The Third Day – Um folk horror diferente

Sam (Jude Law) dirige até a ilha de Osea para fazer um ritual pessoal de luto pelo seu filho, Nathan, que foi assassinado há nove anos. Lá, ele escuta o grito de uma garota e salva Epona (Jessie Ross), uma jovem que está se enforcando em uma árvore, enquanto um garotinho assistia.

Ele leva Epona para a ilha e acaba impedido de sair dela quando a maré sobe. Sam começa a conhecer os rituais de Osea e percebe que a ilha guarda segredos sinistros, e alguns dizem respeito ao seu passado.

Folk horror

The Third Day se encaixa perfeitamente no subgênero do folk horror, que explora cidades pequenas e seus habitantes e que geralmente apresenta histórias de forasteiros que se veem presos em crenças e costumes do lugar. A minissérie, no entanto, parece trabalhar com um fator um pouco diferente, já que ela se passa em uma ilha e não no interior.

Sam - The Third Day
Sam

O efeito, no entanto, é o mesmo. A minissérie acompanha Sam, um homem que está obviamente perdido e sem saber como seguir com sua vida. Ele para em Osea, uma ilha, para realizar um ritual particular para seu filho que foi assassinado e, antes que possa sequer notar o que está acontecendo, se vê não só fisicamente preso, já que a maré sobe e impossibilita a saída da ilha, como também embrenhado nos costumes do local.

Osea é um lugar onde todo mundo se conhece e onde todos se comportam de maneira estranha desde que Sam coloca o pé lá. A primeira nativa que ele conhece é Epona, uma menina que ele vê se enforcar em uma árvore, com a ajuda de um garoto mais novo, mas que jura que estava sozinha.

O clima do local é sinistro e as pessoas, que parecem querer evitar que Sam sequer pense em sair da ilha, ajudam a aumentar a sensação da audiência de que tem alguma coisa errada ali, mas isso não impede Sam de ficar e se perceber cada vez mais envolvido com Osea.

Sam se vê rapidamente seduzido por Osea
Sam se vê rapidamente seduzido por Osea

Sam

Sam é o, aparente, protagonista de The Third Day, e quando a série começa tudo que sabemos dele é que ele é um homem casado e pai de duas filhas, e de um filho que foi assassinado. Também fica claro que Sam está perdido, ele não se encaixa mais no seu mundo e seu casamento está, aparentemente, desmoronando.

A plateia só tem acesso à história de Sam pelo que ele fala e pelo pouco que vemos, e embora ele diga que sua vida é boa, apesar do luto constante por Nathan, logo notamos que ele está mentindo para si mesmo. A situação que leva Sam a Osea já é, por si só, bem esquisita e é a partir daí que tudo começa a desandar.

Osea, por outro lado, também guarda seus segredos e o telespectador tem acesso a eles junto com Sam e é porque acompanhamos a trama do ponto de vista dele que também não somos capazes de entender com total precisão o que acontece na ilha e nem o que é ou não realidade.

Jude Law em cena de The Third Day
Jude Law em cena de The Third Day

A terceira parte

Mas a minissérie é dividida em três partes e, na terceira parte, já não acompanhamos mais Sam e sim Helen (Naomie Harris) e suas duas filhas, Ellie (Nico Parker) e Tallulah (Charlotte Gairdner-Mihell), conhecida como Lu. E se a parte estrelada por Sam é maluca e quase indecifrável, principalmente porque Sam parece não estar completamente certo de si mesmo, a parte de Helen é um pouco mais pé no chão.

O telespectador também não consegue entender de início o que Helen e as meninas estão fazendo em Osea, mas ao contrário de Sam, ela está procurando algo e está muito certa de que está no lugar correto.

