Um Lugar Silencioso, como um filme se torna um clássico

O silêncio é algo que todos conseguem compreender, apesar da incapacidade das pessoas em ficarem quietas ou de não emitir nenhum ruído quando proibido. Este filme independente usa uma premissa simples para fornecer uma das melhores produções do ano.

Aqui, o futuro é amanhã. Em 2020, o planeta foi tomado por criaturas predatórias sem visão, com audição extremamente sensível (que aparentemente usa a ecolocalização para caçar seres humanos e outras presas). A família Abbott busca sobreviver numa fazenda, permanecendo num ambiente mais silencioso possível e comunicando-se exclusivamente por meio da linguagem de sinais, utilizando ainda recursos para abafar o som e outras regras que precisam ser seguidas a risca (que são respeitadas no roteiro sem furos, do começo ao fim). O filme já começa com uma tragédia cheia de impacto e amargor, que ajuda no desenvolvimento da trama, a medida que realiza uma crescente de tensão entre sequências de cotidiano, com belíssimas tomadas panorâmicas. Dessa forma, a história se conta sozinha, sem necessidade de explicar para o público como as coisas funcionam nesse novo e terrível cenário.

O pouco conhecido John Krasinski se prova não só um ator muito acima da média, onde deixa de atuar para entregar emoções sinceras e intensas, como também é um diretor formidável. Ele sabe colocar a câmera no lugar certo, aproximando sempre sua lente de algum personagem, criando um ambiente claustrofóbico nas cenas internas, que colaboram para o terror intrínseco ao longa, que dá pouco fôlego entre uma sequência e outra, sempre mantendo o espectador preso a cadeira, fazendo silêncio junto a família (a sessão, que começou barulhenta como qualquer outra, seguiu-se absurdamente silenciosa durante toda a duração). O design de som também é certeiro ao estabelecer as “regras de som” (os baixos não são perigosos, nem sons ambientes etc; os altos são mortais — num sentido gore e aterrorizante da palavra). A trilho sonora é tímida de propósito e só interfere no enredo em momentos específicos de rotina ou no clímax (não recomendável para quem sofre de ansiedade), sem distrair o público do silêncio sufocante.

A sempre excelente Emily Blunt reforça o coração da obra em seu papel de uma mãe, aqui também grávida, que oferece alguns dos melhores momentos do longa. Mas é Millicent Simmonds, surda na vida real, que serve como chave da trama, em um brilho prodigioso.

Um Lugar Silencioso

Um Lugar Silencioso é terror de primeira qualidade, desprovido de falhas e digno dentro de sua proposta trágica, entregando um material diferente de qualquer outro do gênero, por isso mesmo classificando-se naturalmente como cult e clássico desde já. Merece um Oscar. Um não. Pelo menos cinco.

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