Yellowjackets – 1ª temporada
Misturando Lost, Big Little Lies e O Senhor das Moscas, Yellowjackets é uma série sobre os sobreviventes de uma tragédia, que expande a visão do feminino e da barbárie inerente em prol de um entretenimento de primeira.
Um dos grandes trunfos dessa história criada por Ashley Lyle e Bart Nickerson não é só a boa mistura que fizeram das referências citadas, mas a maneira como elas são aplicadas durante o show, investindo a primeira vista no “como” (elas chegam ao ponto máximo da selvageria apresentado nos minutos iniciais), em “quem” (é o suposto assassino de um dos sobreviventes, que vem mandando cartinhas misteriosas para as demais) e, principalmente, no desenvolvimento aprofundado de seus personagens.
Tal qual Lost, temos idas e vindas no tempo, tanto no passado quando o avião que levava o time de futebol feminino caiu em uma floresta isolada nos anos 1990, com tudo o que se espera desse tropo, de tensões a paixões, de tentativas e erros, até o surto inevitável; tal qual O Senhor das Moscas, acompanhamos a degeneração psicológica das sobreviventes na natureza selvagem (que parece influenciá-las de maneira metafórica ou literal – a segunda opção seria minha aposta, ainda mais se olharmos para os flertes com a bruxaria), os sistemas de liderança e a convergência para o sacrifício e o canibalismo; tal qual Big Little Lies, uma figura misteriosa mata e chantageia as mulheres sobreviventes nos dias de hoje.
Yellowjackets
O texto sagaz consegue equilíbrio ao manter o terror e o suspense no passado, com toda aquela deliciosa estética noventista, enquanto mantém o bom humor e o humor ácido no presente, com adultas cínicas, ora mentirosas, ora simplesmente surtadas, fazendo o que podem para limpar a barra ou manter as aparências. Quase como se Desperate Housewives fosse colocado No Limite. A narrativa não-linear sustenta bem os dez episódios, com seus mistérios e pequenas reviravoltas, ainda que as revelações e resoluções não sejam de fato impactantes (nem intencionam para tal), procurando manter o investimento nas suas personagens algo de maior importância.
A semelhança entre as atrizes jovens com as mais velhas, incluindo trejeitos e maneirismos, impressiona. Inclusive na qualidade de atuação dos dois lados. Sophie Nélisse e Melanie Lynskey, Jasmin Savoy Brown e Tawny Cypress, Sophie Thatcher e Juliette Lewis (não podia ser outra nesse papel), Sammi Hanratty e Christina Ricci (que está se divertindo horrores, com umas das personagens mais doidas e cativantes no elenco).
Yellowjackets nunca entrega mais do que promete e oferece na medida um entretenimento de primeira para fãs de gostos diversos.