Dunkirk: tenso, sufocante e tecnicamente impecável
Produção realiza tratamento impessoal de recorte histórico
Todo diretor renomado sempre acredita que precisa de ao menos um “filme de guerra” para constar no currículo e com isso, talvez, atingir patamares mais sérios em seu meio. Foi assim com Steven Spielberg, Mel Gibson, Quentin Tarantino, Francis Ford Coppola, Stanley Kubrick, Roman Polanski, Clint Eastwood, Ridley Scott e mais recentemente Sam Mendes. Christopher Nolan embarca no gênero, retratando agora os eventos durante a evacuação das forças britânicas e francesas das praias de Dunkirk, na França, enquanto as tropas são rechaçadas pela Alemanha.
Cada momento é enquadrado de maneira quase documental e com uma execução praticamente cirúrgica. Repare na forma como a câmera é colocada no cais, na proa e sobre o painel de um avião. O diretor realiza um filme grandioso em sua parte técnica, sustentado principalmente pela trilha sonora formidável de Hans Zimmer (já acostumado a produções do tipo).
O longa é repleto de senso de gravidade, alertando do perigo iminente a todo instante. É uma trama que não deixa o espectador respirar aliviado, nem prender a respiração. Dessa forma, Nolan joga o público para dentro da ação ou da expectativa de uma cena silenciosa a todo instante, fazendo com que as experiências de batalha ou de aniquilação sejam ainda mais perturbadoras.
Dunkirk
Por outro lado e diferentemente de seus comparsas no gênero, o diretor não fetichiza mortes nem mutilações e só mostra o que é necessário e esperado em um filme assim. Até mesmo a escolha de não mostrar o rosto do inimigo é uma construção racional. As explosões e tragédias são terceirizadas por aqui, sendo vistas na maior parte das vezes à distância, de algum sobrevivente que só serve como espectador.
Nolan também volta a investir na narrativa não-linear, separando a linha do tempo em três (uma hora para um núcleo, um dia para outro e uma semana mais um), que nunca exatamente fica claro, mas mesmo no meio da confusão dos eventos a história se faz entender, ainda que as possibilidades dessa mistura temporal sirvam para deixar o enredo mais intrigante próximo do fim.
Elenco
Mas Dunkirk não é um filme que desperte qualquer conexão emocional com seus personagens, ainda que os esforços de Mark Rylance e Kenneth Branagh sejam valorosos dentro do campo pessoal, as participações de Tom Hardy, Fionn Whitehead, Harry Styles, Barry Keoghan, Jack Lowden e Cillian Murphy são apenas operantes, ora para puxar o público para dentro de um barco afundando, ora para evidenciar a psique de suas figuras trágicas.
Entretanto, nunca são realmente pessoas com quem realmente nos importamos, como Capitão John Miller Jr., Desmond Doss, Władysław Szpilman ou pasmem, até mesmo o Capitão Danny Walker. Com Dunkirk, Nolan quis mesmo provar suas capacidades técnicas mais uma vez e que é capaz de explodir uma bomba na praia, sem precisar pisar na areia.