2ª Temporada de Jessica Jones, quando o inimigo é você mesmo

Sem a tensa figura de Killgrave para assombrar a heroína, a história agora coloca a própria Jessica como sua maior inimiga, ao revisitar o passado mal resolvido (tanto em relação a perda da família, quanto da origem dos poderes), que ainda incluem a corporação IGH e uma adversária a sua altura.

Trish continua sua jornada de boa moça (com um par ideal que até torcemos a favor), a medida que evolui como personagem, se vendo sempre sob a sombra da melhor amiga, enquanto que dá uns passos pra trás ao se envolver com um tipo de superdroga. Malcolm, que aqui retorna superado do vício, assume uma postura mais ativa e cheia de iniciativas, que colaboram pro movimento da trama e de sua independência no enredo. Hogarth dessa vez se encontra em um estado crítico de saúde e é interessantíssimo acompanhar como a mulher fria e bem resolvida lida com a situação, passando por várias camadas de aceitação, neste que é o papel da vida de Carrie-Anne Moss. Outros bons acréscimos complementam a série, na figura do zelador Oscar, da encantadora ex-enfermeira Inez, o sensato detetive Eddy Costa, a complexa Alissa, o carismático Dr. Karl, entre outros (ainda que Pryce Cheng pareça sobrar no todo).

O sétimo episódio, “Loucura, loucura”, mais um daqueles flashbacks que a série executa, é excelente ao evidenciar mais da relação entre Jessica e Trish e de revelar os reais motivos por trás do Codinome Investigação, da jaqueta de couro que não é retirada nem no forte calor e da personalidade fechada, mal humorada e aparentemente misantrópica de sua protagonista, a medida que amarra passado e presente com uma figura improvável, que trás novas densidades ao enredo do meio pro final — que ainda conta com certa breguice numa cena de parque de diversões, mesmo assim funcional.

Assim como Jessica reafirma em todos os 13 episódios, ela não é uma super-heroína. E a produção acerta ao colocar somente diretoras mulheres para fortalecer a sensibilidade em toda segunda temporada, sem construir uma narrativa clichê de herói x vilão (que se fez necessária na ótima primeira temporada, mas que não se repete aqui), buscando caminhos menos simples para desenvolver protagonista e todo o elenco ao redor da maneira mais dolorosa possível, nessa série que fala sobre vícios e abusos de forma singular, sem perder o tom noir e detetivesco, com investigações diversas que se ligam num elo bem elaborado e que fornece um entretenimento amargo e de primeira, abrindo portas para uma terceira temporada esperada e cheia de louça suja para se lavar.

Jessica Jones - 2ª Temporada

Depois de Demolidor, é Jessica Jones a melhor produção da parceria Marvel-Netflix e a segunda temporada consegue manter a mesma qualidade da primeira, dessa vez mudando o foco, ao investir mais em seus personagens.

Etiquetas

Deixe um comentário

Botão Voltar ao topo
Fechar