The Boys in The Band – Inspirado em peça da Broadway

Michael (Jim Parsons) é um homem gay solitário que vive em Nova York. Ele planejou uma festa para seu amigo Harold (Zachary Quinto) e para isso convidou o casal Larry (Andrew Rannells) e Hank (Tuc Watkins), Emory (Robin de Jesús), Bernard (Michael Benjamin Washington) e Donald (Matt Bomer), que está passando um tempo na cidade e vivendo no apartamento de Michael.

Enquanto eles esperam o aniversariante chegar, Alan (Brian Hutchison), um amigo de faculdade de Michael, que é heterossexual, liga e pergunta se pode ir à festa.

Quando Alan, Harold e Cowboy (Charlie Carver), um garoto de programa que Harold “ganhou” de presente, se encontram com os homens no apartamento, a tensão e o álcool se misturam e a noite começa a tomar outros contornos além do esperado. The Boys in The Band é inspirado na peça de Mart Crowley.

Michael, Emory, Bernard e Larry em The Boys in The Band
Michael, Emory, Bernard e Larry

Michael

Embora The Boys in The Band tenha muitos personagens e o filme seja focado no aniversário de Harold, o protagonista na realidade, é Michael. Ele vive sozinho em um apartamento grande e bem decorado de Nova York e ficou responsável por organizar a festa.

Começamos o filme acompanhando Michael – e Donald, que está hospedado no apartamento de Michael – e como ele parece desde o começo muito focado na festa, temos a sensação de que ele é um bom amigo, gentil o suficiente para não só organizar a festa de Harold, como também para ceder seu apartamento para o evento.

O clima começa a mudar quando Alan chega a festa
O clima começa a mudar quando Alan chega a festa

No entanto, Michael tem outro lado e isso fica claro assim que seus amigos começam a chegar. Enquanto ele está só com Donald, os dois conversam de maneira gentil e trocam opiniões bondosas. Entretanto, Michael parece mudar de personalidade a cada amigo que chega.

Uuhh…

Quando Alan, seu antigo colega de faculdade que se define como heterossexual aparece, Michael fica claramente incomodado, e Alan também. Aparentemente ele não sabia nem da orientação sexual de Michael e muito menos esperava que fosse a uma festa onde todos os convidados fossem gays.

Os homens começam a beber e a tensão vai ficando cada vez mais nítida, mesmo que a plateia não saiba exatamente por qual motivo. A festa que, poucos minutos atrás estava divertida a ponto de permitir que alguns dos convidados fizessem uma coreografia, fica mais parecida com um velório. A chegada do aniversariante coroa esse evento, claramente fadado ao fracasso.

Jim Parsons como Michael em The Boys in The Band
Jim Parsons como Michael

Personagens gays

Um dos grandes diferencias de The Boys in The Band é o fato de que a peça é composta quase que unicamente de personagens gays. Nos dias de hoje, isso não soa muito inovador, mas é bom lembrar que a peça estreou off-Broadway em 1968. Mesmo atualmente é difícil encontrar obras que tenham como personagens somente homens gays.

Levando em conta que o filme tem dez personagens, fica mais fácil criar alguns bem diferenciados, então, embora a maioria deles tenha em comum o fato de ser homossexual, eles são bem diferentes. Michael, por exemplo, é um homem tímido que guarda uma grande raiva dentro de si; Larry é despojado e espontâneo, enquanto seu namorado é tímido e reservado; Emory é um homem latino; Bernard é um homem negro, o que faz com que os dois tenham que lutar contra dois tipos de preconceitos diferentes; Harold por sua vez, soa maldoso, mas diferente de Michael, é mais piedoso e Donald, é um mistério.

Tem mais…

Cowboy não faz parte do grupo de amigos e nem é um personagem muito profundo. Ele funciona como um alivio cômico, que também está dentro dos padrões de beleza. Alan é uma incógnita. O telespectador não sabe muito bem qual é o motivo dele estar ligando para Michael, mas fica no ar a ideia de quem talvez exista mais do que uma amizade entre os dois.

