Sombra

Pedro, o filho de Isabel (Ana Moreira) desapareceu sem deixar vestígios e ela exige que a polícia o procure o mais rápido possível, mas a investigação é descuidada e ninguém encontra o garoto.

Anos depois, Isabel segue com a certeza de que Pedro está vivo e continua procurando. O desaparecimento do garoto vai aos poucos corroendo sua família, que não consegue superar e nem esquecer.

Sombra é inspirado em um caso real.

O desaparecimento

O grande mote de Sombra é o desaparecimento de Pedro, um garoto de onze anos, mas curiosamente ele não é o protagonista do filme. Quando o filme começa, Pedro ainda não está desparecido, e o telespectador assiste o último dia dele com a família. Não temos acesso, porém, ao que aconteceu com ele, quando ele some, ele some do filme, das vistas da família e das vistas da audiência.

Existe um pouco de investigação no filme, embora fique estabelecido que a polícia não está se esforçando muito para encontrar o garoto, e em alguns momentos até acompanhamos alguns interrogatórios, que servem mais para mostrar os erros cometidos pela polícia e pelas autoridades.

Sombra, que é um filme longo, tem ainda alguns momentos que se passam em um tribunal, onde também assistimos a vários depoimentos e onde supõe-se que o caso finalmente será resolvido.

A família

O foco de Sombra, na realidade, é a família de Pedro. A verdadeira protagonista do filme é Isabel, a mãe que nunca desiste de buscar seu filho. A trama ainda dá outros destaques, como o avô de Pedro, Antonio (Vítor Norte), que falece durante a jornada, o pai, Mário (Miguel Borges), que tenta segurar as pontas, e a irmã, Sara (Oksana Tkach), que cresce cercada pela falta de Pedro.

Nesse sentido, quem busca um filme de investigação mais tradicional, focado em buscas, pistas e revelações, vai sair meio decepcionado, já que a investigação tem pouco espaço no longa e serve mais para demonstrar o descaso da polícia com o desaparecimento e que embora o filme tenha um clima de mistério bem interessante, ele não tem muitos plot twists.

No entanto, Sombra tem essa visão um tanto quanto única, que é a de mostrar uma família que continua esperando a volta dessa criança, sem saber o que aconteceu com ele, se ele está bem ou sofrendo, se ele está vivo ou morto e que, claro, sem respostas não consegue seguir em frente. A família vive um luto sem corpo e sem certeza, alguns decidem continuar acreditando na possibilidade de Pedro voltar, como Isabel, outros esperam só saber que fim o menino levou, de qualquer forma, o luto não passa jamais e nem a angústia.

Aspectos técnicos de Sombra

Sombra é um filme que retrata um crime real, o desaparecimento de Rui Pedro, de onze anos, em Portugal, em 1998, e que nunca foi solucionado. Como todos os casos que envolvem pessoas desaparecidas, o caso de Rui Pedro tem muitas hipóteses e muitas pistas, o garoto teria sido avistado na Disney Paris e, supostamente reconhecido em vídeos de pornografia infantil que foram apreendidos pela polícia em uma operação, mas nenhuma pista levou a nada e, em 2019, Rui Pedro foi dado como “presumivelmente morto”.

Obras que retratam crimes reais são comuns e se tornam cada vez mais populares, inclusive no Brasil, mas Sombra não é um filme de true crime muito comum, já que a investigação não é o foco principal do longa, aliás, pouco sabemos das pistas, acompanhamos alguns interrogatórios e ouvimos qualquer coisa sobre os vídeos de pornografia infantil, mas nenhuma possibilidade do que aconteceu com Pedro é realmente aventada, já que não se sabe o que aconteceu de fato. O foco do filme é na família e como eles lidam com esse sumiço, com a grande probabilidade da morte, com a possibilidade de que a criança sofreu ou ainda está sofrendo, com o medo constante de descobrir um corpo, e a angústia permanente de não se saber absolutamente nada.

O filme se apoia bastante na atuação de Ana Moreira, que é ótima, não só a acompanhamos lutando para encontrar Pedro, como também vemos a aparência dela mudar, enquanto ela se torna triste, nervosa, preocupada, dilacerada por essa dor. As outras atuações também são consistentes, e se destacam Miguel Borges e Vítor Norte.

Por outro lado, Sombra é um filme que se alonga demais, o que é compreensível, já que ele quer narrar vinte anos da vida dessas pessoas, mas ele pode se tornar cansativo, principalmente porque não apresenta muitas reviravoltas e praticamente não nos dá pistas.

Sombra é um filme interessante até para quem não conhece o caso de Rui Pedro, que com certeza vai terminar de assistir com vontade de saber mais sobre o assunto, e é uma boa forma de manter viva a memória do garoto que nunca foi encontrado.