Magical Mystery Tour, o terceiro filme dos Beatles
Em Magical Mystery Tour, Richard B. Starkey (Ringo Starr) está fazendo uma viagem de ônibus junto com sua tia (Jessie Robins), que acabou de ficar viúva. O ônibus também carrega algumas outras pessoas como Jolly Jimmy Johnson (Derek Royle) e Miss Wendy Winters (Miranda Forbes), que trabalham no tour, Buster Bloodvessel (Ivor Cutler), o condutor, além dos outros Beatles (Paul McCartney, John Lennon e George Harrison).
Tudo parece correr relativamente bem na viagem, até que eles encontram um grupo de cinco mágicos (interpretados pelos Beatles e por Mal Evans), que vai deixar a viagem ainda mais maluca. Magical Mystery Tour é o terceiro filme dos Beatles.
Inspirações para Magical Mystery Tour
É bem difícil sequer explicar um filme como Magical Mystery Tour, uma vez que ele não tem exatamente uma trama e, assim como boa parte dos filmes dos Beatles, funciona basicamente porque é estrelado pelos músicos.
Todos os envolvidos no projeto afirmam que a ideia partiu de Paul McCartney, mas ele diz que não foi o único a pensar no projeto. O ônibus, que naturalmente se chama Magical Mystery Tour, é inspirado em viagens de ônibus de Liverpool até Blackpool, onde acontece até hoje, um festival de luzes.
O resto do filme, no entanto, foge desse padrão. A trama, na verdade, é uma junção de cenas malucas, separadas por clipes musicais dos Beatles. Muitas das cenas vieram de sonhos e de ideias malucas dos integrantes da banda, como por exemplo, John Lennon vestido de garçom colocando espaguete sem parar no prato de Tia Jesse, a tia de Ringo.
Uma viagem mágica e misteriosa
A questão com Magical Mystery Tour é que ele é um filme muito maluco. O longa foi feito no auge da psicodelia dos anos 60 e quando os Beatles estavam envolvidos com drogas alucinógenas. Nenhum deles nunca comentou a relação entre as drogas e o filme, mas parece uma conclusão lógica.
No entanto, o tema maluco faz sentido dentro da trama que o filme apresenta e no contexto do que ele se predispõe a fazer. O próprio título já diz que estamos acompanhando uma viagem mágica e misteriosa, então, nada mais natural que nos deparemos com uma série de situações bizarras pelo caminho.
É verdade que muitas dessas coisas de fato acontecem no filme, como por exemplo, a aparição dos magos, mas muitas dessas coisas acontecem somente em sonhos e são mostradas com uma atmosfera onírica, o que deixa o roteiro livre para fazer o que bem entender.
Psicodelia dos anos 60
O filme também tem muitos aspectos dos anos 60 e mais especificamente, de 1967, quando o filme foi lançado. Se os primeiros filmes dos Beatles como Os Reis do Iê, Iê, Iê, tem um aspecto e uma trama inocentes, o que combinava com a época em que foram lançados, Magical Mystery Tour não parece preocupado em passar a imagem de bons moços dos Beatles.
Ele ressalta elementos da cultura hippie, da revolução de costumes e até do fascínio dos anos 60 pelas drogas. Não poderia fazer mais sentido, uma vez que tanto o filme, quanto a música dos Beatles, parece ser consideravelmente influenciado pela sua época.
Aspectos técnicos
Magical Mystery Tour foi originalmente pensado como um filme para TV, mas ele não tem muitos daqueles aspectos que deixam claro que o filme teve esse propósito. O longa parece pensado para o cinema.
Como todos os filmes dos Beatles, este se escora muito na personalidade e na simpatia dos integrantes da banda, afinal, é natural que uma pessoa que vá assistir um filme dos Beatles, goste pelo menos um pouco da banda. Por isso, o filme não é extremamente preocupado com seu roteiro ou seus aspectos técnicos, uma vez que isso vai passar despercebido por grande parte do público que está ali apenas acompanhando o seu Beatle favorito.
Magical Mystery Tour peca um pouco no seu roteiro, sua trama não é especialmente trabalhada e parece ter sido feita para agradar os Beatles e colocar cenas que eles gostariam de interpretar, uma vez que diferentemente de Os Reis do Iê, Iê, Iê, que é de longe o melhor filme dos Beatles, na época de Magical Mystery Tour eles já tinham tomado as rédeas de suas carreiras e já pensavam em projetos mais autorais.
