Byzantium: Uma Vida Eterna, sem clichês e sem presas
Um tira gosto de Anne Rice, mas sem Anne Rice
Neil Jordan retorna ao universo dos vampiros, depois do já clássico “Entrevista com o Vampiro”, em uma produção caprichada que coloca o patriarcado contra o avanço de duas mulheres através dos séculos, quase emulando a interação entre Claudia e Madeleine da adaptação de Anne Rice. Byzantium começa estranho e truncado e só diz a que veio quando chega ao segundo ato. Dessa forma, mostra um tratamento arrojado no texto e na cenografia, com bela direção de arte nas poucas cenas de flashback.
Talvez tentando evocar o sucesso do passado (irrecuperável), Jordan busca algumas dinâmicas semelhantes. Assim como a estrutura não-linear do enredo; a narração em off com teor literário; as idas e vindas no tempo se misturando em uma convergência quase abstrata e as figuras melancólicas que pelo ambiente desolado caminham (dessa vez na Irlanda do Norte).
Agora, ao invés de “vampiros”, as criaturas são chamadas de “Sucrientes”. Não é a mordida que leva à transformação. Para tal, precisa-se estar moribundo e visitar uma ilha remota, indo ao encontro do tal Santo Sem Nome. E ainda tem toda uma sociedade secreta atrás da Fraternidade, que só fica nisso mesmo e não é explorada além.
Byzantium: Uma Vida Eterna
Byzantium então, acaba sendo um filme que ganha muito mais pelo drama proposto e principalmente pelo elenco, do que pela sugestão de enredo que fica mais na promessa do que na entrega. Enquanto Gemma Arterton é uma maliciosa e voluptuosa vampira saída diretamente do cinema B, a sempre excepcional Saoirse Ronan brilha sozinha na interpretação clássica do monstro retraído, que quer contar para o mundo a sua história, mas não tem voz na multidão.
São sensíveis e belas as sequências onde ela chega como um “anjo da morte” para levar os idosos condenados e sem esperança, mostrando que a maneira de agir aqui também diverge de outros clichês do gênero. Tom Hollander, Jonny Lee Miller e Daniel Mays têm seus momentos de importância, mas é Caleb Landry Jones que oferece um diferencial como contraponto humano na trama, permitindo toda uma carga dramática à parte, que dá substância aos objetivos de sua protagonista.
Afinal, o amor pode ser eterno e Neil Jordan estará para sempre por aí narrando essas histórias.