Quando acompanhamos a trama do ponto de vista de Helen e eventualmente de suas filhas, a ilha, que na visão de Sam, era misteriosa e envolvente, ainda que assustadora, se torna hostil. Helen, Ellie e Lu não são bem recebidas e nem bem tratadas, e o telespectador tem mais cenas que se passam durante o dia, onde é possível ver o local sem toda a interpretação sinistra que a noite dá. A ilha de Osea, no entanto, continua guardando seus mistérios e cabe a Helen descobri-los.

A plateia não consegue distinguir realidade de ficção
A plateia não consegue distinguir realidade de ficção

Aspectos técnicos de The Third Day

A produção usa muito da estética do folk horror: tem uma comunidade pequena e misteriosa, um forasteiro que se vê seduzido pelo local e uma série de mistérios a serem descobertos. Mas diferentemente de outras produções desse subgênero como O Homem de Palha e Midsommar – O Mal Não Espera a Noite, que se passam majoritariamente em cidade interioranas, The Third Day se passa em uma ilha, o que não só modifica um pouco o tema, como também torna tudo mais assustador, já que depois de um determinado horário o mar invade Osea e ninguém pode sair ou entrar.

A série brinca muito com a percepção da realidade e isso fica estabelecido desde o começo, quando Sam vê um garotinho ao lado de Epona enquanto ela tenta se suicidar e Epona jura que estava sozinha. Sam, que além de perdido, se vê rapidamente seduzido pela ilha e que, depois da morte de seu filho, parece disposto a acreditar em qualquer coisa, não sabe apontar exatamente o que é realidade e o que é fantasia em Osea e como acompanhamos a primeira parte do ponto de vista dele, nós também não conseguimos identificar.

Uma cena genial, que reflete isso com perfeição, é a cena em que Sam e Jess (Katherine Waterston), uma mulher local, tomam LSD e depois ele é, aparentemente, sequestrado e obrigado a participar de um ritual. Sam começa a ver animais andando nas paredes e pessoas com rostos deformados, e nem ele e nem a plateia são capazes de apontar se o ritual realmente funciona ou se ele só está tendo uma bad trip.

A minissérie The Third Day tem uma fotografia escura e sinistra
A minissérie tem uma fotografia escura e sinistra

E o que mais?

Na terceira parte, no entanto, quando acompanhamos a trama do ponto de vista de Helen, tudo se torna um pouco mais racional, porque Helen é uma mulher racional e bem mais cética que Sam. Nessa parte, Osea ainda é cheia de mistérios, mas esses mistérios parecem muito mais humanos do que sobrenaturais.

A série conta também com boas atuações, inclusive de atores em papeis pequenos, como Emily Watson, mas Jude Law, Katherine Waterston e Naomie Harris são os que mais chamam atenção. Outra questão interessante de The Third Day é que a série não usa cores que normalmente estão relacionadas à praia, tudo é escuro e deprimido, a ilha tem tons mortos e o mar é escuro e ameaçador. Esse processo se repete nas roupas de seus personagens, que estão muito mais próximas dos tons outonais, do que dos tons de verão que geralmente aparecem em produções que retratam cidades litorâneas. Esse é um aspecto que aproxima The Third Day de produções de folk horror e que dá o clima de toda a minissérie: Osea não é uma cidade praiana agradável, onde todos se divertem, ela é cinza e sinistra.

The Third Day é uma série que brinca com sua audiência da mesma maneira que os moradores da ilha brincam com os forasteiros, entramos na história repletos de dúvidas, e conforme a temporada anda, vamos os desvendando, ou não. A série rapidamente prende o seu telespectador e embora seja mais interessante enquanto tem Sam como protagonista e fique um pouco mais lenta com a entrada de Helen, ela ainda é uma ótima atração, que faz a plateia se questionar e investigar junto com seus personagens.

The Third Day

Nome Original: The Third Day
Elenco: Jude Law, Naomie Harris, Katherine Waterston, Paddy Considine, Emily Watson
Gênero: Drama, Suspense
Produtora: Plan B Entertainment, Punchdrunk International, Sky Studios, HBO
Disponível: HBO Max

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