Harold, o aniversariante
Harold, o aniversariante

Curiosamente, o fato dos personagens serem, em sua maioria, homossexuais não é a questão mais importante, uma vez que o filme se dedica a tratar de assuntos quase que universais. Claro que ele traz à tona questões como homofobia, descobertas e aceitação, além de ter referências claras à cultura gay, mas não é só isso.

Questões pessoais

Quando todos esses homens se juntam e começam a beber, as verdades e as lembranças começam a surgir e isso se torna um problema. Primeiro um temporal assola a cidade, o que força a festa, que até aquele momento acontecia na varanda de Michael, a se locomover para a parte de dentro do apartamento e também faz com que nenhum deles consiga sair dali.

Alan, que àquela altura já arrumou uma briga com Emory, onde despejou uma série de ofensas homofóbicas, virou uma figura mal vista na festa e está largado a escanteio. Larry e Hank, o casal que até momentos atrás parecia em perfeita sintonia, começa a mostrar sinais de uma crise, que tem relação com as infidelidades de Larry. Ele por sua vez, está ignorando seu namorado para flertar com Donald, que ele já parecia conhecer.

A trama toda de The Boys in The Band se passa em um apartamento
A trama toda se passa em um apartamento

Michael, então, começa a se mostrar cada vez mais amargo e a atacar primeiramente Harold, dando a entender, que talvez exista um passado entre os dois homens que talvez não acabou muito bem. A amargura de Michael logo se volta para os outros convidados. Ele propõe que cada um deles ligue para a única pessoa que eles já amaram na vida, o que é, obviamente, a receita perfeita para que uma bomba atômica estoure no apartamento.

É enquanto esses homens relembram seus amores, suas descobertas, suas primeiras vezes e seus corações partidos – que em alguns casos estão, inclusive, presentes na festa-, que eles começam a brigar e se acusar, de uma maneira que talvez não tenha mais volta.

Amor e amizade

The Boys in The Band é um filme que fala muito sobre a amizade e o amor que existe entre esses homens, mesmo que isso pareça estar se desfazendo com o tempo. Eles estão reunidos para essa comemoração porque, na teoria, são amigos e é essa sensação que a plateia tem quando a festa começa e eles estão abrindo presentes, comendo bolo e dançando.

Donald e Bernard
Donald e Bernard

Quando eles se veem presos no apartamento de Michael, o clima começa a mudar e o que eram pequenas ironias e cutucadas, viram acusações sem meia palavras. A trama deixa muita coisa no seu subtexto, por isso, o espectador fica o tempo todo com a sensação de que talvez alguns daqueles homens já tenham sido namorados, amantes ou já tenham tido pelo menos, relações sexuais casuais. Pouca coisa é confirmada, mas é óbvio que qualquer relação que exista é muito intensa.

Com o tempo, no entanto, a plateia começa a se perguntar se aqueles homens sequer são amigos, uma vez que eles parecem mais do que dispostos a atingir um ao outro em um piscar de olhos. O longa se questiona sobre o envelhecimento de algumas amizades e sobre o fato de estar preso a amigos que já não servem mais.

Essa questão fica mais do que clara em Donald, que passa boa parte do filme sem intervir nas atitudes de Michael, embora esteja claramente assustado e perturbado, mas que em determinado momento, percebe que Michael não é mais o amigo que ele conheceu.

The Boys in The Band fala sobre amizades que talvez não caibam mais
The Boys in The Band fala sobre amizades que talvez não caibam mais
Estereótipos

Embora o filme tenha muitos personagens gays, que são bem diferentes entre si, ele ainda cai em alguns estereótipos, que soam, pelo menos, datados.

