Truth Be Told – O fenômeno dos podcasts em julgamento

Vinte anos atrás, Poppy Parnell (Octavia Spencer) foi responsável por incriminar Warren Cave (Aaron Paul), na época com dezesseis anos, pelo assassinato de Chuck Burnham (Nic Bishop).

Hoje, dona de um podcast especializado em crimes, ela é convidada a analisar o caso de Cave mais uma vez e, enquanto investiga e entra em contato com o condenado, percebe que talvez ela tenha incriminado um homem inocente.

Uma trama para os dias de hoje

Um dos pontos mais interessantes de Truth Be Told é que a série aborda temas muito atuais e que podemos tranquilamente ver no nosso dia a dia. Na atração, acompanhamos Poppy Parnell, uma jornalista que, hoje em dia, é dona de um podcast especializado em crimes reais, e só essa trama já parece muito próxima de nós.

Os podcasts são cada vez mais populares, assim como uma nova obsessão por atrações que acompanham e dissecam crimes reais, em formato de podcast ou não. O que antes era reservado a outros países, já chegou recentemente ao audiovisual brasileiro, com as estreias de O Caso Evandro – originalmente um podcast – e Elize Matsunaga: Era Uma Vez um Crime.

Em Truth Be Told no entanto, o que acompanhamos são as consequências desse comportamento, especialmente quando não existe a pesquisa e a investigação adequada.

Culpado ou inocente?

A grande questão que ronda a série é a inocência ou não de Warren Cave. Ele foi condenado depois que Lanie (Lizzy Caplan) disse tê-lo visto rondando a casa da família no dia da morte do pai. Cave, no entanto, sempre jurou de pé junto que era inocente.

Quando Poppy é convidada é reexaminar o caso de Cave, ela mergulha mais uma vez na história que a deixou famosa e começa a perceber que talvez não estivesse tão certa.

Primeiro ela descobre que o depoimento de Lanie, responsável por condenar Cave, foi motivo de dúvidas, uma vez que ela foi considerada traumatizada demais. Além do mais, sua irmã gêmea, Josie (também interpretada por Lizzy Caplan) nunca sequer falou com a polícia.

Quando ela conhece Cave, que mesmo depois de vinte anos ainda se diz inocente, as dúvidas aumentam, assim como a sua culpa, e Poppy resolve que deve desvendar esse crime de uma vez por todas.

Culpa

Mas essa também é uma série sobre a culpa e sobre como ela muda a vida dessas pessoas. Aliás, esse parece ser o assunto que ganha mais destaque na trama. A temporada é dividida entre o presente e o passado, que acompanhamos através de flashbacks, e é a partir dessa dinâmica que conseguimos entender como que esses personagens mudaram depois do crime e de tudo o que aconteceu na sequência.

Poppy é a única que parece ter se dado bem e que, inclusive, melhorou de vida em função da morte de Buhrman. Cave, preso aos dezesseis anos, virou outra pessoa na cadeia e teve que buscar uma forma de sobreviver, e encontrou a pior possível, sua mãe (Elizabeth Perkins) ficou doente.

A família de Buhrman também se separou, Lanie passou anos internada em uma clínica psiquiátrica e depois se tornou uma doula da morte – que é uma pessoa que ajuda outras pessoas a morrerem – e Josie desapareceu e não mantém nenhum contato nem com a irmã gêmea. Em muitos momentos, Truth Be Told parece ser muito mais uma série sobre o trauma e a culpa do que sobre um crime.

Aspectos técnicos de Truth be Told

Essa é uma série que trabalha muito no gênero do suspense. Temos uma jornalista praticamente obcecada por crimes reais, que foi, inclusive, responsável pela prisão de um suspeito de um crime terrível e com características estranhas, um condenado que se diz inocente, e personagens estranhos e com histórias esquisitas, mas o suspense não é o único foco da série e, em muitos sentidos, talvez nem seja o principal.

O crime apresentado serve para prender a atenção do telespectador nos primeiros episódios, mas se torna menos importante conforme vamos nos apegando aos personagens e entendendo que o principal mote é analisar como o crime afetou a vida desses personagens e questionar se a obsessão por crimes reais, que nos leva a fazer programas, filmes e livros sobre isso – que é muito comum nos Estados Unidos, mas que está rapidamente ganhando corpo por aqui também -, é saudável.

Além do mais, o crime é de resolução relativamente fácil e é possível desvendá-lo rapidamente assistindo à série, o que aumenta a sensação de que a atração principal não é o assassinato de Buhrman.

E o que mais?

O que é interessante em Truth be Told é a maneira com que a série usa um produto tão atual, como o podcast, para ancorar toda sua trama. Poppy não só foi responsável por mandar Cave para a cadeia e assim mudar toda a vida dele, como também mudou a vida da família dele e da família de Buhrman.

Sua retomada ao caso, agora que tem dúvidas sobre a culpa de Cave, causa mais uma vez reviravolta na vida de todas essas pessoas. É quase como se a série examinasse as consequências de se expor de maneira tão crua um crime real, que envolve pessoas reais.

A série conta com ótimas atuações, como a de Octavia Spencer, que interpreta a protagonista, que pode ser extremamente inteligente e compassiva em alguns momentos e muito teimosa e cruel em outros, e de Lizzy Caplan, que interpreta duas personagens de maneira, trejeitos e até sotaques diferentes – com a ajuda de uma peruca loira – e que se sai muito bem nos dois papéis.

Talvez Truth be Told não seja uma série indicada especificamente para quem gosta de programas sobre crimes, uma vez que o crime em questão não é especialmente chocante e nem a investigação é intricada e cheia de revelações, mas é uma atração que fala sobre as consequências do crime e do julgamento, seja ele na lei ou não, na vida de pessoas, que as vezes não fizeram nada de errado.