Quebradeiras, uma viagem musical e poética
Quando criança, meu pai, baiano de Itabuna, nos acostumou a conviver com uma prensa e um motor que ele usava para espremer mandioca e ralar coco. Assim, os sons e as texturas do que saía dali tornam o documentário Quebradeiras, de Evaldo Mocarzel, premiado nos festivais de Toulouse e Brasília, algo que me é familiar. Sim, é um Brasil que existe, que está lá.
Dentro da proposta etnográfica, os 71 minutos da obra transcorrem bem. Transitando agilmente entre imagens do trabalho das mulheres especializadas em lidar com o coco do babaçu na região de Tocantins e Pará e a produção da música feita por essa gente que nasce, vive e morre entre as folhagens, o longa tem, entre suas melhores partes, as poéticas. Verter leite de coco e leite de peito são tarefas femininas; os sons das músicas
são ecos dos sons do cotidiano do trabalho; e as falas são, a grosso modo, as que saem da boca de quem canta.
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Muita atenção também à musicalidade. Portanto, procure se concentrar nas texturas das batidas, a percussão que simula (e o filme o todo tempo tenta comparar com) a lida com o coco. É de surpreender a plateia urbana do Sudeste e Sul do Brasil a existência da arte feita no babaçual. A dimensão continental torna o país inexplorado pelos próprios brasileiros. Então permita-se curtir essa surpresa.
Quebradeiras
Ressalvas, entretanto, há de se fazer à edição de som. A qualidade acústica da sala em que o filme será assistido pode tornar a sonoridade muito ardida. Além disso, o desejo do filme em querer mostrar muitas cenas diferentes, tirando o tempo do prazer que o espectador poderia ter com algumas imagens se elas ficassem mais tempo na tela, acaba por deixá-lo com um quê de ansioso.
De todo modo, o diretor Evaldo Mocarzel, meu conterrâneo de Niterói, é um documentarista experiente. Aos interessados por sua obra, sugiro a série À margem…, quatro obras do início de sua carreira, que mostram seu amor pelos invisíveis. Assim, Quebradeiras, no fim, resulta numa experiência que transita entre o surpreendente, o engajado e o experimental. Ganha assim o status de “A CONFERIR”.
MUITO BOM!! SENSACIONAL!! BOA ANALISE