O Telefone Preto

Inspirado na obra de Joe Hill

O ano é 1978 e vários meninos desapareceram sem deixar vestígios no bairro onde Finney Shaw (Mason Thames) vive com seu pai (Jeremy Davies) e sua irmã mais nova, Gwen (Madeleine McGraw). Um boato de que os meninos estão sendo sequestrados por um homem – que ganha o apelido de “O Sequestrador” (Ethan Hawke) – ronda a vizinhança.

Quando Finney é sequestrado, ele acorda em um quarto à prova de som que só tem uma cama e um telefone preto que, segundo o Sequestrador, não funciona. Mas logo o telefone começa a tocar e Finney passa a receber ligações dos outros meninos sequestrados, que lhe passam dicas para que Finney não tenha o mesmo fim que eles.

Enquanto isso, Gwen, que tem sonhos premonitórios, luta contra o tempo para encontrar o irmão.

Ethan Hawke como o Sequestrador
Ethan Hawke como o Sequestrador

O Telefone Preto é inspirado no conto de mesmo nome de Joe Hill, que faz parte da coletânea Fantasmas do século XX – recentemente republicado como O Telefone Preto e Outras Histórias.

Violência em todos os lugares

O Telefone Preto é um filme cujo tema principal é um ato de violência – o sequestro e a morte de garotos pré-adolescentes -, mas o cenário onde esses personagens vivem já é, por si só, muito violento, independentemente das ações do Sequestrador.

Finney, o protagonista do longa, tem 13 anos e vive no subúrbio dos Estados Unidos. Seu pai, Terrence, é alcoólatra e violento, bate nos filhos sem qualquer remorso e torna a convivência em casa impossível. O garoto também é vítima de bullying, vive sendo perseguido e apanha sem dó de outros garotos, e nem Gwen escapa dos tapas dos meninos mais velhos e o único que consegue fazer isso parar é Robin (Miguel Cazarez Mora), amigo de Finney, que é sequestrado antes dele.

O filme trabalha muito mais com o terror real do que com o sobrenatural
O filme trabalha muito mais com o terror real do que com o sobrenatural

A violência acontece no momento do sequestro e durante o tempo em que Finney passa na casa do Sequestrador, mas ela já faz parte do cotidiano do protagonista desde sempre. Finney vive em um pesadelo, que só se torna pior ao longo da trama.

Terror de ordem natural e sobrenatural

Um ponto interessante aqui é que o filme trabalha em muitas instâncias e ele não é um terror que se escora só no sobrenatural, aliás, esse aspecto do filme é menos assustador do que o aspecto humano.

O grande terror de O Telefone Preto é um homem comum, um homem perturbado e muito perigoso, que usa uma máscara assustadora, mas ainda um homem comum. O Sequestrador não é um monstro, não é um ser sobrenatural e não é uma criatura para a qual não se tem uma explicação de ordem natural. O Sequestrador é um serial killer de meninos cujo modus operandi até lembra o de alguns serial killers reais.

O Telefone Preto é inquietante e perturbador
O Telefone Preto é inquietante e perturbador

A parte sobrenatural fica por conta do telefone, que recebe ligações de outras vítimas do Sequestrador e que apenas algumas pessoas podem escutar. Claro que a ideia de conversar com pessoas que já morreram soa assustadora em alguma medida, mas no longa, os garotos mortos ligam para Finney para ajudá-lo a se salvar. Até a capacidade de Gwen de ter sonhos premonitórios também é de ordem sobrenatural, e serve para que ela consiga procurar seu irmão desaparecido.

O Telefone Preto então, faz essa inversão, onde o que é humano é muito mais assustador e perigoso do que o que é sobrenatural.

Aspectos técnicos de O Telefone Preto

O que temos aqui é um filme bem-feito, com aspectos técnicos bem pensados e cuidadosos. O longa se passa nos anos 1970 e os figurinos remetem bem a essa época, as roupas de Gwen são especialmente bonitas.

A parte sobrenatural do filme assusta menos que a parte realista
A parte sobrenatural do filme assusta menos que a parte realista

A trama, inspirada no conto de Joe Hill, também é bem interessante, a forma com que o longa cria esse ambiente que já é assustador muito antes da chegada do Sequestrador prova que a ideia é falar do mal humano, cometido por seres humanos, embora a trama tenha muitos elementos sobrenaturais. A lógica é bem próxima de obras como A Coisa, de Stephen King – pai de Hill – e Deixa Ela Entrar, de John Ajvide Lindqvist, onde os protagonistas, também crianças, se deparam com a violência o tempo todo antes de encontrarem com o que é considerado o terror maior da trama.

O Telefone Preto é um filme de terror que apresenta alguns jump scares pontuais, mas que aposta muito mais no sinistro e no perturbador. A trama é por si só inquietante, e essa sensação aumenta porque nunca fica exatamente claro o que o Sequestrador faz com suas vítimas, embora muitas coisas sejam insinuadas. A máscara e o comportamento do Sequestrador são outros elementos que perturbam. A tensão também é uma constante no filme, cada minuto em que Finney passa no porão do Sequestrador parece, para a plateia, o momento final do garoto.

Finney e Gwen em O Telefone Preto
Finney e Gwen

O longa também ganha muito com suas atuações, inclusive a das crianças. Mason Thames está ótimo e sua atuação é bem convincente, Madeleine McGraw é um show à parte, a atriz é muito carismática e o fato de sua personagem ser uma das mais interessantes do filme a ajuda demais. O grande destaque é de Ethan Hawke, que não aparece tanto, mas construiu um sequestrador bizarro, perturbado e bem medonho, sua postura corporal e sua voz bem fina assustam bastante.

O Telefone Preto é um terror que explora muito mais o medo do real do que do sobrenatural e se sai bem fazendo essa inversão, o filme perturba, assusta e deixa a audiência tensa, exatamente como um filme de terror deve fazer. O longa chega aos cinemas no dia 21 de julho.

O Telefone Preto

Nome Original: The Black Phone
Direção: Scott Derrickson
Elenco: Mason Thames, Madeleine McGraw, Ethan Hawke, Jeremy Davies, Banks Repeta
Gênero: Terror, Suspense
Produtora: Universal Pictures
Distribuidora: Universal Pictures
Ano de Lançamento: 2021
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