Para Todos os Garotos que Já Amei, um filme original Netflix

Subvertendo os clichês do gênero, esta adaptação literária consegue fornecer uma história leve e com boas e pequenas surpresas.

A começar pela protagonista não seguir os padrões caucasianos de Hollywood (e eu sei que a autora do livro também é asiática, por isso desse retrato, mesmo assim a escolha é louvável), Lara Jean Song Covey é descendente de coreanos (com pai americano), um pouco tímida e bastante discreta, inclusive em relação aos seus sentimentos – ela prefere preservar tudo para si, registrando suas paixonites em cartas endereçadas aos paqueras, mesmo que jamais enviadas… até que elas são e cada crush recebe a mensagem escrita (em períodos diferentes da vida dela), o que coloca a menina em uma intrincada cama de gato, envolvendo um colega de infância que está terminando o namoro com sua ex-melhor amiga e a paixão pelo melhor amigo que namorou sua irmã.

Nesse contexto, temos todas as figuras clássicas do young adult, passando pela ex revoltada e vilanesca, a melhor amiga louquinha, o colega gay com boas sacadas, a caçula com uma inocência adorável, em um enredo doce, sem grandes gravidades, mas que também consegue desviar com eficiência dos clichês do gênero, subvertendo algumas situações (como o ponto-chave, do crush, que ora parece ser um, mas logo se revela outro e surpreende do meio pro final), sem as típicas cenas do formato (então nada de declarações em público ou lágrimas na chuva), com uma adolescente se comportando como uma adolescente e sequências se desenvolvendo de maneira orgânica dentro do contexto proposto.

Lana Condor está ótima na figura da protagonista, meio vintage, mas que surpreende em atitudes que toma, sem perder sua linha de personalidade; assim como os caras, Noah Centineo (que mostra o outro lado do esportista escolar) e Israel Broussard (que se parece muito com aquele seu amigo de sempre), com um elenco reforçado por atores bastante à vontade em seus papéis, ainda que menores e pontuados por funções específicas na trama, mas que fluem naturalmente no todo.

Susan Johnson é bastante eficaz na adaptação do best-seller, propondo um novo caminho para a comédia romântica adolescente, sem panfletagem ou polêmicas, nem mesmo intencionando reinventar a roda, se preocupando unicamente em narrar uma história leve e bonitinha para seu público-alvo, que certamente vai se identificar com pelo menos um dos personagens em tela, em uma sessão suave, que não precisa de muito para agradar.