O Último Duelo

Batalha de Fake News

Ricos brigam por especulação imobiliária. Pessoas estavam morrendo por causa de uma peste. Notre Dame está sendo construída em meio a uma Paris imunda. E, numa história mais intimista, um julgamento onde um lado acusa o outro de espalhar fake news. “O Último Duelo” se passa em 1386, mas o cenário no qual ele se monta parece incrivelmente atual.

Baseado em uma história real, este é o novo filme de Ridley Scott, que não tinha lançado nada desde “Todo o Dinheiro do Mundo“, de 2017 (aquele filme que teve que ser filmado duas vezes: uma com o Kevin Spacey e outra com um ator não-cancelado); mas que este ano volta com dois filmes – “House of Gucci” está previsto para chegar aos cinemas na temporada de filmes “oscarizáveis“, trazendo também Adam Driver no elenco.

O Último Duelo

Ben & Matt

Em um dos momentos mais óbvios da película, Matt Damon se ajoelha perante Ben Affleck e jura lealdade. Essa é outra cena que poderia se passar em qualquer momento da história. Os dois não só atuam no filme como também é deles o roteiro. Em algum momento eles chamaram a roteirista/diretora Nicole Holofcener para ajudar na parte feminina da história.

Matt interpreta o cavaleiro francês Jean de Carrouges. Já Ben acabou ficando com um papel um pouco mais coadjuvante (apesar de imensamente hedonista, ele deve ter escolhido de propósito). Jacques Le Gris, o outro personagem principal, caiu no colo de Adam Driver, novo queridinho de Hollywood e o galã mais feio do cinema desde o cancelamento de Johnny Depp.

As atuações de ambos são bem competentes, mesmo que o público se afaste um pouco da realidade do contexto da obra toda vez que elogiam a beleza do Jacques Le Gris, personagem de Driver. Só não dá pra elogiar demais nenhum dos atores porque foram todos ofuscados pelo brilho e excelência do trabalho da verdadeira protagonista dessa história.

Marguerite de Carrouges

A esposa de Jean de Carrouges foi atacada e estuprada por Jacques Le Gris.

Esse é o fio que vai guiar totalmente a história e ele demora um pouco para chegar, mas é conduzido de maneira brilhante: a mesma história é contada pelo ponto de vista dos três personagens, com um grande destaque para a versão de Marguerite, o que não somente é bom para o próprio roteiro como não deixa de ser uma reparação histórica, já que ela não parece ter tido a atenção que merece, afinal nem tem seu próprio artigo de Wikipedia (aqui estão as páginas do Jean e do Jacques, com spoilers do filme, é claro, já que a história é real).

A personagem é interpretada com maestria por Jodie Comer – que eu passei o filme inteiro com a sensação de que a conhecia de algum lugar recente e tinha sido de Free Guy, onde ela também conquistou meu coraçãozinho. Ela alterna a leveza e o peso que a personagem precisa em cada cena e prova nesse filme que ela não veio para ser só mais um rostinho lindo de Hollywood.

Jodie eleva a personagem acima do que o roteiro previa e isso melhora muito o filme como um todo, principalmente dado o sensível tema que é abordado de forma crua. A sensação que fica é que ela merecia ainda mais destaque e tempo de tela.

O Último Duelo

“Não” é “não”

Constantemente, os diálogos e acontecimentos causam um proposital desconforto na audiência. Como a história vai e volta dependendo do ponto de vista, há cenas que sabemos o que vai acontecer e qualquer diretor mais covarde poderia deixar apenas a sugestão do ato. Ridley Scott não tá nem aí pros alertas de gatilho de twitter e nos obriga a ver a mesma cena desconfortável de novo e de novo. E depois nos faz assistir aos diálogos de homens cheios de si discutindo o fato como se fosse um pênalti de futebol.

A revolta que isso nos causa e a forma como a história é contada salvam o filme de ser apenas um grande novelão mexicano. E, quando finalmente, o tal duelo do filme chega, ele se transforma em algo empolgante, com uma coreografia de luta tão bruta e visceral que nem parece haver coreografia nenhuma.

Mas o ponto mais doloroso do filme foi sair do cinema e acompanhar as notícias sobre a absolvição de André de Camargo Aranha, acusado de estuprar Mariana Ferrer. E é descobrir que a parte mais atual do filme não é a construção de Notre Dame ou o amor de Ben & Matt, mas é essa impressão de que, desde os tempos medievais, tão pouco foi avançado em temas tão importantes.

O Último Duelo

Nome Original: The Last Duel
Direção: Ridley Scott
Elenco: Matt Damon, Adam Driver, Jodie Comer, Harriet Walter, Ben Affleck, Alex Lawther
Gênero: Ação, Drama, História
Produtora: 20th Century Studios
Distribuidora: 20th Century Studios
Ano de Lançamento: 2021
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