme que soa realista e que consegue perturbar a audiência, mas como demora a mostrar a que veio, acaba se tornando cansativo e acaba perdendo a atenção do telespectador com o tempo.

O filme estreia nas plataformas iTunes / Apple TV, Google Play, Now, Vivo Play e Sky Play, no dia 12 de maio.