Space Jam: Um Novo Legado – Cringe!

Há um momento certo para se assistir Space Jam: esse momento é 1997, quando você é uma criança de 11 anos. Depois disso é ideal que nunca mais se toque no filme de novo e se conviva apenas com as doces memórias e com o hip hop pegajoso de sua música tema. Quem fizer isso vai ter tatuado em sua mente o filme como uma pérola da dramaturgia, um verdadeiro clássico dos anos 90. Estrelando Michael Jordan e Pernalonga, tem desenhos animados jogando bola e alguma história que envolve o espaço, para poder justificar o título.

O que ninguém pedia era uma continuação – e ela chegou! Space Jam: Um Novo Legado finalmente estreia, com os mesmos grupos de desenhos animados, um novo jogador de basquete, uma história com menos sentido ainda e nada de espaço que justifique o título.

Space Jam: Um Novo Legado

Da NBA para as telas em Space Jam: Um Novo Legado

Parece que o ápice da carreira de qualquer atleta da NBA é ser recrutado por um coelho para jogar basquete. Lebron James é o astro da vez – talvez chamado por conta da sua participação bem legalzinha na comédia Trainwreck (que eu acabei de descobrir que, em português, se chama Descompensada).

A história é qualquer coisa: tem um vilão que é um algoritmo de computador que vive nos próprios servidores da Warner, personificado pelo Don Cheadle, que já reclamou do excesso de fundo verde nas gravações (e olha que ele fez um monte de filme da Marvel). Ele nem se preocupa em inventar uma desculpa para fazer o astro jogar basquete com desenhos animados, ele simplesmente anuncia que isso vai acontecer e pronto, ninguém vai se lembrar do roteiro mesmo.

Space Jam: Um Novo Legado

Chuva de referências

O que falta em roteiro sobra em referências pop. A Warner não poupou nenhuma de suas grandes franquias e meteu tudo lá: tem Harry Potter, Matrix, Casablanca, Hanna Barbera, Animaniacs, os heróis da DC, King Kong… Até Rick and Morty fazem uma ponta.

O filme parece um showreel maluco da empresa: apesar de aparecer essa galera toda, em nenhum momento nenhum deles têm qualquer relevância e tudo fica parecendo um gigantesco “Onde está Wally” de cultura pop – mais ou menos como ficar procurando personagem em Jogador Número 1, só que sem a história do filme pra dar liga.

Space Jam: Um Novo Legado

Veja aqui nossa seção de resenhas sobre animações

As referências são atiradas desordenadamente sem qualquer sentido e sem qualquer relevância. É tudo tão preguiçoso que os produtores fizeram questão de contratar o pior time de figurantes da história do cinema para incorporar esses personagens. Eu já fui em festas de fantasia universitárias em que os convidados estavam melhor caracterizados.

É como se chuva de referência (para não usar o termo fan-service, que eu não gosto muito) fosse a ordem da vez no cinema: funciona tão bem em Lego Movie e Lego Batman… é como se só a Lego soubesse fazer. A empresa de brinquedos parece ser a única que aprendeu alguma coisa com Uma Cilada para Roger Rabbit.

Não que não seja legal: é evidentemente divertidíssimo ficar encontrando os personagens clássicos de outras franquias interagindo com os Looney Tunes. Mas não dá para segurar o filme todo nisso. Parece que a confiança nessa muleta era tão grande que os roteiristas esqueceram de escrever as piadas.

Space Jam: Um Novo Legado

A falta que um Chuck Jones faz

Para quem é fã dos Looney Tunes, há também as próprias referências internas aos melhores episódios: aqueles clássicos dirigidos pelo Chuck Jones que hoje em dia viraram até memes. Mas os personagens não se esforçam em piadas novas. O humor é raro e raso: uma ou outra piada óbvia aqui e ali e somente uma única piada genial envolvendo o Michael Jordan que merece destaque. Muito pouco para uma trupe animada que entregava uma piada por cena em filminhos de 6 minutos.

Aliás, o tempo de tela também é um problema. Com quase duas horas, o filme se beneficiaria muito com meia hora a menos. Não que a história fosse melhorar, mas ele demora demais para engatar e deve ficar enfadonho para o público infantil. As pouquíssimas piadas e inúmeras referências são muito adultas mesmo: é difícil qualquer criança achar legal a cena onde os personagens aparecem no Café do Rick, aquele do filme Casablanca. O que me faz pensar que o público alvo do filme seria mesmo aquela galera que assistiu o primeiro Space Jam 25 anos atrás, na longínqua década de 1990.

No final, o filme não deixa um novo legado e soa apenas como uma grande oportunidade desperdiçada.

Space Jam: Um Novo Legado

Nome Original: Space Jam: A New Legacy
Direção: Malcolm D. Lee
Elenco: LeBron James, Don Cheadle, Cedric Joe, Khris Davis
Gênero: Animação, Aventura, Comédia
Produtora: Warner Bros.
Distribuidora: Warner Bros.
Ano de Lançamento: 2021
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