Chinatown, um clássico do verdadeiro detetive

O detetive particular Jake Gittes é contratado por uma ricaça para investigar o marido, no que parece ser mais um caso de infidelidade conjugal. Gittes logo descobre que a mulher era uma impostora. Então encontra a verdadeira Evelyn Mulwray, filha de um dos homens mais poderosos da cidade. O detetive se vê no meio de um perigoso jogo de poder, em uma trama surpreendente que envolve desvio de fornecimento de água, aquisições de terras e pessoas ligadas à Companhia de Água e Energia. Isso é Chinatown!

Dirigido por Roman Polanski (os mais novinhos podem reconhecê-lo através de trabalhos recentes, como O Pianista, O Escritor Fantasma e Deus da Carnificina), a história é inspirada em fatos reais do desenvolvimento da cidade de Los Angeles, com um pano de fundo político versando sobre a influência de magnatas na política local, no roteiro de Rober Towne, que faz certa revisão do noir dos anos 40 e 50, mas agora sem o uso do preto e branco e do contraste entre luz, sombras e fumaça, utilizando de recursos da época para reinventar o gênero.

Jack Nicholson e Faye Dunaway em cena de Chinatown
Jack Nicholson e Faye Dunaway em cena

O elenco de Chinatown

Jack Nicholson estrela a produção com uma atuação muito mais leve e contida, da caricatura exagerada (ainda que brilhante) que ele viria a se tornar depois, no papel do detetive sagaz e ousado, que não deixa de meter os pés pelas mãos, à medida que é imparável quando seu faro indica algo de errado aqui e ali. O bacana dessa produção, é o “realismo gestual” que diretor e elenco trouxeram. Nada de socos ou chutes espetaculares. Aqui, as pessoas se comportam como pessoas, brigam de jeito feio e ridículo, o mais crível possível. Isso que passa mais autenticidade para a maioria das cenas. Elas vão de sequências num carro em movimento a um desentendimento num campanal.

A belíssima Faye Dunaway chega na história para gerar o primeiro ponto de virada da trama, que ainda guarda outras tantas. Algumas previsíveis para espectadores hoje em dia, mas que foram bastante surpreendentes no período. Incluindo aqui a revelação do “verdadeiro criminoso”, que fica adivinhável muito antes de acontecer. Mas, mesmo assim, não perde o impacto quando ocorre, ainda que traga um desfecho improvável.

Curiosidades

Algumas histórias sobre o longa dizem que, quando Polanski recebeu a primeira versão do roteiro, o devolveu a Towne com um livro sobre como escrever roteiros. O roteirista o reescreveu juntamente com o diretor. Mas o final do filme e de seus personagens só foi escrito no dia da gravação. Por isso, há discordâncias entre roteirista e diretor (e certa desconjunção no desfecho fica evidente).

Esse fato é um tanto irônico, já que o roteiro de Chinatown é um dos exemplares na questão estrutural (roteiro de três atos) e no desenvolvimento de personagens, sendo citado por teóricos como Robert Mackee e Syd Field em suas obras. De qualquer maneira, dado seu ano de produção, Chinatown traz um ritmo mais lento e com dezenas de sequências de conversa mole entre os atores, que muitas vezes não resultam em nada, mas pelo menos passam verossimilhança.

Um clássico que merece ser descoberto ou redescoberto por apreciadores de histórias policiais e de detetives, um noir de raiz.

Chinatown

Nome Original: Chinatown
Direção: Roman Polanski
Elenco: Jack Nicholson, Faye Dunaway, John Huston, Perry Lopez, John Hillerman
Gênero: Drama, Mistério, Thriller
Produtora: Paramount Pictures
Distribuidora: Paramount Pictures
Ano de Lançamento: 1974
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