Amor em Tempos de Ódio – A guerra muda todo mundo
Leyna (Amandla Stenberg) é uma adolescente filha de mãe branca (Abbie Cornish) e pai negro, vivendo na Alemanha nazista. Embora ela, aparentemente, não seja um alvo direto, ela vive apavorada com o que acontece ao seu redor. Amor em Tempos de Ódio é inspirado em fatos reais.
Quando a menina conhece Lutz (George MacKay), filho de um oficial nazista (Christopher Eccleston) e membro da juventude hitlerista e se apaixona por ele, os dois parecem dispostos a correr todos os perigos para viver esse amor.
O que tem de diferente nesse filme são as circunstancias onde tudo acontece. Primeiro que os dois jovens vivem em plena Alemanha nazista, o que por si só já seria um problema, mas além disso, Lenya é uma jovem negra e Lutz, um integrante da juventude hitlerista.
Amor em Tempos de Ódio
A história então toma contornos de um Romeu e Julieta modernizado. Todos os problemas que surgem no caminho dos dois derivam da situação peculiar em que eles se encontram. Naturalmente que o amor entre uma garota negra e um jovem alemão nos anos de guerra é extremamente proibido, tanto pelo estado, que quer que Lenya seja esterilizada, quanto pelo pai de Lutz, quanto pela mãe de Lenya, que acha que a filha está buscando um problema desnecessário.
No entanto, nenhuma dessas coisas consegue barrar a paixão entre Lenya e Lutz. Eles são obrigados a se encontrarem escondidos e fazer planos sem que ninguém mais saiba. O filme ainda leva o telespectador a fazer ouros questionamentos. Lutz, que vem sendo criado como nazista, deveria repelir Lenya, mas mesmo assim, se sente atraído por ela, enquanto Lenya não tem qualquer motivo para gostar de um jovem nazista, mas também não consegue evitar de se apaixonar por Lutz.
A guerra
Mas o amor de Lenya e Lutz não é um primeiro amor qualquer, é um pouco mais complexo, uma vez que se vê de frente a uma guerra terrível, que persegue tudo que é diferente. Lenya pode não ser o alvo principal do nazista, mas não se encaixa nos ideais criminosos de raça pura deles. Já Lutz está dentro disso e inclusive faz parte do sistema, mas corre tanto risco quanto Lenya a partir do momento que resolve viver esse amor.
Quando vamos conhecendo mais da família de Lutz, percebemos, pelo menos a princípio, que o pai dele não concorda com todos os preceitos de Hitler. Ele nada com a maré por questão de sobrevivência, e parece não se importar com a possibilidade de o filho estar apaixonado por uma jovem negra, mas sim com a possibilidade de ele ser descoberto e punido por isso. Entendemos então, que Lutz não foi criado dentro dos ideais nazistas, mas que como o seu pai diz, eles usam uma máscara que os deixam invisíveis.
A situação deixa o público com muitos questionamentos, primeiro porque se eles usam uma máscara e conseguem convencer todo mundo com ela, fica implícito que eles fazem parte da maioria e que, portanto, não são atingidos pelas ações daquele governo. Lutz e o pai são alemães e dificilmente seriam perseguidos, mesmo que tivessem escolhidos ficarem de fora da guerra.
Tempos de guerra
O segundo questionamento é sobre as ações dos dois. Não é que eles sejam apolíticos, fiquem no canto deles e fechem os olhos para a situação, o que já seria bem ruim, mas eles participam de um jeito ou de outro. Essa opinião piora um pouco com o tempo, quando percebemos que o pai de Lutz está cada vez mais comprado pelas ideias de Hitler.
Amor em Tempos de Ódio funciona então, para mostrar ao telespectador o que acontece em tempos de guerra. Lutz e o pai se sentem obrigados a fingirem ser o que não são para sobreviver, até o momento em que não precisam fingir mais. Da mesma maneira que seria até possível tentar justificar a adesão de Lutz a juventude hitlerista com o argumento de que ele é jovem e, portanto, facilmente impressionável e que talvez ele não dimensionasse tudo que o discurso nazista abrange.
Mas é um pouco mais complicado justificar as ações de seu pai, um homem adulto, que a princípio, nem parece tão seduzido pela ideologia. A guerra é um tempo tão extremo que é capaz de mudar qualquer pessoa e o filme mostra isso com bastante clareza.
Aspectos técnicos de Amor em Tempos de Ódio
O filme é relativamente simples, não teve uma grande produção e nem muita projeção. No entanto, é uma produção cuidadosa que alcança o que deseja. Tem uma boa caracterização, tanto na sua localização, que retrata a Berlim dos anos 40, quanto nos figurinos, maquiagens e penteados. Tudo parece bem realista e coloca a audiência dentro da época que é retratada.
Outro ponto alto do filme são as atuações, tanto de seus coadjuvantes, que se saem bem em seus papeis, quanto dos dois protagonistas. Stenberg e MacKay estão muito bem e carregam o filme nas costas, o que ajuda muito é que eles têm muita química, e é muito fácil torcer pelo casal.
A atuação de MacKay também é muito competente no sentido de nos fazer gostar de Lutz, mesmo que saibamos em que tipo de sistema ele está ativamente envolvido. O telespectador tem a sensação de que ele é um inocente, que acabou envolvido em uma guerra que nada tem a ver com ele, mais ou menos como Lenya.
O primeiro amor
O filme é interessante porque consegue retratar a delicadeza do primeiro amor em um cenário tão bruto e tão terrível quanto o de uma guerra. E essa sensação se agrava mais ainda quando imaginamos um romance entre uma garota negra e um jovem nazista, na segunda guerra mundial.
No entanto, o filme tem pequenas questões, como por exemplo, a maneira com que mostra a relação dos dois protagonistas. É compreensível que o longa tenha muitos assuntos para tratar, e que precise colocar todos eles em um tempo curto, mas o relacionamento entre Lenya e Lutz se desenvolve de uma maneira um pouco rápida.
O telespectador fica com a sensação de que perdeu alguma coisa, uma vez que um dos pontos altos de Amor em Tempos de Ódio é o romance entre os jovens e como ele dá uma proposta diferente ao tema da segunda guerra mundial, então seria interessante assistir mais disso.
Amor em Tempos de Ódio examina um tema que já foi filmado diversas vezes, mas apresenta uma história e um ponto de vista que é muito diferente e inovador.