Viveiro

Quanto menos você souber sobre Viveiro, melhor. Mas o que posso dizer, sem entrar nos spoilers, é que um casal se mete em uma roubada quando eles vão procurar uma casa para comprar em um condomínio fechado e coisas bastante bizarras, para não dizer abstratas, começam a acontecer.

A experiência é curiosa e interessante, mas o espectador mais acostumado a narrativas do tipo, vai sacar as metáforas e onde a história vai o levar muito antes do desfecho, o que não chega a ser um problema, pois o tempo curto e bem utilizado faz valer a sessão. Jesse Eisenberg e a sempre lindinha Imogen Poots se encaixam muito bem em seus papéis e conseguem expor o estranhamento proposto. Jonathan Aris é assustador, mas nada é mais creepy do que a figurinha representada por Senan Jennings, só vendo para entender.

Viveiro

Agora, caminhando pelo terreno dos spoilers…

Eu fui uma das pessoas que pescou a crítica social elaborada pelo diretor Lorcan Finnegan, que converte isso em uma metáfora interessante, ainda que minimamente óbvia. Afinal, segundo minha leitura, temos aqui um jovem casal que quer se encaixar em um modo de vida padrão (norte-americano ou não, a crítica vai além de uma cultura), se endividando na compra de uma casa, na qual eles ficarão “presos para sempre” pagando.

A rotina, como qualquer outra, vai separar o jovem casal pouco a pouco, inclusive é também esse o papel do filho, o de separar o casal, como historicamente acontece. O marido trabalha fora e chega sempre tarde, não tendo mais tempo ou saco para a família. Ou então, trabalha até tarde, muitas vezes, e acaba morrendo sem sair desse ciclo.

Muitos desses condomínios feitos ao toque de caixa, padrãozinho e sem identidade, muitas vezes acabam sendo abandonados e esvaziados. O cigarro que anula parte do efeito de simulação, num bem sacado e pontual uso do stop-motion no efeito. E das nuvens clara e propositalmente fakes, que mostram a artificialidade desse ambiente.

E o que mais Viveiro traz?

Toda a questão envolvendo as criaturas sobrenaturais/aliens (ou o que você quiser), que são os “cucos” (apresentados no primeiro minuto em tela, evidenciando a obviedade que será tratada a seguir) – que se fingem de humanos e criam aquela realidade simulada, que é melhorada a cada tentativa com um casal –, é só uma cereja no bolo, para fortalecer o ar de estranhamento, que já é bem embutido na narrativa desde o momento que os protagonistas adentram o condomínio (que na placa de entrada tem justamente a casa 9 – a única numerada naquele vasto lugar –, além de um destacado “para sempre” literal escrito ali), na verdade um labirinto inescapável e sem fim, que guarda lembranças das simulações anteriores em seu subsolo abstrato, e a rotina como forma de repetição sufocante.

A casa fria e sem identidade, que tem quadros dela própria dentro (mostrando que as criaturas ainda não entendem as formas de arte, mas estão se esforçando) e que já traz um quarto azul, porque já está determinado que será o de um menino (o que também reforça o clichê social de que todo casal precisa ter um filho, e ponto).

Viveiro é, no mínimo, uma experiência curiosa que vale a pena ser assistida, mas que as metáforas não fiquem por isso mesmo e sirvam de reflexão para quem pensa em seguir o padrãozinho social. O desfecho na vida real pode ser muito pior do que o apresentado no filme, acredite.

Etiquetas
Botão Voltar ao topo
Fechar