Existem personagens mais e menos femininos, que se vestem de maneira mais sóbria e de maneira mais chamativa, o que claro, é um avanço, mas Michael, por exemplo, quando começa a tratar seus amigos mal e exigir que eles contem segredos e coisas que os machucam, ele fica muito próximo da ideia da “bicha má”, que é um estereótipo que faz mais mal do que bem.

No entanto, quando se pensa que a peça é de 1968, faz algum sentido que essa figura esteja presente, uma vez que a “bicha má” está diretamente ligada ao fato dos homossexuais receberem tanto ódio e preconceito durante a sua vida, que isso acaba sendo internalizado e se voltando contra outros membros da comunidade LGBTQIA+. Isso está presente com muita clareza no costume das drag queens de “lerem” outras drag queens, o que consiste basicamente em apontar os defeitos e fazer piadas com pessoas da comunidade.

A trama evita estereótipos, mas não foge de todos eles
A trama evita estereótipos, mas não foge de todos eles

Complexo…

O filme é de 2020 e não diz exatamente em que ano a história se passa mas, pelas roupas, podemos entender que a trama muito possivelmente acontece nos anos 1970. Pensando assim, parece mais plausível que Michael, um homem tímido e inseguro, tenha passado anos e anos se punindo e se culpando por sua sexualidade a ponto de que isso exploda em muita amargura e mágoa contra seus amigos.

Outro estereótipo que soa meio batido para os dias de hoje é a relação de Larry e Hank, já que o segundo é retratado como retraído, sério, ciumento e extremamente fiel, e o primeiro como debochado, exagerado, feminino e adúltero. Essa ideia parece muito mais próxima da época em que a peça foi escrita, quando ainda se repetia que homens gays são obrigatoriamente promíscuos e não conseguem manter relacionamentos monogâmicos, do que com os dias de hoje.

Mesmo o filme não se passando nos dias atuais, talvez ele se tornasse mais interessante se as questões apresentadas fossem aproximadas de 2020. Por outro lado, isso mudaria muito da trama e talvez não tivesse o mesmo impacto.

A tensão começa aumentar conforme os homens vão bebendo
A tensão começa aumentar conforme os homens vão bebendo
Características teatrais

Adaptar peças para o cinema é relativamente comum e embora as tramas apresentadas em um veículo caibam muito bem em outro, exigem-se algumas mudanças. The Boys in The Band no entanto, não se compromete totalmente nesse quesito.

O longa tem muitos elementos que o aproximam mais do teatro do que do cinema. O primeiro é a duração. O filme tem 2h, um tempo comum – na verdade, até curto – para o teatro, onde normalmente se tem um intervalo, mas um tanto quanto longo para um filme, que na teoria deve ser visto no cinema, sem intervalo. The Boys in The Band é pensado para a Netflix, o que permite que o telespectador o pause, mas ainda é um filme.

O segundo é a quantidade de personagens. Embora o protagonista seja Michael, o longa tem mais nove personagens importantes e claro que alguns deles perdem espaço. Donald, por exemplo, que parece o mais calmo entre os amigos e que está ali quase que unicamente para observar, some. Se isso estivesse sendo encenado no palco, sem as câmeras sendo focadas em determinado personagem, a plateia poderia prestar atenção em qualquer um dos personagens, mesmo que o foco e a fala fossem de outro.

Alguns dos personagens ficam apagados na trama de The Boys in The Band
Alguns dos personagens ficam apagados na trama

E o que mais?

Para além disso, The Boys in The Band acontece quase que inteiramente em um único cenário: o apartamento de Michael. Essa é a ambientação ideal para uma peça de teatro, que por motivos óbvios, tem maior dificuldade de apresentar mais de um cenário. Peças que viram filmes, geralmente, tem cenas que se passam em lugares diferentes, mesmo que a peça que as inspirou tenha poucos cenários.

