Oppenheimer (2023)

Biografia explosiva se mantém em cima do muro para entregar ao mesmo tempo uma jornada asséptica e um espetáculo sensorial.

Temos aqui o Christopher Nolan de “Dunkirk”, não de “O Cavaleiro das Trevas”, “O Grande Truque” e “Inception”. Aquele Nolan com os dois pés fincados no chão, mais preocupado em retratos quase fidedignos da realidade, ou de uma percepção de um período, demonstrando de maneira apaixonada a persona do físico J. Robert Oppenheimer quando cooptado para ser o cabeça do Projeto Manhattan, as pessoas importantes ao seu redor, suas inclinações políticas e as consequências inevitáveis de seu trabalho.

Cillian Murphy encarna o biografado de maneira assombrosa. Robert Downey Jr., Tom Conti, Florence Pugh, Emily Blunt, Matt Damon, Robert Downey Jr. e um vasto elenco de rostos conhecidos representam figuras históricas fundamentais para compreensão desse denso enredo, que até abraça as discussões políticas (intrínsecas ao todo) e os conflitos de relacionamentos. A narrativa não-linear típica do diretor está muto bem estruturada nesse filme, com passagens a cores e em preto e branco para marcar diferentes períodos (e pontos de vista), com uma montagem cirúrgica de minieventos, que contribuem o tempo inteiro para que as cravadas três horas de sessões não se tornem uma tortura. Pelo contrário, aliás, o público nem nota a rodagem passar.

Mas o verdadeiro interesse de Nolan reside nos aspectos técnicos, não pessoais. O lado humano está ali, sim, impresso principalmente nas ótimas atuações, porém o diretor foca seus esforços e excelência na direção de arte, na construção de expectativa para o primeiro teste da bomba atômica e, principalmente, na edição de som e trilha sonora. Ludwig Göransson emula o antigo parceiro de Nolan, Hans Zimmer, na gravidade e em algumas batidas, mas consegue extrair momentos grandiosos, que são os principais motivos para o impacto de Oppenheimer durante a sessão. Inclusive, em suas cenas de silêncio absoluto.