O Corpo é Nosso! A luta feminina pelo próprio corpo
Através de uma pesquisa ficcional feita por um jornalista (Renato Góes), O Corpo é Nosso! analisa a objetificação dos corpos femininos, e também a sua liberdade. Começando pelo funk, onde as mulheres são donas dos seus corpos e da sua sexualidade; passando pela pílula anticoncepcional; pela independência financeira feminina e pela prisão do culto ao corpo, a equipe entrevista diversos especialistas para nos falar sobre a luta feminina para ter direito sobre seu próprio corpo.
Documentário com ficção
O Corpo é Nosso! se define como um documentário e ele de fato o é, mas também é um documentário diferente. Para apoiar a ideia que o filme quer passar, a diretora Theresa Jessouroun também usa de uma história ficcional, que em diversos momentos reflete o que os entrevistados do documentário estão falando. Na parte ficcional do filme, acompanhamos um jornalista, homem, que precisa fazer uma matéria sobre o feminismo e que se sente completamente perdido no assunto. Ele então, começa a estudar o movimento e suas reivindicações. Assim, vai entendendo cada vez mais pelo que as mulheres lutam.
Ao longo do filme, ele também reencontra Maria de Fátima (Roberta Rodrigues), sua primeira paixão, que era empregada da casa dos seus pais. Esse é o momento perfeito para falarmos não só das diferenças que homens e mulheres têm na sociedade, mas também das diferenças entre as classes sociais e como esse abismo é ainda maior quando falamos de uma mulher negra e pobre, como é o caso de Maria de Fátima.
É interessante notar que, tanto o jornalista quanto seu chefe (Oscar Magrini) fazem comentários machistas de vez em quando, mesmo que sejam piadas ou que soem inofensivos. Mas essa atitude vai mudando conforme ele conhece mais da luta feminina.
O corpo feminino
O movimento feminista fala de diversas questões e muito provavelmente seria difícil colocar todas elas em um filme só. Por isso, O Corpo é Nosso! se concentra em falar sobre os corpos femininos e os direitos das mulheres sobre eles. Parece até absurdo falar assim, mas a verdade é que o direito das mulheres a seu próprio corpo é constantemente questionado. Passando pelo aborto, que não é um assunto tratado no filme e chegando ao abuso sexual, abordado em O Corpo é Nosso!, o corpo da mulher é, com bastante frequência, ligado aos desejos, às vontades e as decisões masculinas.
O filme então, parte do funk, movimento musical surgido nas partes mais pobres da cidade, onde as mulheres podem exprimir sua própria sexualidade e seus desejos, mas não só isso, também fugir de padrões de beleza impostos pela sociedade. E comenta como, durante anos, a ideia de “mulher ideal” esteve ligada à sua castidade e delicadeza.
O doc também fala sobre a ascendência da mulher no mercado de trabalho e da pílula anticoncepcional, dois grandes marcos para a liberdade feminina. Claro que o documentário também fala sobre os diversos problemas que a sociedade, ainda machista e patriarcal, enfrenta. O culto ao corpo, por exemplo, mesmo que seja com a ideia do “saudável” é uma prisão moderna para as mulheres de hoje, da mesma maneira que a castidade era uma prisão para as mulheres antigamente, e o estupro, que apesar de todas as conquistas femininas e de toda a evolução da sociedade, mostra que muitos homens ainda acreditam terem poder e direitos sobre um corpo que não é o deles.
Aspecto técnicos de O Corpo é Nosso!
Este é um documentário que ilustra suas questões através de situações ficcionais vividas por personagens ficcionais. Ao mesmo tempo, acompanhamos especialistas de diversas áreas, como historiadores, antropólogos e funkeiras. Essa é uma forma interessante de se fazer um documentário. Afinal, não só fala sobre os seus temas, como também os demonstra, assim como as suas consequências, na prática. Fica mais fácil compreender e simpatizar com os temas em questão se eles aparecem na vida de uma pessoa, mesmo que essa pessoa não exista de verdade.
Por outro lado, essa técnica também deixa o filme um tanto quanto didático, o que pode incomodar algumas pessoas. Entretanto, isso não atrapalha a mensagem que o filme quer passar e nesse quesito, O Corpo é Nosso! é uma verdadeira aula de história e de feminismo.
Fica mais do que claro que as pessoas que dão depoimentos no filme sabem muito sobre o assunto. O espectador sai da sessão com a sensação de que ganhou muito mais informações do que tinha. Falar que o filme soa como uma aula pode dar a impressão de que é chato, mas é exatamente o contrário. É uma aula extremamente prazerosa, onde você nem sente o tempo passar.
Inegavelmente, o filme trata de um tema atual e necessário que precisa ser debatido, estudado e aprendido, por homens, mas principalmente, pelas mulheres.
O Corpo é Nosso! fica em cartaz somente na semana do dia 5 a 11 de setembro.