Não é o que acontece aqui. O filme quase não sai dos âmbitos do apartamento, embora tenha um ou outro flashback quando os homens contam as histórias de seus romances do passado. Isso, e o tanto de falas, que no teatro seriam um deleite, aqui acabam deixando o longa um pouco cansativo. Quando Michael começa a atacar seus amigos e as emoções começam a aflorar, as confissões vão ficando cada vez mais exageradas.

Mais uma vez, isso faz muito sentido no teatro, que precisa passar a emoção para uma plateia inteira, inclusive para quem está nos lugares mais distantes, mas nem tanto para o cinema, que filma tudo de perto e onde todo mundo vê exatamente do mesmo lugar. Sua linguagem é muito teatral, mesmo que esteja no cinema, o que pode ser um problema depois de um tempo.

Harold é o último a chegar na festa
Harold é o último a chegar na festa
Aspectos técnicos de The Boys in The Band

A produção traz questões técnicas bem interessantes e importantes. O filme é claramente bem produzido, embora se passe quase que unicamente em um ambiente, esse cenário traduz com perfeição a personalidade de Michael, protagonista do filme e morador do local.

O longa também parece não querer se datar, não informa em momento nenhum em que ano aquela história se passa. Porém, sabemos que a peça foi escrita em 1968 e é notável que os figurinos e cabelos tem um perfume da década de 1970. Mesmo assim, isso é bem leve e talvez passe em branco para quem não é tão ligado em moda ou em tendências. Isso dá a entender que aquela história é atemporal e poderia se passar nos anos 1970, nos dias de hoje ou em qualquer outra época.

A ideia de que a trama é totalmente atemporal não é exatamente verdade, pois o filme tem questões que dizem muito mais respeito aos homossexuais dos anos 1970 e 1980, do que aos homossexuais dos anos 2020, mas ainda assim fala com os dias de hoje.

Considerações finais

O filme tem aspectos que o deixam muito próximo do teatro e uma delas é a grande quantidade de diálogos. Isso acaba o tornando um pouco cansativo, especialmente para quem gosta de acompanhar filmes com mais ação. O longa tem pouquíssima movimentação e é focado unicamente nos personagens que estão dentro do apartamento.

Zachary Quinto em cena do filme The Boys in The Band
Zachary Quinto em cena do filme

O grande destaque aqui é o elenco. A primeira coisa que chama a atenção é que todos os atores são homossexuais assumidos. Isso faz desse um filme LGBTQIA+ em todos os sentidos. Ele não só fala de personagens gays, como tem atores gays interpretando esses personagens.

Embora os atores estejam muito bem dentro de seus personagens e consigam representar com uma certa diversidade, alguns deles acabam apagados e com menos tempo de tela. Michael, Harold, Alan, Larry e Hank são os personagens que mais falam e que, portanto, mais movimentam a história. Emory e Bernard aparecem na trama quase como uma cota e embora tenham a chance de contar suas histórias, quase não empurram a trama para frente. Donald, por outro lado, que é um personagem mais introspectivo e que passa boa parte do filme observando, acaba completamente perdido na trama, o que é uma pena, já que Matt Bomer está ótimo no papel.

The Boys in The Band ainda tem muitos elementos do teatro
O filme ainda tem muitos elementos do teatro

É certo que The Boys in The Band soa como um filme sincero, disposto não só a discutir questões que dizem respeito a população LGBTQIA+, como também a dar voz a essa população, e a história prende a plateia por um tempo, mas o excesso de diálogos e o ritmo muito próximo do teatro, deixam o filme um pouco lento e pode cansar alguns telespectadores. The Boys in The Band está disponível na Netflix.

https://www.youtube.com/watch?v=Sm2Ue8k3-yU&ab_channel=AbaixodoRadar

The Boys in the Band

Nome Original: The Boys in The Band
Direção: Joe Mantello
Elenco: Jim Parsons, Zachary Quinto, Matt Bomer, Andrew Rannells, Charlie Carver
Gênero: Comédia, Drama
Produtora: Netflix
Distribuidora: Netflix
Ano de Lançamento: 2020
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