Saint Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco – 1ª temporada
Bem intencionado, reboot não se decide se quer adaptar o original ou reinventá-lo
Voltado para um público mais jovem e para uma nova geração de espectadores, Saint Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco, essa produção entre Netflix e Toei, traz na abertura elementos como se para velhos fãs. Ou seja, vários ícones, poses e personagens-chave do futuro aparecem aqui e ali. Há também uma nova versão da música-tema “Pegasus Fantasy” (desta vez em inglês, pelo grupo The Struts). Mas, assim que a série se inicia, fica evidente o caminho mais enxuto que resolveram tomar.
Caminho esse muito bem-vindo, aliás. A maior parte dos animes dos anos 80 não eram voltados para crianças. Mesmo assim, minha geração foi acostumada a ver sangue e tripas no horário matutino. Afinal, a obra original era extremamente violenta (em alguns casos, gratuitamente). Portanto, era esperado que um reboot viesse sem qualquer violência (nenhuma mesmo, com exceção de um rápido momento com aquele passado de Ikki), e tudo fique na base do subtexto, como já foi muito bem realizado em Avatar: A Lenda de Aang, por exemplo, onde existem lutas e batalhas, mas sem derramamento de sangue, ou qualquer violência mais explícita.
Saint Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco
Com uma opção estética muito agradável, a nova animação entrega personagens prontos para se tornarem bonecos. Pois é assim que eles se parecem, com aqueles cabelos que não movem um fio. O uso do CG é limpo e respeita a estética do mangá (e do anime clássico). Ao mesmo tempo, evita cacoetes de anime (então sem gesticulações exageradas ou suores escorrendo do lado do rosto). Preserva então elementos de animações ocidentais clássicas, como uma versão de baixo orçamento da Pixar, mas não menos competente.
A movimentação dos personagens é decente, as luzes e sombras estão ótimas e os efeitos especiais dos golpes são bonitos de se ver. Em comparação, visualmente essa produção está muito melhor que aquele infame filme de 2014, “A Lenda do Santuário”, que parecia emular o CG de jogos de Final Fantasy de um jeito bastante bisonho.
O que esperar da 1ª temporada
À parte das escolhas sobre a sexualidade de Andrômeda, Eugene Son até acerta no tom do roteiro. Resume o primeiro arco do anime clássico, mantendo o que é necessário para a história. Enquanto isso, descarta a gordura que não movia a trama (como os outros cinco Cavaleiros de Bronze “menores”). Tendo no currículo desenhos animados dos Transformers, da Marvel e de Ben 10, ele busca equilibrar mensagens de amizade e união, com respeito pelo próximo e um pequeno senso de entretenimento, enchendo os diálogos com gírias moderninhas, reconhecíveis pelos millennials. Mas é justamente no restante que ele peca. Ao abrir mão da violência e dos personagens secundários, Son esquece o ponto principal. Aquilo que tornava o clássico (que já era tosco) em algo minimamente memorável. A tensão durante as lutas e o desenvolvimento dos personagens.
Todas as poucas lutas mostradas durante os seis episódios são rasas. E isso não se deve pela qualidade da animação e sim pelas opções de roteiro. As lutas entre Pégaso e Urso e Cisne e Hidra no original, por exemplo, serviam principalmente para apresentar o ego de seus personagens através do embate, ao mesmo tempo revelando suas habilidades e mostrando o quão arrogantes eram (Hyoga em específico), para depois, ao longo dos demais episódios, evidenciar suas evoluções como pessoas, com paradigmas sendo quebrados em atos heroicos.
Nessa nova versão, o roteirista opta por terminar tais lutas em questão de segundos. Afinal, bem sabemos, Hydra, Unicórnio e Urso sempre foram enfeite. Portanto, resta ao último episódio, na luta contra Ikki, um lampejo do que poderiam ter sido os combates anteriores.
Os Cavaleiros do Zodíaco
Os quatro protagonistas, por mais que mantenham os perfis clássicos e até ganhem novas e melhores nuances (a Shun, em especial, é muito mais interessante do que jamais foi, com uma personalidade divertidamente provocativa), são pouco desenvolvidos. Logo são jogados no meio da ação (se comportando como adolescentes, como sempre deveria ter sido), mas é difícil comprar a imediata amizade que eles criam do meio para o final. Saori e Shiryu parecem robôs e apesar de serem os mesmos que conhecemos, se comportam de maneira muito automática, com falas decoradas e não diálogos. Falta alma a eles, assim como faltou ousadia ao roteiro, em ir por outros caminhos, ao invés de repetir o que já foi feito.
Por outro lado, o enredo de Saint Seiya: Os Cavaleiros do Zodíaco corrige muitas incongruências e furos da produção clássica, amarrando melhor os conceitos por trás do torneio entre os Cavaleiros de Bronze, a ameaça de um novo personagem paramilitar, a conspiração do Santuário, o envolvimento entre Ikki e Esmeralda, a ligação de alguns Cavaleiros de Ouro etc.
Cavaleiros do Zodíaco sempre foi uma franquia incansável e mesmo que o anime clássico ainda reverbere, outras séries derivadas foram feitas para todos os públicos, do qual Lost Canvas se sobressai por sua enorme competência. No mais, a história original sempre teve sua breguice particular, mesmo com personagens marcantes, detalhes tais que essa nova animação consegue retratar, de um jeito resumido, mas consegue. Porém, não caga nem sai da moita e fica difícil saber para onde essa história vai. Mas divertida e bem intencionada, pode ser que melhore com o passar das temporadas.