One Piece – A Série – 1ª temporada (2023)
Divertido e aventuresco, versão prova que a Netflix encontrou a receita certa para adaptações de animes e mangás, finalmente.
Sempre comento que nunca passei da Red Line nos mangás criados por Eiichiro Oda, quando os li no começo dos anos 2000. Conheço tanto sobre One Piece, quanto manjo de Star Wars, ou seja, só na superfície, só por alto, mas o suficiente. Mesmo assim, estou décadas (literalmente) para trás dos verdadeiros fãs do mangá, ainda que algumas léguas adiante dos leigos totais.
Independente dessas medições, a série da Netflix concretiza algo que até vinha se provando quase impossível: a dificuldade quase doentia de Hollywood ou do ocidente em conseguir adaptar animes sem soar absurdo como um Dragon Ball Evolution (ainda que Alita: Anjo de Combate, já fosse um ótimo passo nesse sentido); até mesmo entre os japoneses, vide que seus live-actions muitas vezes ficam no meio do caminho (ainda que Bleach e Rurouni Kenshin tenham sido bem decentes). A série de One Piece funciona em tudo o que se propõe, do texto ao visual.
Com cenários deslumbrantes, filmados em localizações reais, ao invés da aplicação exagerada do fundo verde, com uso impressionante de efeitos especiais e de criaturas em CGi (que arrebenta a maioria dos filmes feitos por grandes produtoras cinematográficas nos últimos anos), figurinos fiéis ao original e um elenco honestamente envolvido nessa trama. Iñaki Godoy É o Luffy, não só fisicamente, mas em espírito. Sua atuação é verdadeira, seu olhar e fisicalidade entregam tudo o que o protagonista representa, tanto nas páginas do mangá, quanto no anime. Mackenyu Arata, filho do grande Sonny Chiba, é Zoro cuspido e escarrado, conseguindo passar suas ironias e rabugentice na medida. Taz Skylar e Jacob Gibson esbanjam carisma como Sanji e Usopp, respectivamente. Emily Rudd, que eu já havia me apaixonado antes em Rua do Medo 2, é o grande coração do seriado, como uma encantadora e nada confiável Nami.
Outros nomes reconhecidos da indústria super compraram a versão maluca de seus personagens em tela (que certos detratores gostam de acusar similaridades com LazyTown, mas que não poderia ser mais positivamente uma verdade). Claro que algumas perucas de cabelos coloridos ou figurinos inacreditáveis para personas de poder podem soar estranhos para o grande público leigo (não dos principais, ali tudo se encaixa), mas em um ou dois episódios, compreendendo a proposta da série (que é a mesma do anime, que é a mesma do mangá), o espectador logo vai embarcar nessa loucura (sem perdão pelos trocadilhos). O roteiro sabe encaixar toda a apresentação da primeira formação do grupo enfrentando alguns vilões e explicando seus passados, de maneira coesa, divertidíssima e aventuresca, como uma ótima sessão da tarde para todas as idades e gostos (que transita entre um Piratas do Caribe, Goonies e os longas de super-heróis mais cômicos). É evidente que, na produção, estão envolvidas pessoas realmente apaixonadas pelo material de origem.
One Piece da Netflix não é uma adaptação por adaptação. Aqui tem coração. E não à toa (talvez com exceção da própria fanbase, que sempre será implicante em qualquer meio), essa versão tem sido um sucesso tremendo entre pessoas que sequer conheciam o mangá ou o anime. Porque na essência da obra, não importa em qual mídia ela se aplique, estão todos os acertos narrativos de Oda enquanto autor. Ele fisga você seja em mangá, anime ou série. Veja só eu, por exemplo. Agora dê uma chance você também.