The magical mystery tour is coming to take you away…
Um filme feito nos anos 60 e que utiliza de elementos mágicos e fantásticos, poderia facilmente ter envelhecido mal, mas não é o caso, uma vez que Magical Mystery Tour quase não tem efeitos especiais e muitas das cenas fantásticas são feitas de maneira simples, com os personagens usando fantasias e máscaras. Ele pode ter, sem dúvida nenhuma, uma aura dos anos 60, mas não é um filme que vá causar risos em função dos seus efeitos.
Naturalmente que quando você é um Beatle e está estrelando um filme, você não precisa ser um grande ator. E de fato, nenhum dos quatro é. Isso não é exatamente um problema, já que em todos os filmes, os Beatles interpretam, basicamente, versões mais divertidas de si mesmos, exagerando alguns aspectos das suas próprias personalidades. Dessa forma, John é sempre o engraçadinho, Paul, o sedutor, George, o tímido e Ringo é sempre um pouco melancólico.
É uma fórmula que funciona simplesmente porque é o que a audiência quer ver. Ninguém quer assistir um John Lennon depressivo e um George Harrison falante. Sempre queremos ver nossos ídolos como os imaginamos. Magical Mystery Tour tem aquele humor cínico e irônico clássico dos Beatles, que está presente em todos os filmes da banda e, inclusive, em algumas entrevistas.
As músicas
As músicas que fazem parte da trilha sonora são as mesmas que estão no disco de mesmo nome. Nesse aspecto, Magical Mystery Tour não é um musical clássico, onde as músicas ressoam nas cenas e na trama.
As músicas usadas no filme, embora sejam interpretadas em cenas, não tem qualquer relação com a trama que é apresentada e parecem mais como videoclipes dos Beatles. Inclusive elas de fato são videoclipes até os dias de hoje. Tudo isso contribui para a sensação do telespectador de que Magical Mystery Tour é quase um filme surreal.
Entre as músicas que estão no filme, temos The Fool on the Hill, I Am the Walrus, Blue Jay Way, Your Mother Should Know, Hello, Goodbye e claro, Magical Mystery Tour. O filme também tem algumas músicas instrumentais que usam pedaços de músicas antigas dos Beatles e Death Cab for Cutie, uma música que nem é da autoria dos Beatles interpretada por Bonzo Dog Doo-Dah Band.
A trilha sonora do filme é muito boa, assim como as cenas que mais tarde se tornariam videoclipes. Entretanto, justamente por isso, o filme foi extremamente criticado. Para as pessoas, a música era muito melhor que o filme e boa parte das cenas do filme não combinavam com o que era cantado.
O legado de Magical Mystery Tour
Na época de seu lançamento, o filme foi muito criticado, ninguém pareceu entender muito bem qual era o seu sentido. Além disso, o longa, que foi filmado em cores, foi transmitido na TV em preto e branco. Isso prejudicou muito sua execução, afinal, Magical Mystery Tour é um filme colorido e psicodélico, que tem muito menos graça sem cores mesmo.
Com o tempo, no entanto, Magical Mystery Tour acabou se tornando um clássico. Ele acabou sendo reconhecido como um filme nonsense irônico, com um humor que mais tarde faria muito sucesso nas mãos do grupo inglês Monty Python.
O filme virou uma história em quadrinho, feita por Bob Gibson e que foi impressa no disco que trazia a trilha sonora do filme. Ele também virou motivo de piada para os Rutles, uma esquete de comédia do Monty Python que parodiava os Beatles e que no final, também acabou virando uma banda. Na versão deles, o filme se chama Tragical History Tour.
O Magical Mystery Tour, literalmente, também está presente no musical Across The Universe, filme composto só de músicas dos Beatles e que faz uma série de referências à banda. Além disso, esse também é o nome do tour em Liverpool que percorre todas as locações que foram importantes na história dos Beatles, como Penny Lane, Strawberry Fields e o Cavern Club.
Magical Mystery Tour está longe de ser o melhor filme dos Beatles, mas apresenta uma boa trilha sonora e um humor interessante. Seu aspecto nonsense pode agradar alguns dos telespectadores, no entanto, ele é indispensável para os fãs dos Beatles e de música.