Carta Registrada, drama egípcio de diretor estreante
Em Carta Registrada, Hala é uma mulher casada, tem uma filha pequena, e mora na movimentada capital do Egito, Cairo. Da janela de seu apartamento, fumando um cigarro, ela consegue ver o movimento e ao comparar sua vida com a das demais pessoas em constante avanço, se vê deprimida. Ali, ela não mais vive, apenas respira, apenas sobrevive.
Presa dentro de sua mente, ela se vê em um conflito interno sem fim, mas que, como o famoso conto da vaquinha leiteira diz, algo seu precisa lhe ser tirado para que saia da zona de conforto e faça algo para mudar sua rotina. E é exatamente isso que acontece.
Com planos fechados e uma câmera que se movimenta muito, o filme por vezes mostra para onde os olhares da protagonista vão. Em outros momentos, movimentos esquizofrênicos denotam uma falta de ajuste da câmera com o que o diretor quer dizer. Dessa forma, um certo amadorismo presente em alguns filmes independentes se soma a este longa-metragem.
Carta Registrada
O diretor não constrói elipses, pelo contrário, passeia por todos os passos do dia a dia das personagens, o que muitas vezes torna-se cansativo. Cortes muito bruscos entre algumas mudanças de posição de câmera acabam deixando o filme maçante. Entretanto, por vez ou outra dentro do roteiro nos deparamos com cenas muito bonitas ou muito bem elaboradas, como por exemplo na cena de luto de alguém muito próximo a Hala e na cena em que Hala discute com sua irmã mais nova.
Hala luta com as pressões de ser mãe de primeira viagem, e luta contra pensamentos sombrios. O cineasta estreante Hisham Saqr começa o longa exatamente a partir deste fio condutor, onde Hala é hospitalizada aparentemente por tomar medicações a mais do que deveria. Essa conflituosa história permeia o quase vitimismo de Hala, perante problemas que todos tem, já que ela se nega a ir a um psiquiatra, deixando nas mãos de seu marido a preocupação com relação à sua saúde.
É quando por um simples erro em uma transferência bancária, ele é acusado de fraude e vai para o cárcere até ser provada sua inocência e Hala passa a morar temporariamente com sua mãe. Ela não consegue mais visitar a amiga e tem que conseguir um trabalho, e equilibrar relações não é sua melhor habilidade.
Um encontro com si mesmo
Ao voltar a morar com a mãe, ela se depara com a irmã de treze anos causando problemas, gerando mais um conflito em sua vida. Agora, com a amizade balançada porque sua amiga acredita que ela só recorre a amizade quando precisa pedir algo ou desabafar e nunca está lá quando ela mais precisa, seus pensamentos começam a ficar mais confusos até que encontra cartas diante da sua casa sem endereçamento e estas, levam a um encontro consigo mesma.
Dessa forma, a escuridão é passageira. É essa a real mensagem de Carta Registrada. Quando ela passa a enxergar seus conflitos escritos nas cartas, quando soluciona seus problemas familiares, encontra uma forma de resolver a situação de seu marido… também é a partir daí que enxerga a si mesma e assim, o filme termina com uma bela cena de encerramento.